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“Cia. Livre"

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Artigo

A liberdade de criação e a memória das artes do corpo estão sendo ameaçadas pelo puritanismo que domina as plataformas digitais e as redes sociais.

De 2006 a 2018, fiz uma imersão profunda nos processos de criação colaborativa de diversos grupos de teatro de São Paulo, que gerou mais de 20 documentários, dezenas de registros de espetáculos, uma série televisiva com oito programas de 26 minutos cada um, para o Canal Brasil, intitulada Teatro sem fronteiras; a curadoria e a mediação de um ciclo de debates e uma mostra de filmes no Itaú Cultural sobre a efervescência e a vitalidade da cena paulistana contemporânea; e ainda uma tese de doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) acerca das novas dramaturgias das companhias teatrais, criadas em processo colaborativo e que eu chamo de “dramáticas fraturadas”, fissuradas por estratégias de linguagem engendradas como uma espécie de travessia a irrupções do inesperado que costumamos chamar de “real”.

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Encontro com Espectadores

Fruto da parceria da Cia. Livre e da Cia. Oito Nova Dança, sediadas em São Paulo, o espetáculo Os um e os outros (2019) abarcou a luta dos povos ameríndios em território brasileiro e suas estratégias para resistir. Trata-se de livre recriação de Os Horário e os Curiácios (1933), uma das peças didáticas de Bertolt Brecht que investiga modos de resistência da chamada “época da contrarrevolução”, instaurada com a ascensão e consolidação da nazismo na Alemanha.

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Crítica

Urgente e ancestral, a causa indígena desponta como eixo em Os um e os outros, parceria da Cia. Livre e da Cia. Oito Nova Dança. É a arte confrontando séculos de arbitrariedade e opressão, lidando com o legado das culturas imemoriais dos habitantes originários do Brasil e demais extensões do continente americano. Os estados de presença de uma mulher, de uma criança e de homens do povo Guarani M’Bya amplificam a experiência do público, como se conformassem um bioma cênico na dignidade manifestada através do olhar e da postura. Mais em tupi do que em português, eles se expressavam através de corpo, voz, canto e instrumentos artesanais. A relação com atores, bailarinos e músicos se dá de maneira a reconhecer diferenças e a delinear saberes da floresta. Uma modulação poética microscópica que toca com magnitude no cerne das ameaças ambientais e ainda tem a ver com a noção de espiritualidade (nela contida a ritualidade).

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