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Reportagem

Para Fagundes, ‘Tribos’ reflete intolerâncias

30.5.2015  |  por Fábio Prikladnicki

Foto de capa: João Caldas

A dramaturga inglesa Nina Raine teve a ideia de escrever a peça Tribos depois de assistir a um documentário em que uma mulher grávida e seu marido expressavam o desejo de que o bebê fosse surdo, assim como eles. Nina se deu por conta de que os pais querem passar aos filhos não apenas valores e conhecimentos, mas também sua linguagem.

Esse foi o ponto de partida do espetáculo que estreou no Royal Court Theatre, em Londres, em 2010, depois foi remontado em Nova York, em 2012, e, no ano seguinte, estreou em versão brasileira pelas mãos do experiente diretor Ulysses Cruz, tendo à frente do elenco Antonio Fagundes no segundo trabalho teatral ao lado do filho Bruno -– o primeiro foi Vermelho, apresentado em Porto Alegre em 2012, no qual Fagundes interpretava o pintor americano Mark Rothko.

No drama cômico Tribos, que tem sessões em Porto Alegre neste sábado (30/5), às 18h e às 21h, e domingo (31/5), às 17h, pai e filho retornam ao Theatro São Pedro para encenar a história de Billy (vivido por Bruno), um garoto com deficiência auditiva às voltas com as dificuldades de comunicação em uma estrepitosa família na qual, paradoxalmente, ele parece ser o que melhor sabe ouvir. A relação com o pai (Fagundes), a mãe (Eliete Cigaarini) e os irmãos (Guilherme Magon e Maíra Dvorek) começa a mudar quando Billy encontra Sylvia (Arieta Correa), uma jovem em processo de perda auditiva que lhe ensina a língua de sinais. Então: quem deve fazer esforço para se comunicar com o outro? A surdez abordada na peça é literal e também metafórica, como explica Antonio Fagundes:

“Aparentemente, são duas as tribos de que ela (a autora Nina Raine) trata no espetáculo: os ouvintes e os deficientes auditivos. Mas, ao longo do texto, você percebe que essas tribos se multiplicam por outras mil. Se você fizer um pequeno exercício e tirar do centro da trama o deficiente auditivo e colocar um homossexual, negro, judeu ou qualquer outra minoria acossada preconceituosamente pelo resto da sociedade, vai perceber que a estrutura da peça permanece de pé.”

Acho que o patrocínio, de uma certa forma, vem nos distanciando das plateias

Fagundes adianta que está à procura de um novo texto para encenar com Bruno, mas por enquanto a novidade é que retornarão a cartaz com Vermelho em setembro, em São Paulo.

“Sempre tivemos uma relação familiar muito harmoniosa. Podia ser muito desgastante profissionalmente se a gente não pensasse igual nessa área. Mas minha experiência com ele em Vermelho, com a qual ficamos em cartaz mais de um ano, foi tão produtiva que resolvemos repetir em Tribos.

O ator explica que criou uma cooperativa com seus parceiros de palco para viabilizar a peça exclusivamente com renda de bilheteria, sem patrocínios, em um modelo pouco comum no país:

“Este é um sistema que pretendo estender para qualquer espetáculo que fizer. Acho que o patrocínio, de uma certa forma, vem nos distanciando das plateias. É muito bom saber que estamos há quase dois anos em cartaz, caminhando para os 200 mil espectadores, e o espetáculo continua aí por escolha do público.”

.:. Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, p. 1, em 30/5/2015.

Serviço:
Onde: Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº, Porto Alegre, tel. 51 3227-5100)
Quando: sábado (30/5), às 18h e às 21h (sessão com intérprete
de Libras), e domingo (31/5), às 17h
Quanto: R$ 40 a R$ 150

Elenco da montagem brasileira da inglesa Nina RaineJoão Caldas

Elenco da montagem brasileira da peça da inglesa Nina Raine

Ficha técnica:
Texto: Nina Raine
Direção: Ulysses Cruz
Tradução: Rachel Ripani
Com: Antonio Fagundes, Arieta Correa, Bruno Fagundes, Elite Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek
Figurinos: Alexandre Herchcovitch
Cenografia: Lu Bueno
Iluminação: Domingos Quintiliano
Trilha sonora: André Abujamra
Assistência de direção: Rachel Ripani
Fotos estúdio: Jairo Goldflus
Fotos de cena: João Caldas
Vídeo cenário: Midiadub + ninguém
Assessoria de imprensa: Coletiva Comunicação
Programação visual: BUMMUB
Tradutora e intérprete de Libras: Mirian Caxilé
Cenotécnicos: Denis Nascimento, Jorge Ferreira, Marcelo Feitosa, João Pereira, Guilherme Nascimento e Fábio de Souza
Produção de arte: Lívia Burani
Assistente de figurinos: Daniel Raad
Assistente de cenografia: Moshe Motta
Operação de luz: Marcos Favero
Operação de som: Kleber Marques
Equipamentos de projeção: ON Projeções Ltda
Contabilidade: Contábil Lagoa Azul
Assistência de produção e operação de vídeo: Danny Cattan
Direção de produção: Germano Soares Baía
Parceria: Bottega D’Arte Produção Artística e Cultural
Produtores associados: Antonio Fagundes e Bruno Fagundes
Realização: Tribos Produções Culturais

Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.

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