Artigo
9.10.2012 | por Valmir Santos
O teatro brasileiro viu crescer nos últimos 15 anos os espetáculos criados e produzidos em grupo. Isso evidencia uma admirável disposição dos artistas para a pesquisa permanente de conteúdos e formas de expressão. Em geral, o teatro de grupo possui ambições diferentes daquele com elencos avulsos, arregimentados por um diretor ou produtor, que prioriza o entretenimento convencional e a casa cheia.
Há três décadas coordenando o Centro de Pesquisa Teatral no Sesc-SP, o diretor Antunes Filho figura entre os precursores dessa tendência, que seduz cada vez mais a crítica e o público. Hoje, o fenômeno dos coletivos se espalha não só por São Paulo, onde se destaca o Teatro da Vertigem, mas também por cidades como Rio de Janeiro (Companhia dos Atores), Belo Horizonte (Galpão), Porto Alegre (Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz), Curitiba (Companhia Brasileira de Teatro) e Campinas (Lume).
A ascensão dos grupos tem a ver com políticas públicas semelhantes às que vigoram em países europeus desde o fim da Segunda Guerra, quando as artes passaram a ser subvencionadas pela maioria dos governos. O ato deflagrador das mudanças no panorama brasileiro foi a decretação da lei 13.279, que instituiu em 2002 o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Fruto da reivindicação de trupes jovens e veteranas, reunidas em torno do Movimento Arte Contra a Barbárie, a Lei de Fomento contemplou 312 projetos em dez anos. Os R$ 101,3 milhões desembolsados pela Secretaria de Cultura deram um mínimo de dignidade ao trabalho dos criadores e multiplicaram os espaços alternativos pela capital paulista, atraindo novas plateias. Paralelamente ao gradativo apoio governamental, esse tipo de teatro despertou o aval de empresas como a Petrobras e de instituições privadas, como o Sesc nacional e o Itaú Cultural.
Se o segmento inovou na atuação e na ocupação de espaços não teatrais, inclusive a rua, ainda lhe falta o mesmo fôlego na dramaturgia. É como se a ênfase coletiva ofuscasse a voz do autor. Entre as raras exceções, estão Newton Moreno, do grupo Os Fofos Encenam (Memória da cana), e Leonardo Moreira, da Companhia Hiato (O jardim), ambos de São Paulo, além de Grace Passô, do Espanca! (Por elise), de Belo Horizonte. Um trio que jamais deixou de considerar a palavra seminal na poética da cena.
>> Artigo originalmente publicado na edição número 182, de outubro de 2012, da revista Bravo!, relativa ao seu 15º aniversário.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.