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Reportagem

Qorpo-Santo, o louco fenomenal da província

6.6.2014  |  por Fábio Prikladnicki

Foto de capa: Martino Piccinini

São poucos os que se debruçaram sobre a obra do dramaturgo, poeta e escritor gaúcho Qorpo-Santo (1829–1883), mas cada pesquisador apareceu com uma teoria. Há quem o relacione ao teatro do absurdo, ao surrealismo, a uma vertente marginal do romantismo e ao próprio teatro do século 19 – embora suas peças tenham sido encenadas pela primeira vez apenas cem anos depois de serem escritas.

A diretora teatral Inês Marocco simpatiza com a tese do surrealismo, defendida pelo pesquisador Eudinyr Fraga, mas, em uma segunda reflexão, pondera:

“Não sei até que ponto precisamos catalogá-lo. Até hoje, Qorpo-Santo continua revolucionário.”

Pois é essa atualidade do autor, considerado louco em sua época, que Inês pretende mostrar com a peça Santo Qorpo ou O louco da província, que estreia nesta quinta-feira (5/6) no Teatro Bruno Kiefer, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. A diretora orienta 10 jovens atores, recrutados nos bancos do Departamento de Arte Dramática da UFRGS. Quatro deles (Áquila Mattos, Jeferson Cabral, Juçara Gaspar e Naomi Luana) foram responsáveis pelo texto do espetáculo, baseado no romance Cães da província (1987), de Luiz Antonio de Assis Brasil (que ficcionaliza a vida do autor), incluindo também trechos de peças de Qorpo-Santo.

O resultado é uma viagem anárquica, e por vezes divertida, pela vida e pela obra do autor, como observou a reportagem ao assistir a um ensaio geral. Assim como no romance de Assis Brasil, o espetáculo faz menção aos crimes da Rua do Arvoredo, em que se acredita que um casal tenha fabricado linguiça com carne humana.

Reunido com o nome de Santo Qoletivo, o elenco é a nova aposta de Inês, conhecida por seu trabalho com o Grupo Cerco, que produziu premiadas adaptações de Erico Verissimo: O sobrado (2008), baseada em O tempo e o vento, e Incidente em Antares (2012).

Desta vez, foram 10 meses de trabalho, entre pesquisas e ensaios. Unindo vida e obra, o espetáculo dá conta do fenômeno Qorpo-Santo de uma maneira abrangente que não se conseguiria caso o grupo montasse uma peça específica do autor, na opinião da diretora:

“A obra do Qorpo-Santo é autobiográfica. Suas peças são cruas, difíceis. O desafio é fazer com que o público o entenda.”

.:. Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, p. 4, em 5/6/2014.

Serviço:
Onde: Teatro Bruno Kiefer na Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736, 6º andar, Porto Alegre, tel. 51 3221-7147).
Quando: Quinta-feira a domingo, às 20h. Até 15/6.
Quando: R$ 20,00

Ficha técnica:
Direção: Inês Marocco
Dramaturgia: Áquila Mattos, Jeferson Cabral, Juçara Gaspar e Naomi Luana
Com: Áquila Mattos, Eduardo Schmidt, Gabriela Boccardi, Jeferson Cabral, Juçara Gaspar, Ketti Maria, Magda Schiavon, Naomi Luana,Renata Cieslak e Rodolfo Ruscheinsky.
Figurino: Rô Cortinhas
Iluminação: Fernando Ochoa
Cenografia e arte gráfica: Martino Piccinini
Orientação musical: Adolfo Almeida Jr.
Assistência de direção: Gabriela Boccardi e Magda Schiavon
Criação e execução da trilha sonora: Eduardo Schmidt e o grupo.
Produção: Gabriela Boccardi, Jeferson Cabral, Ketti Maria e Renata Cieslak
Assessoria de imprensa: Juçara Gaspar

Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.

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