Reportagem
18.6.2015 | por Fábio Prikladnicki
Foto de capa: 4º Festival de Teatro Popular / Divulgação
Era para ser no ano passado, mas, por causa de uma promessa de financiamento que não se concretizou, o 4º Festival de Teatro Popular – Jogos de Aprendizagem precisou ser desmobilizado depois que a programação já estava montada. Sem problema: a edição que começa nesta quinta-feira (18/6) e vai até o dia 28, agora com financiamento do Iberescena, é a maior de todas realizadas até agora. Se nos anos anteriores o festival contava sempre com uma companhia internacional, neste ano são três: El Rayo Misterioso e El Baldío Teatro, ambas da Argentina, e o Teatro Taller, da Colômbia.
Realizado pelo Ói Nóis Aqui Traveiz, um dos grupos de teatro mais longevos do país com 37 anos de história, o evento propõe um diálogo entre companhias latino-americanas com atenção a atividades formativas, como oficinas, mostras de trabalho e painéis, além de espetáculos. Fazendo justiça à palavra “popular”, todas as atividades são gratuitas.
“Em alguns momentos, parece que o Brasil não faz parte da América Latina. Sabemos que tem a barreira da língua (o português no Brasil e o espanhol nos outros países), mas muitas vezes olhamos mais para a Europa do que para os irmãos que estão perto de nós e com os quais temos mais coisas em comum”, observa Tânia Farias, atuadora do Ói Nóis.
O grupo gaúcho admirava à distância as três companhias de fora do país que participam desta edição (“Somos irmãos que não se viam nunca”, diz Tânia), e recentemente um atuador do grupo viajou à Argentina para conhecer pessoalmente o trabalho do Rayo Misterioso e do El Baldío, que têm um foco pedagógico – um dos motivos do convite para o evento. Já os colombianos do Teatro Taller trabalham com teatro de rua, facilitando o acesso do público, também um aspecto valorizado no festival. Integram a programação as companhias Pandora (São Paulo), Inclassificáveis (Florianópolis) e A Gangorra (Caxias do Sul), além de trabalhos resultantes das oficinas de teatro ministradas pelo Ói Nóis. O grupo anfitrião marcará presença com Medeia vozes, que abre o festival nesta quinta (18/6), na Terreira da Tribo; Desmontagem, uma mostra de processo com Tânia; e O amargo santo da purificação.
É um espaço para a discussão sobre a formação e o aperfeiçoamento. Todos esses jovens que são aspirantes a atores e diretores são colocados diante de uma gama de conhecimentos e experiências
Como nas outras edições, haverá atividades em alguns dos principais teatros de Porto Alegre e em bairros distantes do Centro: Humaitá, Bom Jesus e Restinga. Uma novidade deste ano será a extensão das atrações para as cidades de Canoas e Novo Hamburgo.
“Este festival não se parece com qualquer outro da cidade. É um espaço para a discussão sobre a formação e o aperfeiçoamento. Todos esses jovens que são aspirantes a atores e diretores são colocados diante de uma gama de conhecimentos e experiências”, diz Tânia.
Afora a troca de experiências, o intercâmbio nas edições anteriores do festival rendeu dividendos simbólicos. O coletivo Yuyachkani, que veio na primeira edição, em 2010, deixou de lembrança para os atuadores do Ói Nóis uma máscara tradicional peruana, que depois veio a integrar o figurino do espetáculo Viúvas, performance sobre a ausência (2011) e também aparece na Desmontagem de Tânia.
Agora, o Ói Nóis debate a periodicidade do festival, que nasceu anual e pode vir a ser bienal para que o grupo siga tendo tempo de produzir suas demais atividades.
.:. Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, capa, em 18/6/2015.
Serviço:
Quinta-feira (18/6)
> Medeia vozes, com Ói Nóis Aqui Traveiz. Às 19h30, na Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1.186), em Porto Alegre.
Sexta (19/6)
> Oficina com Teatro Taller (Colômbia). Das 10h às 13h, na Terreira da Tribo.
> Desmontagem – evocando os mortos / Poéticas da experiência, com Tânia Farias. Às 20h, na Terreira da Tribo.
Sábado (20/6)
> Cantos de mar y amor, com Teatro Taller. Às 15h, na Praça do Imigrante, em Novo Hamburgo.
> Dionisos aut, com El Rayo Misterioso. Às 20h, no Teatro do Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230), em Porto Alegre.
Domingo (21/6)
> Demonstração de trabalho/oficina de teatro com El Rayo Misterioso (Argentina). Das 10h às 15h, na Terreira da Tribo.
> Cantos de mar y amor, com Teatro Taller (Colômbia). Às 15h, no Parque da Redenção (próximo ao Monumento ao Expedicionário), em Porto Alegre.
> Dionisos aut, com Laboratorio de Teatro El Rayo Misterioso (Argentina). Às 20h, no Teatro do Museu do Trabalho.
Dia 22/6
> Oficina de teatro com El Rayo Misterioso (Argentina). Das 10h às 13h, na Terreira da Tribo.
> Cantos de mar y amor, com Teatro Taller (Colômbia). Às 15h, no Largo Glênio Peres, em Porto Alegre.
> Fando e Lis, com A Gangorra (Caxias do Sul). Às 20h, na Sala Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre.
> Exercício cênico Os sinos da candelária, com a Oficina Popular de Teatro da Cidade de Canoas. Às 20h, no Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre.
Dia 23/6
> Oficina de teatro com El Rayo Misterioso (Argentina). Das 10h às 13h, na Terreira da Tribo.
> Onde? Ação nº 2, com a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Às 15h, na Esquina Democrática (Andradas com Borges de Medeiros), em Porto Alegre.
> Cantos de mar y amor, com Teatro Taller (Colômbia). Às 15h, na Praça da Juventude, em Canoas.
> Painel “O teatro latino-americano hoje”, com representantes dos grupos participantes do festival. Às 20h, na Terreira da Tribo, em Porto Alegre.
> Fando e Lis, com A Gangorra (Caxias do Sul). Às 20h, na Sala Álvaro Moreira (Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre.
Dia 24/6
> Oficina com Ói Nóis Aqui Traveiz. Das 14h às 17h, no Teatro Paschoal Carlos Magno (Rua Ignácio Christiano Plangg, 66), em Novo Hamburgo.
> Exercício cênico A importância de estar de acordo, com a Oficina para Formação de Atores da Escola de Teatro Popular. Às 20h, na Terreira da Tribo, em Porto Alegre.
> Minha cabeça era uma marreta, com o Grupo Rito de Teatro. Às 20h, no Centro de Educação Ambiental (Avenida Joaquim Porto Villanova, 143, bairro Bom Jesus), em Porto Alegre.
Dia 25/6
> Polenta con pajaritos, com o El Baldío Teatro (Argentina). Às 20h, no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
> 5 minutos, com Coletivo Inclassificáveis (Florianópolis). Às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno (Rua Ignácio Christiano Plangg, 66), em Novo Hamburgo.
> Jesus-homem, com Grupo Pandora de Teatro (São Paulo). Às 20h, no Ponto de Cultura Academia de Samba União da Tinga (Rua Álvaro Difini, 380, bairro Restinga), em Porto Alegre.
> Exercício cênico A importância de estar de acordo, com a Oficina para Formação de Atores da Escola de Teatro Popular. Às 20h, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
> Exercício cênico Yerma, com a Oficina Popular do Bairro Bom Jesus. Às 20h, na Sala Álvaro Moreira (Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre.
Dia 26/6
> Polenta con pajaritos, com El Baldío Teatro (Argentina). Às 20h, no Grêmio Esportivo Ferrinho (Avenida Dona Teodora, 1.250, bairro Humaitá), em Porto Alegre.
> Minha cabeça era uma marreta, com Grupo Rito de Teatro. Às 20h, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
> Esquetes teatrais com as oficinas populares dos bairros Humaitá e São Geraldo e da cidade de Canoas. Às 20h30, no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
Dia 27/6
> Painel “Teatro e aprendizagem”, com representantes dos grupos participantes do festival. Às 16h, no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
> 5 minutos, com Coletivo Inclassificáveis (Florianópolis). Às 18h30min, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana.
> Jesus-homem, com Grupo Pandora de Teatro (São Paulo). Às 20h30min, no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana.
Dia 28/6
> O amargo santo da purificação, com Ói Nóis Aqui Traveiz. Às 15h, no Parque da Redenção (próximo ao Monumento ao Expedicionário), em Porto Alegre.
> 5 minutos, com Coletivo Inclassificáveis (Florianópolis). Às 20h, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.