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Crítica

‘Pangeia’ une dança do Recife e teatro da Galícia

22.1.2015  |  por Mateus Araújo

Foto de capa: Wellington Dantas

Os intercâmbios entre companhias pernambucanas com outros grupos de fora do Estado e do País têm possibilitado a criação de espetáculos de relevantes propostas cênicas, nos últimos anos. A mais recente montagem, primeira estreia do Janeiro de Grandes Espetáculos, é Pangeia, trabalho dos grupos Acaso e Limiar (Galícia) que une dança, música e teatro numa encenação extremamente contemporânea. O espetáculo, que reflete um amadurecimento da companhia pernambucana, foi encenado sábado (17) e domingo (18) no Teatro Hermilo Borba Filho.

Pangeia foi o supercontinente que, há 200 milhões de anos, deu origem à atual divisão global – Europa, Ásia, África, América, Oceania e Antártida. No espetáculo com dramaturgia de Barbara Aguiar e Fran Núñes, Pangeia se justifica pela universalidade que existe entre diferentes povos de culturas diferentes. É uma peça que fala das coisas em comum entre Portugal, Brasil e Espanha.

Este é o terceiro trabalho do Acaso, que estreou com Para Josefina (2012) e pelo universo infantojuvenil com O tempo perguntou ao tempo (2014), achando uma maneira de colocar a dança contemporânea e o popping em contraponto a outras estéticas e escolas de dança, como o balé. E o que se vê em cena é um pensamento artístico cada vez mais bem definido da companhia: a aposta na integração entre várias linguagens de maneira que o resultado leva ao palco uma experimentação plausível e instigante. É, sem dúvida, o espetáculo mais adulto da carreira do Acaso.

O encontro com o Limiar possibilitou a Pangeia uma encenação ainda mais teatral. O talento dos atores galegos Coco Castro, Fran Núñez, Manuel Polo e Hugo Rodríguez engrandece a montagem. Eles têm uma interpretação despojada, bem humorada e ao mesmo de uma técnica de improviso apuradíssima, que complementam a dança das brasileiras Bárbara Aguiar, Ana Catarina Maia e Karol Nurza. Esta última, inclusive, uma boa atriz, que cresce no palco na cena em que interpreta um peão de rodeio.

A história se faz de quadros, pinçando as tais situações de encontros entre os três países. São muitos recortes e falta, porém, uma costura mais concreta desses fragmentos, que por vezes parecem perdidos na cena ou até redundantes. O grande trunfo do espetáculo, entretanto, é a trilha sonora ousada e pulsante executada ao vivo pelos atores, criada a partir de vozes, experimentos sonoros e batidas eletrônicas.

.:. Publicado originalmente no Jornal do Commercio, Caderno C, em 19/1/2015.

Formou-se em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco e cursa o mestrado em Artes Cênicas na Universidade Estadual Paulista (Unesp), desenvolvendo uma pesquisa sobre masculinidade no teatro, com foco na obra do Grupo Magiluth. Escreve para a Folha de S. Paulo, UOL Entretenimento e revista Continente. Foi repórter de cultura do Jornal do Commercio, de 2011 a 2016, e titular do blog e da coluna Terceiro Ato. Integrou o núcleo de pesquisa da Ocupação Laura Cardoso (2017), do Itaú Cultural. Coordena a equipe de comunicação da SP Escola de Teatro. E é membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro (AICT-IACT).

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