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Folha de S.Paulo

Companhia colombiana abre mostra politizada

5.5.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

TEATRO 

Gratuita, 3ª Mostra de Teatro de Grupo acontece de hoje a domingo, no CCSP
La Candelaria, criada há 42 anos em Bogotá, procura interpretar a realidade sociopolítica por meio de caminhos poéticos

Gratuita, 3ª Mostra de Teatro de Grupo acontece de hoje a domingo, no CCSP

La Candelaria, criada há 42 anos em Bogotá, procura interpretar a realidade sociopolítica por meio de caminhos poéticos 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local

“Toda arte é envolvida pela política, assim como a vida”, diz o diretor Santiago García, 79. Elementar, vindo do co-fundador do grupo Teatro La Candelaria, surgido há 42 anos no bairro homônimo de Bogotá.
 
La Candelaria é exemplo de companhias da América Latina convictas em revelar a realidade sociopolítica por meio de caminhos poéticos da cena. Daí sua presença-chave na abertura da 3ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, que a Cooperativa Paulista de Teatro realiza de hoje a domingo no Centro Cultural São Paulo, com entrada franca.
 
Os grupos apresentam uma peça e, no dia seguinte, demonstram seus modos de criação. São seis estrangeiros (entre eles o equatoriano Teatro Malayerba e o português A Barraca, como convidado especial) e cinco do Brasil (como a mineira Cia. de Teatro Ícaros do Vale, do Vale do Jequitinhonha, dirigida por João das Neves, ligado ao Centro Popular de Cultura e ao Teatro Opinião nos anos 60).
 
O espetáculo que o La Candelaria traz, “El Paso (Parabola del Camino)”, nasceu há 20 anos. Foi movido, em parte, por crítica ao “poder imperialista” dos EUA na região, caso do controle sobre o canal do Panamá (1914-1999). Em duas décadas, porém, os colombianos adensaram a dramaturgia para o seu próprio contexto de violência gerada pelo narcotráfico.
 
A ação se passa numa taberna nos confins; local ermo, cruzamento de quem ali vive (a dona, a prostituta, o gigolô, o garçom, uns músicos) com os que estão de passagem. A chegada de dois estranhos instaura tensão percebida por gestos e silêncios, costurando drama, comédia, farsa e melodrama.
 
“Ocorre uma série de estranhos acontecimentos. Pouco a pouco, eles se apoderam e corrompem a todos”, diz García. O diretor também divide o palco com 12 atores. Para ele, a criação coletiva “não é um método, mas uma atitude” que herdou de artistas e pensadores como o conterrâneo Enrique Buenaventura (1925-2003) e o uruguaio Atahualpa del Cioppo (1904-1993).
 
Entre os encontros paralelos da mostra, acontece hoje, às 17h, debate com gestores culturais representantes de Brasil, Argentina, Cuba, Colômbia, Equador e Venezuela sobre políticas públicas para o setor.
 

Amanhã, das 9h30 às 13h, está programado o Encontro Latino-Americano da Organização Internacional de Cenógrafos, Técnicos e Arquitetos Teatrais do Brasil e da Associação Brasileira de Iluminação Cênica. Uma mesa formada por profissionais de cada grupo trata do tema “Transnacionalidade: Causas e Efeitos em Intercâmbios Culturais”. O objetivo é refletir sobre as relações de trabalho entre os países e as influências de outras culturas.

 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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