Menu

Artigo

Panorama do teatro brasileiro completa 60 anos de sua publicação (Difel, 1962). É uma das obras centrais entre as escritas pelo crítico, professor e historiador Sábato Magaldi (1927-2016) e referência para a história do teatro no Brasil. O livro é a um só tempo síntese histórica e roteiro de trabalho. Organiza, aprofunda, desdobra os estudos que o autor já vinha desenvolvendo desde que começara a escrever no Diário Carioca, em princípio dos anos de 1950, e, depois, em mais de 20 anos de colaboração com o Jornal da Tarde, de São Paulo, a partir de 1966. A atividade jornalística seria complementada pela participação junto ao Suplemento Literário, do jornal O Estado de S. Paulo.

Leia mais

Crítica

Navalha na nossa carne?

28.9.2018  |  por Kil Abreu

A lógica do processo social permite supor que as personagens de Plínio Marcos em Navalha na carne podem ser negras. No entanto, as representações mais conhecidas do texto têm contado majoritariamente com atrizes e atores não negros. Quando Lucelia Sergio, interpretando Neusa Sueli, entra em cena na montagem em análise tirando a peruca loira isso nos remete a algo acidental, a uma personagem se desfazendo da outra com a qual ganha a vida. O “desfazer-se” remete também a uma possível resposta à maneira como no teatro brasileiro a distinção racial se afirmou. A tentativa de desnaturalização deste imaginário é, entre outras coisas, o que Navalha na carne negra nos oferece. Somos levados a pensar aquelas personagens por fora das representações já inscritas, em que atrizes blonde como Tônia Carrero e Vera Fischer viveram a prostituta no palco ou no cinema. Leia mais

Crítica

Antunes, irmão de Lagarce

25.9.2018  |  por Kil Abreu

O dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce morreu jovem (1957-1995), vítima da Aids. Só foi reconhecido como autor relevante em seu país depois da morte, o que já nos diz muito sobre a dificuldade do seu belo teatro, fora dos enquadramentos. Erudito, criou um teatro singular inspirado sobretudo em autores fora da ordem na cena moderna, como Beckett, com quem aprendeu tanto o valor da palavra, do verbo concentrado, como do silêncio, das frestas. E também o contraste trágico entre aquilo que está, que é, e o que não está presente, entre o que as coisas são e o que poderiam ter sido. Sua obra de volume considerável inclui peças como Music-hall, História do amor (últimos capítulos), já encenadas no Brasil, e esta Eu estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse (na tradução de Maria Clara Ferrer), que o CPT do Sesc e Grupo de Teatro Macunaíma estreia neste momento sob direção de Antunes Filho. Leia mais

Crítica

A alegria crítica

12.7.2018  |  por Kil Abreu

O rei da vela é, como as pessoas do teatro costumam tratá-la, uma peça avançada para os anos 30 do século passado, se o ponto de vista for o da invenção estética. Nela Oswald de Andrade costura de maneira inusual para os modelos dramatúrgicos da época, em traços grossos e em dialética carnavalesca, o momento de passagem dos lugares de poder, da tradicional família rural brasileira, já falida, para as dinâmicas do capital financeiro então nascente, em termos de hegemonia econômica. É o teatro politico e experimental de um autor atento à necessidade de traduzir em forma nova uma realidade em profundo processo de mudança.  Leia mais

Crítica

Mulheres fora da ordem

31.5.2018  |  por Kil Abreu

De Fassbinder a Ester Rios (ou de Ester Rios, fictícia autora de novelas, a Fassbinder), do folhetim televisivo à experiência viva do teatro, L, o musical é espetáculo que transita por muitos diferentes caminhos, arranjados em um chão comum pelo dramaturgo e diretor Sérgio Maggio. A peça trata de mulheres fora da ordem, do amor lésbico e da perspectiva trans. Leia mais

Crítica

A margem como centro

27.5.2018  |  por Kil Abreu

A noite de Ano-Novo, momento tomado pela maioria de nós como o espaço imaginário de uma passagem, pode perfeitamente ser vista como metáfora que ganha significados além dos usuais na nova montagem d’Os Satyros, O incrível mundo dos baldios. O espetáculo sintoniza de fato algo em plena transição que, no entanto, é mais que a mera mudança no calendário. Leia mais

Crítica

Minutos acesos no tempo

12.5.2018  |  por Kil Abreu

Existem ao menos duas frentes amplas e da maior importância no trabalho artístico audacioso da Trupe Sinhá Zózima, que há 11 anos concebe e apresenta seus espetáculos nos ônibus em trânsito pelas ruas de São Paulo, por vezes estacionados também. A primeira talvez seja mais evidente: a escolha política, o fazer do teatro um acontecimento não só rente ao cotidiano como, deliberadamente, próximo à vida de quem não o procura justo porque em geral precisa daquele tempo para ganhá-la. A decisão dos criadores, de permanecerem atuando nos seus lugares de classe de origem, se vista neste panorama de mais de uma década de militância já seria por si algo digno de admiração. Leia mais

Crítica

Circo, melodrama e afeto

24.3.2018  |  por Kil Abreu

Pagliacci, espetáculo que comemora os vinte anos da Cia. LaMínima, se avizinha, por força dos seus diferentes materiais, do teatro de variedades. Mas sem que com isso se perca um campo de pensamento bem delimitado, e suas questões. O projeto foi pensado pela companhia ainda na presença do saudoso Domingos Montagner, que não pôde vê-lo de pé. Leia mais

Crítica

Reino Unido, Gana, Jamaica. No ano de 2016 o embarque de artistas em navio cargueiro retoma uma das rotas pelas quais europeus negociavam homens e mulheres negros e negras escravizados. E deles faziam o motor vivo do que chamaram “a” civilização. Selina Thompson colocou seu corpo em rumo, na mesma rota marítima que também é um cemitério dos que foram por muitos motivos descartados no caminho. Leia mais

Crítica

Suíte nº2, o espetáculo de abertura da MITsp, é uma rapsódia teatral nos vários sentidos referidos pelo teórico francês Jean-Pierre Sarrazac quando trata das recorrências formais na cena contemporânea. A rapsódia é, como na concepção antiga, uma narrativa épica, ou seja, que tem interesse na vida social; ou um fragmento de poema. E é, em uma direção também muito próxima ao espetáculo dirigido por Joris Lacoste, uma das formas mais livres da música, com arranjos que surgem das possibilidades de ordenação sonora em acordo com as circunstâncias, temas e influências do momento. Leia mais