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Reportagem

Qorpo-Santo pop

29.4.2015  |  por Fábio Prikladnicki

Foto de capa: Rosano Mauro Jr

Desde que foi redescoberto na década de 1960, um século depois de ter produzido sua obra, o dramaturgo e escritor gaúcho Qorpo-Santo (1829–1883) recebeu uma certa aura folclórica por ter sido considerado louco em seu tempo.

O que poucos exploraram foi o potencial pop, por assim dizer, desse mistério que o cerca. É o que pretende o projeto “QorpoSanto 3 Linguagens”, realizado em Curitiba pelo selo de produções artísticas Projeto Z, que inclui uma peça teatral na capital paranaense, uma trilha sonora com sete canções inspiradas em textos do autor e três clipes que estarão disponíveis no YouTube. O projeto foi viabilizado pelo programa Rumos Itaú Cultural.

“Costuma-se vangloriar dramaturgos estrangeiros, mas Qorpo-Santo é um autor brasileiro pouco conhecido. Aí, veio a ideia de trabalhar com linguagens mais pop, como a canção e o vídeo, para democratizar essa obra”, explica Nina Rosa Sá, idealizadora do projeto e diretora do espetáculo.

Em cartaz no Teatro José Maria Santos, em Curitiba, Amanhã sou outro (ou a arte de tudo quebrar e nada endireitar) é uma colagem de fragmentos de peças de Qorpo-Santo. O espetáculo começa emulando a linguagem do século 19 e paulatinamente assume um ritmo do nosso tempo.

“Aprofundamos temas como a posição da mulher e a homofobia. Ele foi um dos primeiros a colocar um casal homossexual em cena”, explica Nina, que tem o desejo de apresentar a peça em Porto Alegre.

Um dos atores é Leo Fressato, compositor da trilha do espetáculo, que pode ser ouvida separadamente (disponível no site, aqui). Os arranjos são de Rodrigo Lemos, ex-guitarrista d’A Banda Mais Bonita da Cidade (do hit Oração, que fez sucesso no YouTube em 2011). Com bases eletrônicas, as sete canções têm letras retiradas de versos que Qorpo-Santo incluiu em suas peças, acrescidas de trechos que o próprio Fressato escreveu.

O compositor explica: “Em um primeiro momento, criei exclusivamente a partir dos versos presentes nas peças dele. Depois, o Rodrigo me mandou algumas bases com referências de pop e ragga. Basicamente, as canções vieram de referências da canção nacional e da música eletrônica.”

O videoclipe da canção Duas páginas em branco, uma animação de Diogo Dubiella, já está no YouTube. Mostra uma imaginária destruição da Praça Santos Andrade, em Curitiba, como metáfora do colapso social presente na obra de Qorpo-Santo. Nesta quinta-feira, será lançado outro clipe, e um terceiro virá em 14 de maio.

O louco lúcido

Dramaturgo, poeta e autor de máximas, Qorpo-Santo reuniu toda a sua obra na Ensiqlopèdia. Foram nove volumes, dos quais apenas seis são conhecidos. Nascido em Triunfo no século 19, escreveu sobre temas como relações familiares. Foi considerado louco, o que tem sido revisto por estudiosos.

.:. Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, p. 6, em 28/4/2015.

Serviço da temporada em Curitiba:
Onde: Teatro José Maria Santos (Rua Treze de Maio, 655, Centro, Curitiba, tel. 41 3324-8208)
Quando: Quinta a domingo, às 20h. Até 3/5
Quanto: grátis

Serviço da temporada em São Paulo:
Amanhã sou outro (ou a arte de tudo quebrar e nada endireitar)
Onde: Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, tel. 11 2168 1777)
Quando: 27 a 29/5, quarta a sexta-feira, sempre às 20h
Quanto: grátis

Leo Fressato canta Qorpo-Santo
Onde: Itaú Cultural
Quando: 30/5, sábado, às 20h
Quanto: grátis

Ficha técnica:
Texto: Qorpo-Santo
Direção: Nina Rosa Sá
Com: Ciliane Vendruscolo, Débora Vecchi, Rubia Romani, Cleydson Nascimento, Jeff Bastos e Leonardo Fressato Santos
Cenário: Fernando Marés
Figurinos: Paulo Vinícius
Iluminação: WAGNER CORRÊA
Trilha sonora: LEO FRESSATO
Arranjos e produção musical: Rodrigo Lemos
Preparação de atores: Babaya
Design gráfico: Pablito Kucarz Do Prado
Assessoria de comunicação: Camilla Martins
Fotografia: Rosano Mauro Jr
Produção: Michele Menezes
Realização: Projeto Z

Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.

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