30.4.2020 | por Valmir Santos
Logo na primeira linha, o narrador de Elizabeth Costello pontua sobre “como nos levar de onde estamos, que é, por enquanto, lugar nenhum, para a margem de lá”. Aludir à imagem da construção de pontes serve como poderoso instrumento de navegação pelo romance de J.M. Coetzee, em que pesem as saborosas e por vezes mal-humoradas contendas da protagonista com familiares, intelectuais ou admiradores. A personagem-título, uma prestigiada escritora veterana, lida com ideias morais, filosóficas e estéticas sem perder de vista o substrato da vida. Sua inquietude figura nos traços de personalidade e de linguagem, como bem cultiva o monólogo de mesmo nome idealizado e atuado por Lavínia Pannunzio com adaptação e direção de Leonardo Ventura.
Leia mais30.3.2014 | por Valmir Santos
O encontro de Antunes Filho com Thornton Wilder diz mais sobre o ícone da encenação brasileira, o homem e o artista embarcados em seis décadas de trabalho, do que propriamente os vetores estéticos que o orientaram por pelo menos dois anos de pesquisa e ensaio. Nossa cidade mostra um criador nu e íntegro com a sua cena, mentor de espetáculos antológicos e ora sem o encalço da angústia da inovação a cada passo. Os códigos-fonte estão emocionalmente abertos no tablado do Teatro Sesc Anchieta, independente dos enigmas que a obra encerra. Não há um grande ator ou atriz a ancorar o projeto, como se condicionou aludir ao método sistematizado ao longo dos anos. A horizontalidade e o perfil multigeracional dos protagonistas do Grupo de Teatro Macunaíma/Centro de Pesquisa Teatral o deixa mais exposto à própria condição humana de mestre que também confronta crises e estas o provocam a destilar arte. Leia mais
24.10.2013 | por Ferdinando Martins
Grover’s Corners não existe, mas está bem ali perto de você. A cidade fictícia criada por Thornton Wilder é a representação imaginária de um paraíso onde a lua encanta, os filhos obedecem aos pais e os vizinhos se preocupam genuinamente uns com os outros. É a mesma imagem das famílias felizes dos anúncios publicitários e das revistas de celebridades. Os problemas, quando surgem, são facilmente resolvidos. O organista da igreja é alcoólatra, mas tudo bem, as pessoas entendem. “Sabemos as dificuldades por que passou”, diz a esposa do médico da cidade, “a única coisa que nos cabe é fazer de conta que não notamos”. Leia mais