Reportagem
Na contracorrente da desvalorização do pensamento crítico em boa parte das sociedades, o “Idiomas – Fórum Ibero-Americano de Crítica de Teatro” marca importante tento. Em plena Curitiba, epicentro das tramas judiciais da Lava Jato , mas também um dos corações da resistência de estudantes e professores ante as truculências estaduais e federais. Na cidade que há 24 anos sedia um dos principais festivais do país (com suas contradições) e onde o espaço público experimenta levante artístico-cultural-cidadão de orgulhar o poeta Paulo Leminski (1944-1989), independente da casta conservadora que não larga o osso. É ali que na segunda semana de novembro dezenas de artísticas, pesquisadores, professores, gestores, jornalistas e outros profissionais afins compartilham publicamente – programação gratuita – caminhos e desafios da prática reflexiva.
Curadoras da primeira edição do “Idiomas”, as críticas Daniele Avila Small (revista eletrônica Questão de Crítica, Rio de Janeiro) e Luciana Romagnolli (site Horizonte da Cena, Belo Horizonte) observam “a importância de fortalecer a discussão sobre a crítica de teatro no país, incluindo outros interlocutores, e de nos abrir ao diálogo com países vizinhos de geografia e língua”, como sublinham no programa de mão.
Em Curitiba, o ‘Idiomas – Fórum Ibero-Americano de Crítica de Teatro’ discute teoria e prática do ofício e é precedido por apresentação de peças da Mostra DocumentaCena
O encontro que acontece de 11 a 13 de novembro na Caixa Cultural do centro curitibano compreende os seguintes temas e participantes:“Poderes e legitimações da crítica de teatro”, com os críticos Bernardo Borkenztain (Revista Dossier, Montevidéu), Welington Andrade (Revista Cult, São Paulo) e a encenadora Sueli Araújo (CiaSenhas de Teatro, Curitiba); “Crítica de curador e de pesquisador”, com a curadora Paula de Renor (Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco, Recife), o jornalista e assistente técnico Rodrigo Eloi da Silva (Gerência de Artes Cênicas do Sesc, São Paulo) e a jornalista e pesquisadora Michele Rolim (site Agora Crítica Teatral, Porto Alegre); “O crítico como artista e espectador”, com os críticos Patrick Pessoa e Mariana Barcelos (Questão de Crítica, Rio de Janeiro), o pesquisador, criador e crítico em artes Daniel Toledo (site Horizonte da Cena, Belo Horizonte) e o crítico e professor português Jorge Louraço (Porto); “Transformações e desafios da crítica contemporânea – Península Ibérica”, com o português Rui Pina Coelho (Lisboa) e espanhol Óscar Cornago (Madri); e, por fim, “Transformações e desafios da crítica contemporânea – América Latina”, com o crítico e teórico argentino Jorge Dubatti (Buenos Aires) e a crítica uruguaia María Esther Burgüeño (Montevidéu).
O encontro dedicado às discussões teóricas não surge dissociado das práticas artísticas. As três noites que o antecederam foram dedicadas à Mostra DocumentaCena, promovida pelo coletivo DocumentaCena – Plataforma de Crítica, com apresentações das obras paranaenses Ilíada – Canto XIII, direção de Octavio Camargo e performance da artista Katia Horn; Os pálidos, da CiaSenhas de Teatro, direção de Sueli Araujo; e A maldita raça humana, da Companhia Teatro de Breque, direção de Nina Rosa Sá. Todas seguidas s de conversa entre os criadores e os presentes.
O crítico Jorge Louraço ministrou a oficina de crítica e dramaturgia “As mãos sujas de sangue”. A partir das teorias e de análises de exemplos práticos e exercícios de escrita, ele refletiu sobre tal correlação levando em conta dissecação e reescrita de cenas de Macbeth, de Shakespeare. Houve ainda o lançamento da Trema! Revista, de Pernambuco, e do Caixa de Pont[o] – Jornal de Teatro, de Santa Catarina.
Serviço:
“Idiomas – Fórum Ibero-Americano de Crítica de Teatro”
Onde: Caixa Cultural Curitiba (Rua Conselheiro Laurindo, 280, tel. 41 2118-5111)
Quando: 11 a 13/11; sexta, às 19h; sábado, às 10h, às 14h30, às 18h e às 19h; e domingo, às 11h
Quanto: entrada franca
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.