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“Folha de São Paulo"

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Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

TEATRO 

Após admitir erros em edital de fomento ao teatro, secretário propõe desburocratizar prestação de contas
 

VALMIR SANTOS

Da Reportagem Local

No início da polêmica sobre alterações publicadas no 11º edital da Lei de Fomento, em maio, o secretário municipal Carlos Augusto Calil (Cultura) suspeitava de que artistas e produtores de teatro de São Paulo tentavam “politizar” o debate, pelo “tom agressivo” com que foi abordado em cartas e manifestações públicas.

Dias depois, Calil elogiou justamente a “reunião política de alto nível” que, em sua opinião, restabeleceu o diálogo na sexta passada. Entre os interlocutores que recebeu em seu gabinete, estavam os diretores José Renato, fundador do Teatro de Arena; César Vieira, do Teatro União e Olho Vivo; e representantes da Câmara Municipal e da Assembléia Legislativa.

Conclusão: Calil admitiu “erros por excesso de zelo” de sua equipe, erros técnicos em conflito com o já estabelecido em lei (como o número de indicados à comissão). Corrigiu-os e republicou o edital, prorrogando as inscrições para até 23/7.

E os artistas, representados sobretudo pela Cooperativa Paulista de Teatro, reativaram a capacidade de articulação que está na origem do Programa Municipal de Fomento em São Paulo, em vigor há cinco anos: o movimento Arte contra a Barbárie, união de grupos que, a partir do fim dos anos 90, gera documento paradigmático das políticas públicas para o setor.

Na sexta, sobrou até para um carregador de cocos, “contratado” por artistas para transportar em seu carrinho, da praça D. José Gaspar, sede da cooperativa, à Galeria Olido, base da secretaria da Cultura, os 59 projetos de grupos inscritos no edital. “A cordialidade, como disse o secretário, voltou à mesa”, diz Ney Piacentini (Cia. do Latão), presidente da cooperativa.

Mas restam arestas quanto à prestação de contas. Piacentini diz que os grupos não se negam a fazê-la, pois “defendem a transparência e o acompanhamento da secretaria desde o começo”. O problema seriam “procedimentos burocráticos”.

Em correspondência enviada a César Vieira, Calil reconhece a queixa e propõe transformar as três etapas previstas de prestação de contas em uma só, a ser realizada “até 60 dias do término do projeto”. A cooperativa estuda a sugestão.

Em dois editais por semestre, o fomento reparte cerca de 9 milhões aos núcleos de pesquisa -foram 30 em 2006. Segundo Piacentini, o programa atingiria hoje cerca de 10% da população de São Paulo (ou 1,5 milhão de pessoas), entre espectadores e trabalhadores.

A cooperativa deve publicar neste ano um livro com balanço dos cinco anos da lei pelos pesquisadores Iná Camargo Costa e Dorberto Carvalho. 

Folha de S.Paulo

São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

TEATRO 
Cia. Anjos Pornográficos estréia adaptação de poema

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

“Sem o relógio, tudo é mais afastado e misterioso”, diz uma das três veladoras da donzela morta em “O Marinheiro” (1913), poema dramático de Fernando Pessoa (1888-1935) -ou “drama estático”, como preferia-, em rara incursão pelo teatro. 

A peça tem seu título multiplicado como os heterônimos do escritor português em “Os Marinheiros”, montagem da Cia. Anjos Pornográficos que entra em cartaz hoje no Instituto Cultural Capobianco. Dirigido por Miguel Hernandez, 38, o espetáculo faz parte da Mostra Estadual de Teatro – Prêmio Desabrochar, com curadoria de Ricardo Muniz Fernandes. 

Na concepção dramatúrgica, também por Hernandez, Pessoa é convertido no morto (ou “quase morto”) velado por três mulheres. O marinheiro em questão é personagem da história narrada por uma das moças naquela noite. O enredo dela, de forte carga simbólica, fala de um homem que naufraga numa ilha e se safa, anos a fio, por meio da imaginação, a ponto de confundi-la com a realidade. 

“Situamos a ação dentro da cabeça de Fernando Pessoa em seu último dia de vida, quando internado com problemas hepáticos. Em meio a distúrbios e delírios que sofreu, ele relembra as veladoras do texto que criou na juventude”, diz Hernandez. 

O diretor co-fundou a companhia em 2000, na cidade portuguesa do Porto, onde três anos depois dirigiu sua primeira versão da obra. O núcleo paulista é de 2005. No elenco, estão Danielle Farnezi, Natália Corrêa e Virginia Buckowski. 

A mostra estadual segue até setembro, com mais duas montagens: “Ay, Carmela!”, de José Sanchis Sinisterra (4 a 26/8), e “Clarices”, com textos de Clarice Lispector (1º a 23/9). 



Os marinheiros
Onde: Instituto Cultural Capobianco -teatro da Memória (r. Álvaro de Carvalho, 97, centro, tel. 3237-1187) 
Quando: estréia hoje, às 18h; sáb., às 20h, e dom., às 18h. Até 29/7 
Quanto: R$ 20 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 30 de junho de 2007

TEATRO 

Companhia encena “Se Eu Fosse Eu…”, inspirada no livro “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres”
 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Se a obra de Clarice Lispector (1925-77) manifesta-se ao leitor como extensão da vida, então é desejável que o teatro que a visite também firme esse elo. 

“O termo presença cênica não corresponde somente ao palco, mas à vida de quem cria e de quem recebe o espetáculo”, afirma o diretor Antônio Januzelli, 66, o Janô, que assina o espetáculo “Se Eu Fosse Eu…”. 

O trabalho da Companhia Simples teve curta temporada em São Paulo, um ano atrás, e volta hoje no Núcleo Experimental de Teatro (N.Ex.T). 

Os sentidos da aprendizagem perpassam ator, espectador e escritora. A inspiração para a montagem vem justamente do romance “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres” (1969). 

Trata dos conflitos íntimos da protagonista, Lóri, para alcançar Ulisses e se deixar levar pelo sentimento amoroso. 

A iniciativa é do quarteto de atores que passou pelo Laboratório Dramático do Ator, na USP, sob coordenação de Janô. “No início, o Janô supervisionava o trabalho. Na nova temporada, ele assume a direção de vez, traz delicadeza e profundidade através de seu olhar sutil para a prática do ator”, diz a atriz Flavia Melman, 28. 

Segundo ela, o espetáculo tenta se esquivar da cortina existencial que às vezes é colocada automaticamente sobre a autora e obscurece os sentidos (de novo) da razão e da emoção. “Depois da primeira temporada, no Tusp, a gente se apresentou para públicos diversos, como adolescentes. 

Eles mergulham de outra forma, escolhem outras linhas de aproximação com o espetáculo, como as movimentações energéticas do corpo em cena”, diz Melman. A intérprete compartilha o palco com Daniela Duarte, Luciana Paes de Barros e Otávio Dantas. 

A Companhia Simples vem à luz em 2003 e logo elege Clarice como moto-contínuo de pesquisa alimentada por improvisação e expressão corporal. “Se Eu Fosse Eu…”, o primeiro espetáculo, é embrionário do experimento “Porque o Ar em Movimento É Brisa” (2005), apresentado no Sesc Pompéia.



Se eu fosse eu…
Onde: N.Ex.T (r. Rego Freitas, 454, Vila Buarque, tel. 0/xx/11/3106-9636) 
Quando: reestréia hoje, às 20h; sáb. e dom., às 20h; até 15/9 
Quanto: R$ 20
 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2007

TEATRO
Atriz volta a SP com peça de Flavio de Souza que marcou sua estréia no palco, há 18 anos 

Montagem tem direção de Walter Lima Jr. e Murilo Benício como o morto que passa a limpo relação com viúva durante velório

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

A atriz Marisa Orth tinha 25 anos quando estreou profissionalmente no palco, num teatro que se chamava Igreja, no Bexiga, em São Paulo. Fazia o papel de uma viúva na noite do velório do marido -estirado na cama, e não no caixão, encostado no corredor da casa. Afinal, era e é uma comédia mais sobre a alcova do que sobre o além. Orth, 43, volta a “Fica Comigo Esta Noite”, de Flavio de Souza, que a dirigiu em 1988. A nova montagem é assinada por Walter Lima Jr., cineasta recém-chegado ao teatro.

Estreou no Rio em 2006, girou por vários Estados e cumpre temporada em São Paulo a partir de amanhã, no Teatro Folha. 

A intérprete da viúva diz que amadureceu com as experiências desses 18 anos; ela, que se tornou uma celebridade de novelas, programas humorísticos e capas de revista masculina. “Hoje, minha idade é mais próxima à da viúva. Antes, era difícil imaginar uma mulher que tivesse vivido um casamento de mais de dez anos, sofrido desgastes. Eu era muito nova, não tinha subsídios para falar de amor e de morte”, diz Orth. 

No final dos anos 80, ela freqüentava o underground com a banda Luni, ao lado de Théo Werneck, Natália Barros e outros. Emendou depois com a banda Vexame. A carreira logo virou revezamento entre música, teatro, TV e cinema. De volta ao cartaz em um palco da cidade onde nasceu, Orth atribuiu sua revelação, na época, à qualidade do texto de Souza. Aquela versão era praticamente um monólogo. O defunto, interpretado por Carlos Moreno, tinha menos peso nas falas e ações. Agora, a atriz contracena com Murilo Benício. 

Foi com a produção carioca de 1990, dirigida por Jorge Fernando e interpretada por Débora Bloch e Luiz Fernando Guimarães, que Souza consolidou a dramaturgia. “Uma comédia de velório”, como brinca Orth. Ou uma “comédia dramática”, como prefere o autor. Ela é uma dona de casa que nunca saiu do bairro onde nasceu. O clímax de sua vida foi o casamento. Ele, funcionário de uma firma medíocre, teve o ápice da existência na morte. Na peça, os personagens atravessam presente e passado.
A viúva é a interlocutora das pessoas invisíveis que dão as caras na noite: o chefe dele, as moças do escritório, o padre, a vizinhança, os parentes etc. 

O espectador é cúmplice das falas-pensamentos do morto, que levanta da cama e circula para lá e para cá. “Faz tempo que morri. Olha, estou com o terno novo. De gravata. É a mesma do casamento. O quarto está cheio de gente. Não me puseram na sala. Ela não quis”, diz ele, em tom confessional. 

No princípio, ela não ouve as intervenções do “espírito”. Até que, na segunda parte do espetáculo, numa atmosfera de sonho, eles ficam sozinhos (todos são expulsos da casa). Finalmente, entabulam uma conversa e acertam as contas na cerimônia particular de adeus. “Apesar de certas passagens patéticas, a comédia emociona, faz o público sair do teatro e pensar sobre relações, despedidas, tempo perdido”, diz Orth.



Fica comigo esta noite
Onde:
Teatro Folha – shopping Pátio Higienópolis (av. Higienópolis, 618, 2º piso, tel. 0/xx/11/3823-2323) 
Quando: estréia amanhã, às 21h30; sex., às 21h30; sáb., às 20h e 22h; e dom., às 19h30. Até 16/9 
Quanto: R$ 60 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2007

TEATRO 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Artistas e produtores, de um lado, e Secretaria Municipal da Cultura, de outro, enfrentam-se por conta do 11ª edital do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. A Cooperativa Paulista, que representa mais de 90% dos grupos, pede alterações na lei assinadas em maio pelo secretário Carlos Augusto Calil, sobretudo quanto à obrigatoriedade de prestação de contas dos selecionados.

“Qual o problema em prestar contas? Tenho certeza de que a cooperativa é idônea”, diz Calil. Ele afirma que é determinação da Constituição Federal e da Lei Orgânica do Município. Até então a Lei de Fomento pedia a justificação de despesas por meio de relatório de atividades e de processo de espetáculo. Segundo a cooperativa, as novas exigências tornarão o processo mais burocrático.

Calil admite erros apontados no edital lançado, como o do valor máximo que poderá ser concedido a cada projeto (até R$ 577 mil, e não R$ 543 mil). Para corrigi-los, prorrogou o prazo de inscrições por um mês, até 23/7, mas resiste em voltar atrás quanto à prestação de contas.

Na manhã de anteontem, cerca de 200 artistas se manifestaram em frente à sede da secretaria, na Galeria Olido. Ney Piacentini, presidente da cooperativa, entregou a Calil carta em que relata insatisfação com “equívocos” e “abusos”.

Piacentini afirma que a lei, implantada há cinco anos, é auto-regulamentada e que nem os artistas, nem o Legislativo, teriam sido chamados para discutir as mudanças.

Nova reunião do secretário com artistas e produtores está prevista para hoje à tarde na SMC. O programa de fomento apóia a manutenção e criação de trabalho continuado de pesquisa e produção teatral. São dois editais por ano, uma composição de verba de cerca de R$ 9 milhões. 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

TEATRO

VALMIR SANTOS
Enviado especial a Praga

Entre 55 países, Brasil e Rússia coincidiram ao escolher dramaturgos de peso como eixo de suas exibições na 11ª Quadrienal de Praga (República Tcheca), que termina domingo. Na confluência da palavra para o desenho de cena, porém, Anton Tchecov se saiu melhor que Nelson Rodrigues, conforme o júri. 

No início da semana, artistas da Rússia conquistaram o troféu mais importante do encontro, pelo tratamento dado ao tema. Triunfaram sobre o uso duvidoso de tecnologias e o pendor institucional de boa parte das representações nacionais. Por 11 dias, estandes que exibem a produção contemporânea em palcos e espaços alternativos ocupam o salão central do Palácio Industrial. 

A PQ (sigla da Quadrienal) nasceu há 40 anos sob influência da Bienal de Artes de SP, que dedicava espaço ao teatro. O encontro se propõe a incentivar a formação e acolher tendências da criação e pesquisa em cenografia, figurinos e arquitetura e tecnologia para teatro. 

O estande brasileiro não decepciona dentro do que se propõe. A estrutura de ferro em espiral, co-criação de Daniela Thomas, permite ao visitante experimentar ascensão e queda ao percorrer imagens em vídeo e fotos de montagens, pontuadas por frases de Nelson Rodrigues. 

O problema talvez seja esse: a palavra rouba a cena. Não por acaso, o curador da exibição brasileira, o ator Antônio Grassi, distribuiu no local 900 livros da edição inglesa do autor publicada pela Funarte em 1998. O órgão do MinC, que Grassi presidia até 2006, investiu cerca de R$ 800 mil. Foi a verba mais robusta em participação brasileira. Desde 1967, nunca tantos profissionais ou estudantes brasileiros foram a Praga (cerca de 30), a maioria às próprias custas, em busca de aperfeiçoamento. 

Na seção de arquitetura e tecnologia, tampouco a mostra com maquetes e desenhos de obras de Niemeyer, “escondida” na ponta do espaço expositivo, convenceu o júri. Aliás, não houve premiação em arquitetura. Ao evocar Tchecov, a Rússia dá sentido orgânico à dramaturgia e ao espaço. Observada nos estandes da PQ, a cenografia até pressupõe certa autonomia, mas incorre em armadilha, posto que só ganha “corpo” quando encontra o ator, a luz, o som etc. 

O atual espírito pantanoso da Rússia é esculpido em maquetes sobre pratos, cadeiras, gaiola; enfim, suportes frágeis diante do peso da existência. Goteiras, piso encharcado e botas de borracha sugerem, quem sabe, o drama de um país em xeque.
 

O jornalista VALMIR SANTOS viajou a convite da Funarte/ MinC.

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

TEATRO
Beatriz Azevedo assina a peça “Matamoros [da Fantasia]”, adaptação do texto da poeta que começa temporada em SP 

Elenco tem Sabrina Greve como protagonista e Maria Alice Vergueiro como mãe; peça se baseia no livro “Tu Não Te Moves de Ti”  

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Ainda adolescente, “descabelada”, a poeta Beatriz Azevedo ganhou o livro “Tu Não Te Moves de Ti” das mãos da própria Hilda Hilst (1930-2004). “Ali estava “Matamoros, da Fantasia”. Este vertiginoso texto em prosa poética foi meu ponto de partida no universo literário de HH”, escreve ela no programa da sua adaptação teatral que pré-estréia hoje para convidados no Centro Cultural Banco do Brasil. A temporada começa amanhã. 

“Matamoros [da Fantasia]” é um espetáculo que reaproxima Beatriz do teatro. Nos anos 90, ela levou Oswald de Andrade, Maiakovski e outros para a cena, sempre em interseção com outras expressões artísticas, como agora: a música, as artes plásticas e o vídeo. 

“O teatro é lugar privilegiado para a palavra da Hilda. Ela é eloqüente, não é para ler em casa, aquela literatura intimista, não”, afirma Beatriz. Para protagonizar a trajetória de Matamoros, menina nascida numa aldeia longínqua, que cresce vigiada pela mãe por travar experiências sensoriais com a natureza (dialogando com o “corpo da água”, bebendo o vinho das frutas carnudas, embriagando-se com o vermelho dos morangos), a diretora usa o mesmo ímã de Hilst e traz de volta ao palco Sabrina Greve, atriz formada com Antunes Filho e há quatro anos dedicada ao cinema e à televisão. 

“A Matamoros tem um percurso a cumprir e se deixa levar pela fantasia, não discerne a realidade, parece criança”, diz Sabrina. “Começa a alimentar uma desconfiança com a mãe e dá vazão a pensamentos livres. 

Age e sofre muito por isso.” A personagem é movida pela curiosidade e atiça os meninos da aldeia. Ela contracena com a mãe Haiága (Maria Alice Vergueiro), com quem trava duelos verbais, ameaçando matá-la ou matar-se. Junto desse diálogo de gerações, Maria Alice se diz estimulada. “Como eu tenho filha e mãe, estou dando uma mergulhada nessa minha relação também. E começo a perceber que tem algum denominador comum, essa história de passar o bastão, por exemplo.” 



Matamoros [Da Fantasia] 
Quando: pré-estréia hoje (convidados), às 20h; qui. a sáb., às 19h30; dom., às 18h; até 5/8 
Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651) 
Quanto: R$ 15

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

TEATRO 

Principal evento mundial de cenografia, Quadrienal começa amanhã na República Tcheca

Por três vezes curador do Brasil na mostra, J.C. Serroni agora faz parte do júri; Daniela Thomas co-desenha estande brasileiro
 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

 
O dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) e o arquiteto Oscar Niemeyer, 99, são homenageados na representação brasileira da 11ª Quadrienal de Praga (PQ, na sigla original). A exposição abre amanhã no Palácio Industrial, complexo em estilo art noveau construído em 1891 na capital da República Tcheca. A cada quatro anos, e há quatro décadas, o encontro internacional projeta tendências na criação e pesquisa em cenografia, figurinos e arquitetura para teatro.

O universo das peças e crônicas de Nelson inspira trabalhos exibidos nas seções nacional (destinada à cenografia e a figurinos de espetáculos) e escolas de cenografia (projetos de estudantes). Niemeyer comparece no terceiro módulo do evento, o de arquitetura teatral. Leva quatro concepções de palcos italianos (Niterói, Duque de Caxias, parque Ibirapuera e Avilés, na Espanha) caracterizados por uma segunda boca de cena ao fundo, que se abre para uma praça ou um parque.

O Brasil mantém forte vínculo com o evento. As representações da antiga Tchecoslováquia na Bienal Internacional de São Paulo (1957, 1959 e 1965), encabeçadas por artistas como Frantisek Troster e Josef Svoboda, foram determinantes para a Quadrienal de Praga vir à luz em 1967. A PQ atravessou a cortina de ferro e a dissolução da URSS e alcança os 40 anos como única plataforma do gênero na contemporaneidade.

O arco de participações históricas vai da vanguarda do polonês Tadeusz Kantor ao surrealismo do espanhol Salvador Dalí. Entre os brasileiros, erguem-se duas pilastras: o carioca Helio Eichbauer, que estudou nos anos 60 em Praga com Svoboda (1920-2002), de quem tornou-se discípulo, e o paulista J.C. Serroni, por três vezes curador do país e, agora, integrante do júri internacional. A mostra é competitiva e já premiou, além do próprio Serroni, trabalhos de Gianni Ratto, Fábio Penteado, Daniela Thomas (que co-desenha o estande brasileiro), José de Anchieta, Edson Elito e outros.

Ao contrário de edições anteriores, este ano a organização não estabeleceu tema comum. Cada país cura o seu. O ator Antonio Grassi assina a representação brasileira, que organiza desde 2004, e põe em relevo sobretudo Nelson para o mundo ver.

Grassi é ex-presidente da Funarte, órgão do Ministério da Cultura que investe cerca de R$ 800 mil no encontro.

A coordenadora da PQ, Daniela Parízková, fala em “laboratório vivo” das artes cênicas. “Esperamos ver um mosaico de culturas e diferentes temas”, afirma. Ao todo, 55 países expõem na seção cenografia e figurinos; 40 em escolas de cenografia; e 25 em arquitetura e tecnologia para teatro. 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007

TEATRO 

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

Paulista radicado no Rio, Caio de Andrade, 45, escreve para teatro desde o início da década. Suas peças apresentam pano de fundo histórico. É o caso de “Trindade”, primeiro texto em palco paulistano, sob direção do próprio, a partir de hoje no teatro Aliança Francesa. 

O contexto é o da disputa entre os segmentos civil e militar no início da República. Em 1909, a sucessão presidencial é disputada pelo marechal Hermes da Fonseca e pelo escritor Rui Barbosa, derrotado. 

“Era um momento de confusão política, vários poderes tentavam se estabelecer. Era a chance para falcatruas”, diz Andrade. Espetáculo carioca de 2004, remontado para a nova temporada, “Trindade” põe em relevo o drama do jovem médico Emílio (Pedro Neschling). 

Criado pela família de um general (Luciano Chirolli), o rapaz se depara com o pai natural (Guilherme Leme), que dava por morto. Sabe-se depois, virou militante da causa operária. Encontros clandestinos expõem os conflitos. Para Andrade, a configuração é brechtiana, à la “O Círculo de Giz Caucasiano”, que põe em xeque os direitos da mãe que dá à luz sobre aquela que cria. 

“O personagem vive o dilema entre o general que o criou e o pai que foi lutar por um mundo melhor. Estão em jogo também os limites que a história impõe a cada pessoa”, diz o autor. Chirolli, 45, ilustra o assunto com uma citação de Sartre: “Você é aquilo que você faz do que fizeram de você”. 

Para Leme, 46, que vive o pai em identidade dupla, a peça constata que transformações se dão a partir do questionamento individual da ordem e das instituições. A Neschling, 25, coube estabelecer a trilha, angústia juvenil sintonizada em bandas como Muse e Radiohead.



Trindade
Quando: estréia hoje, às 22h; sáb., às 22h; dom., às 20h; até 29/7 
Onde: teatro Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, tel. 0/xx/11/3188-4141) 
Quanto: R$ 20 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

TEATRO 
De hoje a 23/6, evento paranaense recebe 42 espetáculos vindos de nove países 

A companhia experimental Big Dance Theatre é uma das atrações inéditas; evento também inclui nova peça do Grupo Galpão

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem local 

O espectador de Londrina, no norte paranaense, é ensinado a olhar o teatro e a dança com abertura e criticidade raramente encontradas em outras platéias do Brasil. São 39 anos de formação, desde a primeira edição do encontro universitário de grupos, no emblemático 1968, até a consolidação do Festival Internacional de Londrina, em 1988. 

A edição do Filo que começa hoje e prossegue por 18 dias, até 23/6, é representativa dessa exigência na recepção. São 42 peças com os mais variados formatos: o drama clássico, o teatro de bonecos, de objetos, de sombras, de animação e de rua, passando por dança contemporânea, intervenção aérea, circo, mágica e música. 

Quem abre o festival esta noite, no Teatro Ouro Verde, é a companhia colombiana de dança contemporânea L’Explose. Em “La Mirada del Avestruz”, nove personagens se desprendem de seus limites físicos e simbólicos num espaço cênico coberto de terra. A montagem dirigida por Tino Fernández quer remeter à dimensão da memória e à recuperação de uma história coletiva. A proposta é fazer uma reflexão sobre a realidade do país e seus entraves sociais e políticos. 

Ao enfiar a cabeça no buraco, o avestruz foge de seus temores. É a metáfora da criação de Fernández para questionar formas de violência na atualidade -eixo efetivamente explosivo com o qual a L’Explose lida artisticamente desde sua fundação, em 1995.

A Colômbia é única representante da América do Sul, exceção óbvia do Brasil, o que contrasta com edições anteriores em que o Filo deu mais ênfase à produção vizinha. Entre os nove países da programação deste ano, prevalece o recorte europeu (Espanha, Suíça, França, Inglaterra, Bélgica e Rússia). A América do Norte é representada por México e EUA. 

Pequenos milagres
É justamente americana uma das atrações inéditas em solo brasileiro: a companhia experimental Big Dance Theatre, nascida em Nova York em 1991. Assinada pela dupla Paul Lazar e Annie-B Parson, a coreografia “The Other Here” (o outro aqui) mescla dança, teatro e desenho visual com inspiração nas histórias clássicas do escritor japonês Masuji Ibuse (1898-1993). 

Outro destaque é o grupo russo Derevo (árvore), fundado em 1988 pelo ex-integrante de banda de rock Anton Adassinski. Já conhecido de apresentações na própria Londrina e em São Paulo (por onde passa antes do Filo, de 14 a 17/6, no teatro Sérgio Cardoso), desta vez o coletivo traz “Ketzal” (mítica entidade voadora presente na tradição indígena mexicana), com a promessa de repetir impacto na expressão corporal. 

A nova montagem do Grupo Galpão, “Pequenos Milagres”, também participa do Filo. E com a deferência de duas “pratas da casa” na criação, o diretor Paulo de Moraes (que fundou na cidade a Armazém Companhia de Teatro, em 1987, hoje radicada no Rio) e o poeta e dramaturgo Maurício Arruda Mendonça. 

Ao todo, foram selecionados espetáculos de sete Estados. O diretor do festival, Luiz Bertipaglia, estima que as 102 atrações da grade, entre palco e rua, devam atrair cerca de 100 mil espectadores. O orçamento é estimado em R$ 1,8 milhão.



Festival internacional de Londrina 
Quando: de hoje a 23/6 
Quanto: R$ 10. Ingressos à venda no Royal Plaza Shopping (r. Mato Grosso, 310, tel. 0/xx/43/3322-7437) 
Mais informações: pelo site 
www.filo.art.br