30.7.2020 | por Valmir Santos
Para usar um termo corrente no meio audiovisual, a série Cena inquieta transmite uma sensação de delay. O efeito acústico atrasado em relação à imagem é lembrado porque o poder transformador da arte que emana de vozes e corpos nos dois primeiros episódios destoa do presente de um país em decomposição. A falta de sincronia não é gerada pelos idealizadores e realizadores dos 26 documentários em exibição no canal SescTV, desde a semana passada, mas pelo fracasso de parte da sociedade civil e dos representantes políticos em colocar de pé um sistema nacional de cultura, em sentido estrito, como previsto na Constituição de 32 anos atrás, ou ao menos não desmanchar o que as gestões de Gilberto Gil estruturaram minimamente no extinto Ministério da Cultura.
Leia mais21.7.2020 | por Valmir Santos
A primeira vez que conversaram foi por escrito. Em carta de 4 de fevereiro de 1942, o estudante de ciências sociais Florestan Fernandes pediu desculpas pela “intrometida intimidade” e discorreu sobre a qualidade dos artigos que o assistente da cadeira de sociologia, Antonio Candido, publicava no jornal Folha da Manhã. Dias depois, conheceram-se presencialmente, nos corredores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a antiga FFCL, no prédio da rua Maria Antônia, região central de São Paulo. Na ocasião, Fernandes lia um livro sobre Buda e não se conteve: deu “uma aula” a propósito do príncipe nepalês cujo nome significa aquele que despertou do sono da ignorância.
Leia mais25.6.2020 | por Valmir Santos
Uma ilha cercada pelas águas do lago Guaíba, na Grande Porto Alegre, e um apartamento térreo na região da Avenida Paulista, em São Paulo, foram escolhidos como territórios poéticos de espetáculos em que a arte problematiza a experiência de confinamento. Exibidos em vídeo no Palco Virtual, novo espaço dentro da programação online do Itaú Cultural, as obras têm seus efeitos amplificados à luz da quarentena. Afinal, quais figurações possíveis ao corpo, à violência, à dor e à morte nos dias de hoje? Acrescente-se mais um caminho, o do medo, extraído de um conto milenar que se passa numa casa na floresta, e o quadro desenhado torna-se ainda mais sugestivo à reflexão.
Leia mais16.6.2020 | por Valmir Santos
Nova ação do Centro Cultural São Paulo revela mais uma face de como a arte presencial busca maneiras de se reinventar na crise humanitária da Covid-19. Treze pessoas que escrevem para teatro foram convidadas a endereçar textos curtos não para a cena, dessa vez, mas para alguém de livre escolha que também tenha praticado o ofício. A maioria dos destinatários da série 13 cartas imaginadas morreu, exceção a duas, uma delas filha da ficção.
Leia mais4.6.2020 | por Valmir Santos
Na sessão de estreia de Mãe coragem e seus filhos no 11º Festival de Curitiba, em 22 de março de 2002, Maria Alice Vergueiro tropeçou no tablado e caiu na cena final. Era o momento em que a personagem puxa a carroça cenográfica, dessa vez sozinha, pois perdeu os três filhos para a guerra, sendo a caçula morta havia poucos minutos. Pragmática, Anna Fierling segue no encalço do próximo regimento para exercer o seu comércio ambulante de comida e bebida junto aos soldados. Assim que as cortinas do Teatro Guairinha se fecharam, a atriz foi acolhida por pessoas do elenco e da equipe que a acompanharam a um hospital. “Até que ficou bem a Coragem caída naquele momento”, brincou no trajeto. Ela deslocou o ombro direito, sentiu dores, mas não recuou do compromisso da apresentação na noite seguinte.
Leia mais1.4.2020 | por Valmir Santos
Espetáculos internacionais da sétima edição da MITsp permitiram examinar sentimentos contraditórios da sociedade global diante do imponderável ditado pela pandemia. A curadoria soou premonitória ao circunscrever trabalhos que expuseram nuances da vulnerabilidade humana nesta hora da História e formas de distanciamento social a que agora os brasileiros estamos enquadrados não como metáfora, mas sob a concreção da medida sanitária preventiva que um terço das nações adotou com vistas a não sobrecarregar os sistemas de saúde e minimizar o número de mortes.
Leia mais23.3.2020 | por Marco Antonio Rodrigues
Da sala de ensaio que coabito há décadas à experiência da escrita ensaística aqui ensejada, este artigo comparte angústias, lutas e belezas de quem ama as artes da cena e a partir delas aprendeu a cultivar o discernimento crítico da realidade.
Leia mais10.5.2019 | por Valmir Santos
Entre as últimas montagens de Antunes Filho, Nossa cidade (2013), a partir da peça de Thornton Wilder, e Eu estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse (2018), de Jean-Luc Lagarce, podem ser lidas como cerimônias de adeus do artista que jogou até o fim em sete décadas de dedicação contínua à arte do teatro, incluída a fase amadora.
Leia mais16.4.2019 | por Teatrojornal
O anúncio de que o italiano Eugenio Barba vai deixar a direção do Nordisk Teaterlaboratorium surpreendeu a comunidade internacional do teatro no fim de março. Sediado em Holstebro, cidade do noroeste da Dinamarca, o organismo mantenedor das atividades do grupo Odin Teatret e demais projetos artístico-culturais abriu um processo público para selecionar o futuro homem ou mulher que vai assumir o leme a partir de 1º de janeiro de 2021.
Leia mais20.2.2019 | por Valmir Santos
A reedição da peça Rasga coração e a inédita adaptação cinematográfica de mesmo nome, dirigida por Jorge Furtado, transformaram o recesso teatral de fim/início de ano em oportunidade de acercamento ao último texto de Oduvaldo Vianna Filho para teatro. Livro e filme demonstram o quanto o drama tem a dizer à sociedade 44 anos depois de Vianinha, como era conhecido, concluí-lo a duras penas, num 23 de abril, mesmo dia da morte de Shakespeare no século XVII e a 85 dias de sua própria morte, em 16 de julho de 1974. Leia mais