Reportagem
10.5.2015 | por Michele Rolim
Foto de capa: Victor Hugo Cecatto
Três heroínas da mitologia grega estão no espetáculo Trágica.3, que propõe uma releitura contemporânea dos mitos Antígona, Medeia e Electra. A montagem, com direção de Guilherme Leme, ocorre neste fim de semana no Teatro Renascença, dentro da programação do Palco Giratório, cuja 10ª edição segue até o dia 31 de maio.
Remexer e reler clássicos é uma paixão de Leme. Aqui, o ator paulista – com três décadas de carreira – se reencontra com clássicos da tragédia grega. Ele já interpretou Jasão em Medeamaterial, de Heiner Müller, na década de 1990, ao lado de Vera Holtz. Depois foi a vez de conduzir RockAntygona, em 2010, versão da obra de Sófocles.
Leme, quando dirige um espetáculo, busca estabelecer um diálogo com outras linguagens como as artes visuais, o teatro e a música contemporânea. Em Trágica.3, cada atriz toma para si uma destas linguagens para melhor explorar em cena fragmentos poéticos dos três mitos.
Em Medeia, Leme volta a trabalhar com o texto Medeamaterial, interpretado por Denise Del Vecchio em um cenário que explora a obra do artista plástico e iluminador americano James Turrel. São feitas projeções que representam os filhos da protagonista que se tornou conhecida por assassiná-los.
No texto Antígona, adaptado por Caio de Andrade, quem dá voz à mulher que desafia o poder vigente pelo direito de dar um enterro digno ao seu irmão é Letícia Sabatella. Com desenvoltura musical, ela explora a sonoridade, apresentando ao piano diversos tipos de cânticos e lamentos musicais, ao lado de seu marido, Fernando Alves Pinto, e do músico Marcello H.
A atriz Miwa Yanagizawa faz Electra, com adaptação de Francisco Carlos. Ela explora às artes performáticas, com um trabalho de grande resistência física. Na mitologia Electra induz o irmão a matar a própria mãe em vingança pela morte do pai.
As atrizes não se encontram em cena. São praticamente três monólogos independentes, mas dois deles contam com uma pequena participação masculina. Em Electra aparece a figura do irmão e em Antígona a do noivo. “O fio condutor é a estética contemporânea e o fato de serem três heroínas trágicas”, explica Leme. Apesar das personagens romperem o padrão da dramaturgia grega que inferiorizava os papéis femininos, Leme destaca que esta não é uma peça feminista. “A montagem não aborda questões de cunho político, é um conversa com o feminino”, lembra o diretor.
Depois que soube que havia vencido o edital no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro para montar o espetáculo, ele enfrentou em 2013 um dos momentos mais difíceis da sua vida: passou por um tratamento severo contra um câncer na garganta. Por complicações, acabou ficando dois meses internado no hospital. Hoje, totalmente curado, ele reconhece que este momento influenciou diretamente no processo de criação. “Nesse tempo que eu estava no hospital, enfrentando a minha tragédia pessoal, pensava nas tragédias que eu iria trabalhar em breve. Isso me trouxe um amadurecimento artístico”, finaliza.
O Palco Giratório segue até o dia 31 de maio em diversos espaços da cidade com ingressos entre R$ 7,00 e R$ 20,00. Informações no site, aqui.
.:. Publicado originalmente no Jornal do Comércio, caderno Viver, p. 1, em 8/5/2015.
Ficha Técnica:
Textos: Medeia, de Heiner Müller; Anttygona.2, de Caio de Andrade; e Electra.3, de Francisco Carlos
Concepção e direção: Guilherme Leme
Com: Denise Del Vecchio, Letícia Sabatella, Miwa Yanagizawa, Fernando Alves Pinto e Marcello H
Cenografia: Aurora dos Campos
Iluminação: Tomás Ribas
Figurino: Glória Coelho
Trilha sonora original: Fernando Alves Pinto, Leticia Sabatella e Marcello H
Visagismo: Leopoldo Pacheco
Tradução do texto Medeamaterial (Heiner Müller): Monique Gardenberg e Guilherme Leme
Vídeo Medeia: Gustavo Leme e Guilherme Leme (Delicatessen Filmes)
Coordenação de comunicação: Daniela Cantagalli
Programação visual e fotos: Victor Hugo Cecatto
Assessoria de imprensa: Adriana Monteiro
Produção executiva: Sílvia Rezende
Direção de produção: Sérgio Saboya
Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).