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Reportagem

Reinvenções da linguagem do circo

19.5.2015  |  por Fábio Prikladnicki

Foto de capa: Circo Girassol/Divulgação

Respeitável público, atenção para os números de circo do 10º Festival Palco Giratório Sesc/POA: nada menos do que 10 espetáculos colocam em cena, a partir desta terça-feira (19/5), palhaços e técnicas de picadeiro. Dessas atrações, oito são do Rio Grande do Sul, resultado de uma efervescência que tem se consolidado nos últimos 15 anos em cidades como Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Maria.

E tudo indica que essa movimentação crescerá. No mês passado, ocorreu o Santa Maria Sesc Circo, que retornará no ano que vem. Em 2014, houve a primeira edição do Festival de Circo de Porto Alegre, que também deve ter sua segunda edição em 2016.

É fato que a lona não é mais o único espaço circense. Também está nos teatros e nas calçadas. Na edição deste ano do Festival Palco Giratório, que oferece espetáculos de artes cênicas até o dia 31, as atrações ligadas ao circo serão apresentadas em palcos e na rua.

“Tenho acompanhado há muito tempo esse movimento em torno do circo no Estado. Neste ano, procuramos discutir a arte do palhaço inserida nas artes cênicas”, afirma Jane Schoninger, curadora do evento.

Referência nessa área no Rio Grande do Sul, o Circo Girassol celebra 15 anos estreando três espetáculos que oferecem uma amostra da diversidade de linguagens e técnicas trabalhadas pelo grupo. (leia quadro abaixo). Em sua sede, no bairro Bom Jesus, o Girassol realiza pesquisas para seus trabalhos e oferece atividades à comunidade. Sobre a evolução do grupo, o diretor Dilmar Messias observa:

“Começamos nossa trajetória engatinhando na questão da técnica circense, mas hoje temos um ótimo conceito no país. Agregamos ao nosso trabalho a música, além das técnicas circense e teatral. Então, conseguimos atingir certa liberdade criativa. O Circo Girassol pode oferecer, esteticamente, muito mais do que oferecia antes.”

As comemorações de 15 anos continuarão no segundo semestre, quando o Girassol pretende erguer uma lona – provavelmente no Largo Zumbi dos Palmares, em Porto Alegre – para reapresentar os espetáculos.

Desde criança, aprendemos a sentar de perna fechada, com o cabelo arrumado. (…) Qual é o ridículo que a mulher tenta esconder?

Mas a efervescência do movimento circense no Estado vai além da capital. Núcleos de pesquisa em diferentes cidades deram origem a uma cena descentralizada, resultando em pesquisas originais, como a das palhaças – assim mesmo, no feminino. É o caso de Odelta Simonetti, de Caxias, que apresentará, ao lado de Ana Fuchs, o espetáculo 1, 2, 3 e chá! (dias 26 e 27):

“Antigamente, não havia a figura da palhaça. Começamos a questionar o que constituiria uma comicidade feminina. Desde criança, aprendemos a sentar de perna fechada, com o cabelo arrumado. Mas o palhaço trabalha com o ridículo de cada um. Qual é o ridículo que a mulher tenta esconder?”.

As palhaças Odelta Simoneti e Ana Fuchs Gerônimo Bergmann

As palhaças Odelta Simoneti e Ana Fuchs

Para Mima Ponsi, coordenadora do Festival de Circo de Porto Alegre, a movimentação circense no Estado é algo “natural”, reflexto tardio de uma renovação que começou ainda nos anos 1980, com escolas de circo no Rio e em São Paulo. Segundo ela, ainda há um caminho a percorrer:

“Os artistas no Estado atingiram certa maturidade. Temos cursos para iniciantes e para nível intermediário. Mas os que estão em nível avançado precisam sair do Estado para se aperfeiçoar ou trazer alguém de fora para ensinar. Ainda não temos uma escola de referência ou um centro de documentação.”

3 X Circo Girassol

Veja os espetáculos da companhia que estreiam nesta semana no 10º Festival Palco Giratório, sempre no Teatro Sesc Centro (Avenida Alberto Bins, 665):

Chocola’j
Nesta terça-feira (19/5), às 19h
“Poema cênico” que combina circo e teatro para contar histórias e lendas da conquista dos povos indígenas na América Latina.

Nem Tudo pode ser perfeito, nem tudo pode ser bacana! Quero ver o palhaço sentado na praça assobiar e chupar cana!
Nesta quarta-feira (20/5), às 15h
Resultado das pesquisas do Clube de Palhaços do Circo Girassol, o espetáculo homenageia as grandes duplas cômicas da história.

Brinco de princesa
Nesta quarta-feira (20/5), às 19h
Trabalho solo com Débora Rodrigues trata das reminiscências de uma mulher como material expressivo, valendo-se de diferentes técnicas circenses.

Os ingressos custam de R$ 7 a R$ 20.

Outros espetáculos que utilizam linguagem de circo:

Estardalhaço não tem o hífen
Traço Cia. de Teatro (SC)
Domingo (24/5), às 16h, na Praça Brigadeiro Sampaio (início da Rua dos Andradas)

O descotidiano
Cia. do Relativo (SP)
Domingo, às 20h, no Teatro de Arena (Borges de Medeiros, 835)

Banana com canela
Teatro Vagamundo (RS)
Dia 25, às 10h e às 15h, no Teatro Sesc Centro

Amostra grátis
Ana Fuchs (RS)
Dia 25, às 20h, no Teatro de Arena

O lançador de foguetes
Grupo de Teatro de Pernas pro Ar (RS)
Dia 26, às 14h, na esquina das ruas General Câmara e Andradas

1, 2, 3 e chá!
Ana Fuchs e Odelta Simonetti (RS)
Dias 26 e 27, às 20h, no Teatro de Arena

Cabaré lange ri
Teatro Vagamundo (RS)
Dia 27, às 10h e às 15h, na Concha Acústica do Multipalco Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°)

.:. Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, p. 1, em 19/5/2015.

Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.

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