Nota
8.9.2014 | por Teatrojornal
O ator Eduardo Okamoto fez no último fim de semana (5 e 6/9), no Sesc Campinas, a pré-estreia do solo Oe, inspirado na obra de um dos mais populares romancistas do Japão, Kenzaburo Oe (Prêmio Nobel de Literatura em 1994). Sob direção de Marcio Aurelio e dramaturgia de Cássio Pires, trata-se de mergulho no vasto universo do escritor, estabelecendo relações entre a literatura de Oe e a cena propriamente dita, com destaque para o romance Jovens de um novo tempo, despertai!.
O livro aborda as interações entre o autor e seu filho mais velho, Hikare Oe, nascido com hérnia cerebral que resultou num forte autismo. O sobrenome da família e do espetáculo, curiosamente, espelha a inversão das iniciais da assinatura artística de Eduardo Okamoto (de produções recentes como Eldorado e Recusa, esta com a Cia. Teatro Balagan).
Como parte do processo criativo, ele foi ao Japão em fevereiro passado, onde estagiou no Kazuo Ohno Dance Studio. Oe tem previsão de estreia para março de 2015.
No livro Jovens de um novo tempo, despertai!, Kenzaburo Oe procura definições sobre a sociedade e a vida (morte, sonho etc.) para o seu filho mais velho, deficiente intelectual, sintetizando ficção, ensaio literário, mitologia e dados autobiográficos (explicitando o relacionamento familiar com o seu primogênito).
A enfermidade do filho é recorrente na obra de Kenzaburo Oe. O filho viveu até os seis anos de idade sem desenvolver a capacidade da fala. “Não parece humano”, declara o personagem Bird, de Uma questão pessoal , sobre o bebê que, no nascimento, aparentava ter duas cabeças, com parte do cérebro expandindo-se por uma fenda no crânio. Demonstrando grande sensibilidade auditiva e aprendendo a falar ao reconhecer o som dos pássaros, o menino aprendeu a tocar piano e, hoje, é compositor e pianista respeitado no Japão e fora dele.