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31.7.2023 | por Curadoria da Mostra dos Estudantes
Foto de capa: Divulgação
A Quadrienal de Praga (PQ, na sigla em inglês) é o maior evento internacional dedicado ao espaço e desenho da performance e inclui: cenografia, figurino, iluminação, sonoplastia, visagismo mídias e arquitetura teatral. Organizado pelo Ministério da Cultura da República Tcheca e realizado pelo Instituto de Teatro e Artes de Praga, atualmente é reconhecido pela Unesco – agência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – por promover a diversidade de expressões culturais, já que desde 1967 tem sido uma plataforma para intercâmbios, networking, debate, desenvolvimento profissional e de formação, apresentando uma vasta produção artística mundial. Na edição de 2023, que ocorreu entre os dias 8 e 18 de junho passado, a curadoria brasileira apresentou um projeto diverso com a participação de escolas do país inteiro.
Tendo como caminhos de trabalho o tema “Tradição e transgressão”, o corpo curatorial foi composto por uma equipe de artistas, cenógrafos e professores de diversas regiões do país ligados à área da educação e das artes, que fomentaram, articularam e realizaram ao longo de dois anos a Mostra dos Estudantes.
Construímos a barraca com estruturas que permitissem que a mostra continuasse acontecendo, mesmo em condições de tempo ruim, como a chuva. Aliás, a metáfora do tempo ruim resume um pouco do que foram os últimos quatro anos no Brasil, quando o assunto é a arte e o ensino da cenografia. Passada a tempestade, resistimos e resistiremos. Essa qualidade técnica e construtiva do espaço brasileiro foi um grande diferencial
Foi uma longa caminhada com entusiasmo e afeto. Mais de 80 reuniões online, com inúmeras questões e discussões em que o respeito às diferenças nos levou a tomar decisões consentidas e quase nunca em unanimidade. Diferentes gerações trabalhando juntas e voluntariamente, animadas pela chama da cenografia e das artes cênicas brasileiras. Encaramos as dificuldades de um projeto formativo em um país de dimensões continentais, trabalhando no interesse dos estudantes.
Nossa proposta foi oferecer aos estudantes uma participação ativa, a qual procuramos provocar e estimular com seminários e encontros nacionais, sempre voltados para os temas definidos pelas curadorias da PQ – “Histórias raras de lugares únicos” –, bem como da nossa curadoria – “Tradição e transgressão” –, buscando uma reflexão sensível e aprofundada do sentido desse evento. A chamada para os trabalhos propostos pelos estudantes ressaltou o conhecimento da tradição em arte como motor para a transgressão e o desenvolvimento, um devir criador e enriquecedor das artes da cena.
Alunos de diversas partes do Brasil tiveram a oportunidade de terem seus trabalhos expostos em Praga. Em todo o trajeto da Mostra dos Estudantes, esta foi a edição que levou o maior número de trabalhos. Um alento que revela o interesse dos jovens pela cenografia no país.
Conseguimos a participação de 26 instituições e 90 orientadores de 16 estados com a exposição e apresentação de quatro performances, 20 vídeos e 64 maquetes.
Edificamos um conceito, com o sentido literal de construir um abrigo, uma vez que essa edição da Mostra dos Estudantes teve uma peculiaridade: ocorreu em um espaço aberto, uma rua interna de um local histórico – o antigo matadouro da cidade de Praga que hoje funciona como um mercado. Foram dias intensos de convivência e de aprendizado sobre a real dimensão da palavra diversidade.
Diversidade, pois o conjunto da exposição teve como pano de fundo uma paisagem local pluralíssima – a do mercado em seu funcionamento cotidiano –, composta por lojas atelier de cerâmica e seus diversos trailers e espaços gastronômicos, que incluíam um restaurante de culinária vietnamita de parada obrigatória.
Diversidade também pela quantidade de países expondo seus trabalhos em um mesmo momento. Nosso estande estava em uma área ao ar livre, entre Quebec e França, de frente para a Irlanda e para as Filipinas, após a Eslováquia, os Estados Unidos e a Romênia, com Portugal no final do quarteirão, tal como se organiza uma cidade de países, nas ruas do mercado.
Por fim, diversidade no estande brasileiro – uma barraca de feira, base para a exibição dos diversos trabalhos que levamos. O encontro em Praga é vitrine e espelho. Representando os estudantes de um país de dimensões continentais, acreditamos que a troca de conhecimento e informações foi a base para a formação proativa e plural da exposição.
Construímos a barraca com estruturas que permitissem que a mostra continuasse acontecendo, mesmo em condições de tempo ruim, como a chuva. Aliás, a metáfora do tempo ruim resume um pouco do que foram os últimos quatro anos no Brasil, quando o assunto é a arte e o ensino da cenografia. Passada a tempestade, resistimos e resistiremos. Essa qualidade técnica e construtiva do espaço brasileiro foi um grande diferencial que permitiu não só que a mostra pudesse continuar sendo visitada durante alguns momentos de chuva intensa, como também possibilitou a alguns estudantes e colegas internacionais buscar abrigo em nosso espaço para não se molharem.
Assim, no bom e no mau tempo o estande acolheu durante os dez dias estudantes, professores, profissionais e figuras ilustres de todo o mundo, fazendo jus à tão conhecida acolhida à brasileira e seu grande poder de envolvimento.
Merece destaque a presença das crianças em nosso espaço. Atraídas, talvez, pela grande quantidade de modelos e maquetes de escala reduzida, que sempre atraem a atenção dos pequenos. Uma certeza de que plantamos uma semente. Oxalá, no futuro, muitas dessas crianças se tornem cenógrafos e possam se recordar de seus primeiros contatos com esse universo de magia e encantamento.
Finalmente, após o encerramento da mostra brasileira, permanece a certeza de que nosso país possui excelentes profissionais, professores e estudantes das áreas de criação, produção e técnica teatral e performativa. Com destaque para grandes capacidades brasileiras: resistir, persistir e propor caminhos diversos, inclusive quando “a meteorologia” não colabora.
A participação brasileira recebeu apoio financeiro e institucional da Fundação Nacional de Artes, a Funarte, vinculada ao Ministério da Cultura, viabilizado pela Associação Grafias da Cena Brasil. Contou com os parceiros: SP Escola de Teatro, Associação dos Artistas Amigos da Praça (ADAAP) e Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo; Armazém da Utopia (RJ) e Instituto Ensaio Aberto.
.:. Leia o catálogo bilíngue e visitem o site da Mostra dos Estudantes na PQ2023.
.:. Leia a reportagem ‘Encruzilhadas’ e ‘Florestania’ em Praga, sobre a participação brasileira na Mostra dos Países e Regiões na PQ2023.
Curadoria da Mostra de Estudantes PQ2023:
Bruna Christófaro (UFOP-MG), Ézia Neves (UFPA), Fernando Marés (Unespar-PR), Helô Cardoso (Unicamp-SP), Ivam Cabral (SP Escola de Teatro), J.C. Serroni (SP Escola de Teatro), Marcello Girotti (UFRB-BA), Luiz Fernando Lobo (Armazém da Utopia-RJ), Márcio Tadeu (Unicamp-SP), Paula De Paoli (SP Escola de Teatro e FASM), Rosana Rocha (Teatro Escola Basileu França-GO), Telumi Hellen (SP Escola de Teatro), Tiago Bassani (UFPA) e Viviane Ramos (SP Escola de Teatro).
Instagram: @pqestudantes
O corpo editorial da Mostra dos Estudantes na Quadrienal de Praga de 2023 soma artistas, cenógrafos e professores de diversas regiões do país que se empenharam numa participação formativa provocada e estimulada por meio de seminários e encontros entre escolas, colóquios e oficinas em torno do tema "Tradição e transgressão", sempre com vistas a uma reflexão sensível e aprofundada do sentido que orbitou o evento internacional como um todo, “Histórias raras de lugares únicos”.