Menu

Reportagem

O que o teatro e a dança gaúchos miram em 2014

17.1.2014  |  por Fábio Prikladnicki

Foto de capa: Alvaro RosaCosta

Confira os espetáculos que alguns dos mais destacados nomes do teatro e da dança no Rio Grande do Sul preparam para este ano.

Blecautes

Montagem de texto do escritor americano Paul Auster que homenageia Samuel Beckett, DentroFora amealhou o Prêmio Açorianos de Teatro de 2009 nas categorias de melhor ator (Nelson Diniz) e cenografia (Elcio Rossini). Agora, a equipe do bem-sucedido espetáculo retorna com a peça Blecautes, também assinada por Auster. Além de Diniz, estão no elenco Liane Venturella e Carlos Ramiro Fensterseifer [foto no alto da página]. A companhia In.Co.Mo.De-Te convidou Ramiro Silveira para dirigir essa trama de mistério que se passa em uma repartição pública onde cada personagem é um espião em potencial. A peça estreará no dia 26 de julho, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.

Retrospectivas

Depois de estrear três trabalhos em 2013, a Cia. Rústica vai olhar para o passado recente em 2014, quando completa 10 anos. Realizará uma mostra de repertório, em maio, no Festival Palco Giratório Sesc-POA, e pode estrear um show em formato de cabaré com músicas de espetáculos apresentados desde 2004.

A companhia Stravaganza, que completou 25 anos em 2013, circulará pelo país e estará com cinco peças no Festival Palco Giratório, que ainda deve contar com mostras de outros grupos locais.

O Teatro Sarcáustico também vai comemorar 10 anos com uma retrospectiva, que deve ocorrer até o início do segundo semestre. O grupo prepara Hollywood e por quanto Marilyn vendeu sua alma (segunda parte da trilogia iniciada pelo premiado Wonderland) e um solo de Daniel Colin com textos de Chuck Palahniuk (autor do romance que deu origem ao filme Clube da Luta).

II Guerra

Capítulo menos conhecido da II Guerra, a perseguição nazista aos homossexuais será o tema da peça Os homens do triângulo rosa, do Teatro ao Quadrado, com previsão de estreia para outubro. A direção será de Margarida Leoni Peixoto, e o elenco contará com Marcelo Ádams, Gustavo Susin e Carlos Paixão, entre outros. O título faz referência ao triângulo rosa que os homossexuais eram obrigados a utilizar em suas vestimentas. O projeto é acalentado há quatro anos. Ádams comenta:

– Nos últimos tempos, foi lançada no Brasil uma série de livros sobre relatos de homossexuais perseguidos. A II Guerra é um tema frequentemente abordado no cinema, mas não tanto no teatro.

Mutantes

Um espetáculo de dança contemporânea para crianças é o que promete o coreógrafo Airton Tomazzoni. Guia improvável para corpos mutantes teve sessões em junho de 2013, em São Paulo, e estreia em Porto Alegre em abril deste ano, em um projeto que também prevê a realização do 1º Fórum Nacional de Dança, Infância e Juventude. Antes, em março, o Centro Municipal de Dança – do qual Tomazzoni é coordenador – realiza, no Auditório Araújo Vianna, uma maratona com quatro horas de performances e participação de mais de 30 grupos de diversos gêneros, no aniversário da cidade. Na ocasião, será lançado o primeiro volume da série de livros Escritos da dança, que documenta a produção local.

Violência

Uma das mais importantes coreógrafas do país, Eva Schul pretende estrear, ainda no primeiro semestre, o espetáculo Acuados, em que um elenco com três casais de bailarinos representa relações de abuso e submissão.

– Estamos em um momento em que as relações entre os casais estão muito conturbadas. Há pessoas que não querem relacionamentos estáveis e há, de outro lado, relações baseadas em aspectos doentios. O número de mulheres sendo abusadas e inclusive mortas pelos companheiros cresceu de tal maneira que resolvemos falar desse tema – explica Eva.

A trajetória da coreógrafa foi tema de um dos episódios da série de documentários Figuras da dança, produzidos pela São Paulo Companhia de Dança. O audiovisual foi exibido na TV em 2013, e a previsão de lançamento do DVD na Capital é no dia 28 de março.

Multimídia

Entre junho e novembro, a Muovere Cia de Dança apresentará uma programação intensa para comemorar os 25 anos de atividade. O projeto Manifesto 25 contará com um curta-metragem baseado no espetáculo Re-sintos, um livro digital com fotos e depoimentos de bailarinos, diretores, pesquisadores e críticos e, finalmente, um espetáculo que aproveitará materiais do processo de criação do filme.

– Trata-se de um exercício de possibilidades intercambiáveis entre linguagens, mídias, culturas e influências de diferentes backgrounds na construção de um produto híbrido, heterogêneo e contemporâneo – observa Jussara Miranda, coreógrafa da companhia.

Re-sintos, da Muovere, objeto de livro e curta

Qorpo-Santo

Está prevista para maio a estreia de um espetáculo sobre a vida e a obra de Qorpo-Santo (1829 – 1883), dramaturgo e escritor que teve seus 130 anos de morte completados em 2013. A peça será construída a partir do romance Cães da província, de Luiz Antonio de Assis Brasil, que trata da vida do autor, de fragmentos de peças de Qorpo-Santo e dos volumes 7 e 9 de sua monumental Ensiqlopèdia. A direção será de Inês Marocco, responsável pelas peças O sobrado e Incidente em Antares, ambas baseadas na obra de Erico Verissimo – sucessos do teatro gaúcho produzidos pelo grupo Cerco, com jovens talentos. Agora, Inês trabalha com outro grupo de alunos. O espetáculo ainda não tem título definido.

Lupicínio, o musical

Para celebrar o centenário de nascimento de Lupicínio Rodrigues, deve estrear em maio o espetáculo Lupi, o musical – Uma vida em estado de paixão, escrito por Artur José Pinto e dirigido por Zé Adão Barbosa. Juliano Barreto vai representar o compositor nesta produção que terá trilha sonora executada ao vivo por uma banda e contará com mais de 10 atores no elenco.

Não será o primeiro espetáculo dirigido por Zé Adão em 2014. Em abril, estreia Antes do fim, um “quase monólogo” com o experiente ator João Carlos Castanha, também autor do texto, com fortes elementos autobiográficos. É uma “comédia sobre a morte”, segundo Zé Adão. Rose Canal contracenará com Castanha – que ainda é tema de um longa selecionado para o Festival de Berlim.

Reality show

Vencedor do Prêmio Açorianos de Dança de 2012 pela direção do espetáculo Fauno, Alexandre Dill assinará duas produções com o GRUPOJOGO. Em agosto, deve estrear Fram, senão o amor acaba (fram significa “para a frente” em sueco), título provisório desse trabalho baseado em passagens de Shakespeare que tratam de amor. Aqui, a companhia segue o hibridismo entre linguagens, como o teatro e a dança, que marca sua trajetória.

Em setembro, será a vez de uma encenação da peça Deus é um DJ (ainda sem título definitivo), do alemão Falk Richter, sobre um casal de artistas convidados para expor suas vidas como se fosse um reality show. A curiosidade é que o espetáculo será encenado em apartamentos. Câmeras espalhadas pelos cômodos permitirão que o público assista, em tempo real, ao que está se passando com os personagens.

Incesto

Seguindo a incursão pela dramaturgia atual que resultou na peça Marxismo, ideologia e Rock’n’roll, de Tom Stoppard, em 2013, o diretor Luciano Alabarse estreia, ainda no primeiro semestre, A vertigem dos animais antes do abate, do autor grego contemporâneo Dimítris Dimitriádis. A peça mostra 30 anos na vida de uma família cujas relações são marcadas pelo rompimento de tabus sexuais, como o incesto. A pulsão é o que movimenta a história.

Embora já tenha sido publicado em livro em Portugal, o teatro do dramaturgo jamais foi encenado no Brasil, segundo pesquisa de Alabarse.

– O (músico) Arthur de Faria também leu essa peça e disse que é uma mistura de tragédia grega com Nelson Rodrigues. E tem toda razão – diz o diretor.

Dimitriádis é um autor já montado pelo diretor francês Patrice Chéreau, morto em 2013, um dos ídolos de Alabarse.

>> Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, páginas 6 e 7, em 17 de janeiro de 2014.

Peça que Chéreau montou em 68 e Alabarse evocará

Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.

Relacionados