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“SP confere peças experimentais do Rio"

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Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

TEATRO 
Temporada paulistana recebe espetáculos do grupo Nós do Morro e dos diretores Hamilton Vaz Pereira e Ivan Sugahara

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

A partir desta semana, três produções do Rio de Janeiro convergem para temporadas em São Paulo, dizendo muito sobre um teatro de mais experimento e risco, contraponto àquele apoiado nas convenções “televisivas” com mais efeito em palcos cariocas.

O grupo Nós do Morro, da comunidade do Vidigal, completa 18 anos e declara “intromissão” ao “Sonho de uma Noite de Verão”, de Shakespeare. Vai ao cartaz amanhã, no teatro Augusta.

Aos 30 anos de carreira, um dos fundadores do Asdrúbal Trouxe o Trombone (1974-84), desbundado grupo que injetou sangue novo na cena carioca e brasileira, o ator, diretor e dramaturgo Hamilton Vaz Pereira encena “A Leve, o Próximo Nome da Terra”. A “tragédia ridente”, como diz, pré-estréia amanhã no Teatro Folha, para convidados, e segue temporada a partir de sábado.

Também no sábado, chega “Avalanche”, direção de Ivan Sugahara (ligado ao grupo Os Dezequilibrados) para o texto do americano David Rabe, 64. No Sesc Belenzinho.

Latente na maioria dos moradores de Vidigal, a música ganha corpo na adaptação de “Sonho de uma Noite de Verão”, traduzido por Luiz Paulo Corrêa e Castro.

O diretor e cenógrafo Fernando Mello Costa apostou na “aptidão” do Nós do Morro. A fábula musical pretende dialogar com o universo do fantástico recriado por Shakespeare no século 16.

Porém é na peça dentro da peça, quando atores amadores representam a lenda mitológica de Píramo e Tisbe para a realeza, que o projeto se aprofunda.

Moradores de rua e catadores de papel, personagens na peça do grupo “Burro sem Rabo” (2003), migraram para o “Sonho” como “seqüestradores” dessa trupe de atores e acabam “incluídos” nesse teatro desejoso da linguagem popular tão cara a Shakespeare.

“Somos uma sociedade partida neste país. A única forma de quebrar estigmas e estereótipos é por meio da qualidade, senão vira paternalismo”, diz Guti Fraga, 52, ator e supervisor do Nós do Morro, para quem a perspectiva social não está dissociada da arte.

Hamilton Vaz Pereira, 52, diz que jamais escreve ou dirige espetáculos que apontem para a negação da vida. Ao contrário, sublima “o que a vida é, com suas encrencas e maravilhas”.

Em “A Leve, o Próximo Nome da Terra”, seis brasileiros mandam notícias e cenas de vários pontos do planeta, como Nova York, Amsterdã, Florença e Berlim. Estão viajando para estudar, trabalhar ou passear.

Os personagens aparentemente vivem situações do cotidiano, mas redobradas em emoção porque fora do país. São homens e mulheres “maduros”, que invocam o passado, por vezes os ancestrais gregos, por exemplo, ao mesmo tempo que se ocupam do futuro por meio da família.

Oito histórias “algo absurdas, extraordinárias”, em oito cenários distintos, sugeridos pelas imagens projetadas ao fundo. Os personagens/atores (interpretados por Leticia Spiller, Caio Blat, Floriano Peixoto e outros) passam o tempo todo num palco despido de recursos cenográficos. Quando pisam um retângulo chão, estão em cena.

Em “Avalanche”, a terceira produção do Rio, quatro homens ligados à indústria do cinema em Hollywood têm seus caminhos cruzados e “vivem perigosamente”, compartilhando mulheres, festas e drogas.