Reportagem
7.6.2014 | por Maria Eugênia de Menezes
Foto de capa: Blenda
Sem atores, Pendente de voto, criação do diretor catalão Roger Bernat, transforma o público em protagonista. No espetáculo, que já foi visto em Brasília e chega ao Sesc Pompeia na sexta, em São Paulo, o teatro se transforma em uma espécie de parlamento. E, aos espectadores, cabe decidir sobre uma série de questões.
“O que ocorre nas minhas peças é que não há espectadores no sentido tradicional, porque eles assumem o papel dos atores. Essa é uma velha aspiração do teatro do século 20, desde Bertolt Brecht até Augusto Boal”, diz o diretor, que já assinou uma série de obras nas quais coloca a participação popular em discussão. Em São Paulo, o título compõe a mostra Multitude, uma programação que traz exposições e espetáculos acerca do tema multidão.
Logo no início da encenação, cada pessoa na plateia recebe um controle remoto. Com o aparelho em mãos, será convidada a se posicionar diante de diversos temas: dos mais prosaicos aos mais complexos. Discutindo desde meandros da política de segurança pública até a sua marca de chiclete favorita.
São as respostas da plateia que fazem o espetáculo evoluir. Levando os participantes a experimentar, na prática, o princípio da democracia. Conforme avança a obra, o espectador é forçado a delegar poder para um representante, que passa a votar e a escolher por ele.
“Os espetáculos partem de dispositivos que são colocados nas mãos do público. Nada acontece se o espectador não decidir cruzar essa fronteira. Nesse caminho, ele terá que enfrentar a sua própria vontade, encontrar as coordenadas que o orientem e, finalmente, construir a sua própria obra”, argumenta Bernat.
Nesse questionamento dos mecanismos democráticos, o primeiro passo é compartilhar o seu controle remoto com a pessoa que estiver ao seu lado. Após pouco menos de 1 minuto de debate, a dupla deve chegar a um consenso e apresentar um voto único. Daí por diante, a possibilidade de diálogo e a procura por um ponto de vista comum vai parecer mais e mais complicada.
Ao final da montagem, todas as decisões da plateia – que na versão paulistana comporta 126 espectadores – devem ser tomadas por um único representante. Naturalmente, os debates tornam-se acalorados e os conflitos entre posições distintas, inevitáveis. “É muito importante distinguir a participação da manipulação. Ambos os termos se entrelaçam nessas campanhas intermináveis que nos convidam a fazer parte de redes, de programas e shows”, observa Bernat.
.:. Publicado originalmente em O Estado de S.Paulo, Caderno 2, p. C10, em 5/6/2014.
Serviço:
Onde: Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, Vila Pompeia, tel. 11 3871-7700).
Quando: Sexta e sábado, às 20h; domingo, às 17h. Até 8/6.
6ª e sáb., às 20 h; dom., às 17 h.
Quanto: R$ 8 a R$ 40
Ficha técnica:
Direção: Roger Bernat
Dramaturgia: Roberto Fratini
Assistente de direção e direção técnica: Txalo Toloza
Direção musical: Juan Cristobal Saavedra
Iluminação: Ana Rovira
Cenografia: Marie Klara González
Efeitos especiais: Cube.bz.
Visualização de dados: Mar Canet
Dispositivos e software de dados: Jaume Nualart
Colaboradores de programação: Pablo Argüello, David Galligani e Chris Hager
Assistentes de conteúdo: Oscar Abril Ascaso e Sonia Andolz
Produção: Helena Febrés Fraylich
Crítica teatral, formada em jornalismo pela USP, com especialização em crítica literária e literatura comparada pela mesma universidade. É colaboradora de O Estado de S.Paulo, jornal onde trabalhou como repórter e editora, entre 2010 e 2016. Escreveu para Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010. Foi curadora de programas, como o Circuito Cultural Paulista, e jurada dos prêmios Bravo! de Cultura, APCA e Governador do Estado. Autora da pesquisa “Breve Mapa do Teatro Brasileiro” e de capítulos de livros, como Jogo de corpo.