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Folha de S.Paulo

Bortolotto dirige peça sobre amizade e mágoas

1.5.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

TEATRO 

Reencontro de triângulo amoroso é tema de “Tape”, de Belber, que estréia amanhã
Espetáculo que entra em cartaz no teatro Sérgio Cardoso põe três amigos de colégio num quarto de hotel passando histórias a limpo

Reencontro de triângulo amoroso é tema de “Tape”, de Belber, que estréia amanhã

Espetáculo que entra em cartaz no teatro Sérgio Cardoso põe três amigos de colégio num quarto de hotel passando histórias a limpo 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Um mal-ajambrado triângulo amoroso de dez anos atrás implode de vez no reencontro de dois rapazes e uma garota que se conheceram no colegial. 
 
Encerrados no quarto de um hotel, eles passam a limpo as mágoas juvenis que, sobretudo nos homens, deixaram um travo na garganta. 
 
“A peça fala de amigos magoados”, diz o diretor Mário Bortolotto, 45. Magoados porque Vince namorou com a moça, mas foi Jon quem transou com ela, como está amarrado em “Tape”, do americano Stephen Belber, produção independente (leia-se sem patrocínio ou prêmios) que a Cia. Provisório-Definitivo estréia amanhã, no teatro Sérgio Cardoso. Jon virou cineasta. Vince, traficante. E Amy, o vértice amoroso, advogada. Ela surge da metade em diante, quando Vince já “pegou pesado” com a cocaína e com o ardil que arma para o “muy amigo”, convencendo Jon de que aquele sexo “selvagem” com Amy na verdade foi um “estupro”. Às agressões física e verbal, misturam-se culpas e hipocrisias nem sempre sinceras. 
 
Até que Amy bate à porta do quarto, conforme a bem bolada articulação de Vince, que tomou o cuidado ainda de gravar toda a lábia confessional de Jon sobre remorsos do passado. A fita cassete, convertida a “prova do crime”, expõe ainda mais o ridículo a que os homens estão se submetendo. 
 
“Quando a mina entra na parada, ela arrebenta com os dois. Eu entendo o sentimento egoísta deles”, diz Bortolotto. 

Identificação com Belber
Diretor convidado, ele identificou-se com a dramaturgia de Belber, de frases curtas, de não-julgamento dos personagens. A tônica é do seu grupo, o Cemitério de Automóveis, já que também adaptou o texto e assina desenho de luz e trilha. 
“A inversão de papéis nos chamou a atenção: o mocinho que tem lá o seu lado obscuro e o sujeito aparentemente obscuro que mostra seu lado ingênuo”, diz o ator Pedro Guilherme, 27, que contracena com Marcelo Selingardi (Vince) e Carolina Fauquemont (Amy). 
 
Quem sugeriu a montagem de “Tape” foi o ator Henrique Stroeter, dos Parlapatões, que assistiu à versão para o cinema da peça de Belber (de 1964), sob roteiro do próprio, pelo diretor Richard Linklater, em 2001, com Ethan Hawke e Uma Thurman no elenco. 
 
A Cia. Provisório-Definitivo foi criada em 2001 e costuma trabalhar com textos realistas nas produções para o público adulto. Entre os espetáculos, estão “Verdades, Canalhas”, de Mário Viana, “O Colecionador”, de John Fowles, “Bulgóia, Repenique & Tropeço”, de Hugo Possolo e Arnaldo Soveral, e “Todo Bicho Tudo Pode Sendo o Bicho que se É”, de Pedro Guilherme. 



Peça: Tape
Onde: teatro Sérgio Cardoso -sala Paschoal Carlos Magno (r. Rui Barbosa, 153, tel. 3288-0136) 
Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às 21h30, e dom., às 20h; até 29/6 
Quanto: R$ 10 a R$ 20 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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