Reportagem
8.4.2014 | por Helena Carnieri
Foto de capa: Susan Sampaio - Clix/FTC
Para jornalistas de fora da cidade que acompanham há tempos o Festival de Curitiba, o evento deste ano trouxe um estranho esvaziamento. Apesar de a organização ter registrado a presença de 230 mil espectadores no total, o grande número de espetáculos na mostra principal (eram 34, mais 4 de rua) causou divisão na plateia – dessa vez não foram tantas as atrações com ingressos esgotados e sempre havia poltronas vagas nas apresentações.
Para Gustavo Fioratti, da Folha de S.Paulo, as ruas pareceram menos ocupadas, apesar da realização de 56 peças ao ar livre. “Ficou a sensação de um evento mais recluso aos teatros e ocupando menos espaços alternativos. O Fringe perdeu sua anarquia positiva”, disse durante debate da crítica especializada realizado pelo blog Teatrojornal, do qual a Gazeta do Povo participou. “Depois da organização em mostras, não se tropeça mais em espetáculos-surpresa de que ninguém tinha ouvido falar”, explica a especialista em artes cênicas Soraya Belusi [blog Horizonte da Cena].
Também presente ao evento de debate, o crítico Daniel Schenker se preocupa com o que considera uma “vontade de abraçar o mundo”, referindo-se ao aumento no número de peças internacionais. Quem discorda é Luciana Romagnolli [blog Horizonte da Cena], ex-crítica da Gazeta do Povo: “É a única oportunidade para o curitibano ver espetáculos que nunca viriam à cidade”, pondera.
Em relação à mostra principal, o jornalista de O Globo Luiz Felipe Reis acredita que as escolhas da curadoria ainda são conservadoras – com efeito, as opções consideradas experimentais eram em maior maior número no ano passado.
Sobre as opções artísticas da mostra paralela Fringe, o criador do Teatrojornal, Valmir Santos, destaca o retorno do apuro na dramaturgia e o grande número de transposições literárias – incluindo textos brasileiros recentes, como da curitibana Luci Collin e do gaúcho Caio Fernando Abreu.
“Mário Bortolotto, de Londrina, surpreendeu pela sensibilidade nas questões femininas em Whisky e Hambúrguer”, exemplificou Valmir, referindo-se ao texto escrito, atuado e dirigido pelo paranaense.
Também na mostra principal, houve grande número de adaptações de importantes dramaturgos, o que indica que a criação colaborativa, muito popular nos anos 90, não é mais hegemônica.
Acidente
O clima de apreensão permeou toda a extensão do festival depois que o humorista Fagner Zadra sofreu uma fratura na região do pescoço ao ser atingido por uma enorme máscara de isopor duro logo na festa de abertura do evento.
O comediante, conhecido pelas esquetes Tesão piá!, está internado no Hospital Marcelino Champagnat desde 26 de março, em quadro estável, mas sem movimento nas pernas por enquanto. O último boletim médico divulgado informou que Fagner passará por um tratamento de reabilitação de no mínimo três meses.
.:. Publicado originalmente na Gazeta do Povo, Caderno G, em 8/4/2014.
Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.