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Reportagem

Octavio Camargo encena os 24 cantos da ‘Ilíada’

21.3.2014  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Gilson Camargo

Para o compositor Octavio Camargo, Curitiba tem uma tradição arcadista que remonta ao movimento simbolista encabeçado por Dario Velloso – e é dessa fonte, também preenchida por gente como Paulo Leminski, que ele bebe em seu projeto ilíadahomero. A partir de abril, ele e um grupo de 24 atores encenarão todos os cantos da Ilíada, em uma apresentação por mês, durante dois anos. O projeto tem o apoio do Teatro Guaíra e a intenção é realizar as récitas no Teatro Londrina, no Memorial de Curitiba.

A ideia é antiga: em 1999, Camargo e alguns atores estudaram o primeiro canto da obra, na tradução de Manoel Odorico Mendes (1799-1864). “Naquele momento de fim de milênio, nos voltamos a esse que é o texto mais antigo de que se tem notícia para fazer uma ponte entre o contemporâneo e o clássico”, contou à Gazeta do Povo.

Da experiência surgiram uma companhia teatral com o mesmo nome do projeto e apresentações do monólogo baseado nesse primeiro texto com a überatriz Claudete Pereira Jorge, a partir de 2006. A peça foi reapresentada não só no Festival de Curitiba e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, mas também na primeira bienal de arte contemporânea de Tessalônica, na Grécia (2006), e no Festival Brasileiro de Teatro de São Paulo, no ano passado.

Seguiram-se o Canto 22, com Patrícia Reis, com uma apresentação memorável no Teatro São João, na Lapa; o 16, com Richard Rebelo, convidado para encená-lo no Museu da República do Rio de Janeiro; e o 3, com o ator Lori Santos. Novas récitas foram encomendadas por bibliotecas, reafirmando o caráter litério/musical/teatral do projeto, bem como seu propósito educativo. Apesar de as apresentações terem o caráter de monólogo, com texto falado, o uso do termo “cantos”, de acordo com Camargo, está ligado ao conteúdo poético da escrita. “Cantar e recitar são sinônimos”, defende.

As apresentações duram de 40 minutos a uma hora e têm a exímia iluminação de Beto Bruel, premiado com o Gralha Azul em 2001 por Canto 1. Na peça, há mais de cem mudanças de luz, o que auxilia a cenografia e ambientação. A escolha de qual canto cada ator fará tem sido pessoal, baseada na preferência e na identificação do grupo com os trechos.

Claudete Pereira Jorge e Octavio Camargo em ensaioSem créditos

Claudete Pereira Jorge e Octavio Camargo em ensaio

O trabalho chama a atenção não só pela persistência, mas também pelo estofo intelectual, que parte do estudo minucioso do texto, debruçando-se sobre vocabulário e referências histórias. Para isso, um grande auxílio foi trazido pela edição recente de todo o texto de Homero pelas editoras Ateliê e Unicamp, com comentários do curitibano Sálvio Nienkötter.

“É um projeto erudito, mas a ideia é popularizar a leitura por meio da boa atuação”, explica Camargo. Com a representação tarimbada e bastante pesquisada dos atores convidados, até mesmo palavras já em desuso no português ganham significado compreensível. E, por incrível que pareça, o texto recobra grande atualidade.

.:. Publicado originalmente na Gazeta do Povo, Caderno G, p. 8, em 9/3/2014.

Serviço:

ilíadahomero
Monólogos mensais com a leitura de toda a Ilíada, de Homero (Cantos 1 a 24). Início previsto para abril, em data e local a definir.

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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