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Reportagem

Em nova edição, FIT dá pouca atenção à produção nacional

9.7.2013  |  por Maria Eugênia de Menezes

Foto de capa: Enrico Fedrigoli

Um festival para São José do Rio Preto. Em sua 13.ª edição, o evento do oeste paulista permanece como o maior e mais importante do gênero no Estado. Mas, assim como já havia demonstrado em anos anteriores, traz poucas novidades para quem não mora na cidade. Não há estreias nacionais. E considerável parcela da programação já foi vista tanto em capitais, como Rio e São Paulo, quanto em outros festivais.

É o caso de Os bem intencionados, da cia. Lume, e de Ficção, da cia. Hiato. São obras de inegável qualidade. Das melhores da safra de 2012. Ambas, contudo, tanto já cumpriram temporada na capital paulista quanto estiveram no último festival de Curitiba. “Mesmo sem estreias, tentamos garantir o frescor dessas obras”, comenta Sergio Luis Oliveira, um dos curadores da edição, que abre hoje e vai até o dia 13. “São as mais frescas que conseguimos encontrar e formam um conjunto afinado e coerente. ”

Nesse contexto, as atenções devem naturalmente se voltar para a ala internacional. Essa é, aliás, a tônica que se repete há algumas edições. Impressão sublinhada pela escolha de um título estrangeiro para abrir a grade: Discurso de un hombre decente, do Mapa Teatro, da Colômbia.

Um breve olhar sobre a programação demonstra que, a despeito das mudanças constantes na curadoria, o FIT permanece fiel a certos princípios: valoriza novas linguagens, busca experimentações e um panorama que destoe do convencional. Apesar disso, não foram as questões formais que ditaram as escolhas deste ano. De acordo com Oliveira, um dos aspectos considerados foi a fruição do espectador. “Não queríamos discutir se uma obra é mais ou menos experimental em sua linguagem. Independentemente da forma, a intenção era ver como essas peças tocam o público, como podem colocar quem assiste em estado de alerta”, observa.

Tal potência pode ser vista claramente em criações como Peep classic Ésquilo, desestabilizadora série da Cia. Club Noir a partir do legado do dramaturgo grego. Da companhia italiana Fanny&Alexander, o espetáculo Him (visto em São Paulo na mostra Sesc de Artes 2012) também deve embaralhar as percepções do espectador. Sozinho em cena, o ator Marco Cavalcoli veste-se qual Hitler. Mas seu discurso destoa da imagem. Enquanto o clássico do cinema O mágico de oz é projetado em tela gigante, ele dubla as vozes de todos os personagens.

Outro território friccionado pela curadoria foi a zona cinzenta entre o que é verdade e aquilo que é pura invenção. Predominante na cena atual, a dramaturgia dita “documental” bebe cada vez mais na realidade para se inventar. Os chilenos do Teatro Kimen destacam-se nessa seara. Galvarino é baseado em um testemunho da tia da diretora, Paula González Seguel. Conta-se a história verídica de uma família mapuche, etnia predominante no país, que aguarda o retorno de um filho exilado na Rússia havia 30 anos.

Segundo Sergio Luis Oliveira, também serviu como traço norteador a relação que as peças podem estabelecer com a cidade. Espetáculos de rua sempre estiveram presentes no evento. “Mas a intenção era ir além de criações que usam a cidade como cenário”, ressalva. O espaço urbano, nessa concepção, é eminentemente político. Lugar onde a ficção serve para evidenciar as contradições e deformações da vida cotidiana. Em Histórias suspensas, os portugueses da cia. 360º usam uma caixa tridimensional como cenário. Do armário, disposto em áreas públicas, saltam os atores.

Crítica teatral, formada em jornalismo pela USP, com especialização em crítica literária e literatura comparada pela mesma universidade. É colaboradora de O Estado de S.Paulo, jornal onde trabalhou como repórter e editora, entre 2010 e 2016. Escreveu para Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010. Foi curadora de programas, como o Circuito Cultural Paulista, e jurada dos prêmios Bravo! de Cultura, APCA e Governador do Estado. Autora da pesquisa “Breve Mapa do Teatro Brasileiro” e de capítulos de livros, como Jogo de corpo.

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