Jornalista, crítica e doutora em artes cênicas pela USP. Edita o site Teatrojornal - Leituras de Cena. Tem artigos publicados nas revistas Cult, Sala Preta e no livro O ato do espectador (Hucitec, 2017). Durante 15 anos, de 1995 a 2010, atuou como repórter e crítica no jornal O Estado de S.Paulo. Entre 2003 e 2008, foi comentarista de teatro na Rádio Eldorado. Realizou a cobertura de mostras nacionais e internacionais, como a Quadrienal de Praga: Espaço e Design Cênico (2007) e o Festival Internacional A. P. Tchéchov (Moscou, 2005). Foi jurada dos prêmios Governador do Estado de São Paulo, Shell, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e Prêmio Itaú Cultural 30 anos.
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textos
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24.4.2015 | por Beth Néspoli
Uma dança da chuva ao som de uma canção ritual croata abre no sábado, 25/4, no Teatro Oficina, a temporada de O banquete com dramaturgia e direção de José Celso Martinez Corrêa. A retomada da obra de Platão, já encenada pelo grupo Uzyna Uzona em 2009, se dá como contraponto ao atual momento político brasileiro de conservadorismo estridente. Contra o ódio desagregador, o Oficina propõe Eros como afeto político apostando nos vínculos amorosos como propiciadores de uma sociabilidade atravessada por mais ética e sabedoria, pensamento socrático que está no cerne de O banquete. Leia mais
15.3.2015 | por Beth Néspoli
Em se tratando de uma criação que vem de Moscou, a primeira cena do espetáculo Opus nº 7 – a transformação de uma trabalhadora em cantora lírica – pode ser lida como síntese de um período privilegiado na história da humanidade, transcorrido nos anos seguintes à revolução bolchevique de 1917, quando a utopia de uma nova sociedade pareceu possível. Bastaria o empenho de mãos humanas dispostas ao trabalho criativo para alterar a matéria do mundo. Tal pensamento, e suas implicações, parece fundar a linguagem do diretor russo Dmitry Krymov, cenógrafo e artista gráfico cuja encenação se constitui como um embate dos atores com os objetos cênicos. Sua poética privilegia imagem e música – aspecto que facilita e intensifica a experiência de interação da plateia brasileira, liberada da leitura de legendas a maior parte do tempo. A técnica de animação de objetos faz tudo parecer possível sob as luzes da ribalta. Mas não é bem assim. Para além do espaço iluminado da cena há uma zona escura e invisível, mas não inativa. Dali também tudo pode vir. Leia mais
11.3.2015 | por Beth Néspoli
Trabalho final de um curso de teatro: um menino forra uma caixa de papelão com papel laminado, fura a parte de cima para a entrada de uma lâmpada, escreve a palavra teatro na tosca edificação e diz ao público que cada um deve imaginar sua própria peça. Pela via da negação ou da inocência é fácil ativar a imaginação, poderia ser a moral dessa fábula infantil. Dela vale tirar a pergunta: como engendrar uma poética com potência estética tendo como plataforma de salto a acumulação simbólica no campo da cultura e da arte? Tal desafio funda a teatralidade de Stifters dinge, espetáculo-instalação engendrado por Heiner Goebbels em parceria com uma equipe de criadores com quem esse músico-diretor vem trabalhando há décadas e, portanto, com os quais vem afinando sua linguagem. Leia mais
7.3.2015 | por Beth Néspoli
Na cena contemporânea não raro depara-se com procedimentos criados para sabotar a compreensão. Quando o problema não é fruto de precariedade, o objetivo é estimular o espectador – quase sempre ávido por construir sentido rapidamente – a descartar os elementos mais facilmente acessáveis de seu repertório cultural e escavar um pouco mais fundo no movimento em direção à obra. Leia mais
1.6.2014 | por Beth Néspoli
Ao contrário do que pode sugerir o título – Dizer o que você não pensa em línguas que você não fala – a encenação dirigida por Antônio Araújo na Bélgica ultrapassa a questão da babel de idiomas e do atrito entre culturas. Com atores brasileiros, belgas e franceses integrando o elenco, trata-se de uma coprodução entre o Festival de Avignon, da França, e o Teatro Nacional de Bruxelas, cidade onde o espetáculo estreou há seis dias para curta temporada. Se, em cena, diferentes línguas efetivamente se fazem ouvir – francês, inglês, flamengo, português e suaíli (falado por povos da costa leste africana) –, o que está em jogo de fato são os discursos historicamente construídos. Desde os ideológicos aos religiosos, passando pelos amorosos. Os territórios culturais instáveis que propiciam o surgimento de vozes desencontradas, assim como seu emudecimento ou amplificação, estão no cerne da obra multissensorial e deambulatória – marca de identidade da linguagem do Teatro da Vertigem e cujo ponto de partida temático é a crise financeira europeia e sua interferência no modo como a vida das pessoas se organiza. Leia mais
27.5.2014 | por Beth Néspoli
São cerca de 15h aqui em Bruxelas, cinco à frente do horário de Brasília. Na sala central do prédio da Bolsa de Valores o diretor Antônio Araújo e o ator Roberto Audio conversam sobre o espetáculo Dire ce qu’on ne pense pas dans des langues qu’on ne parle pas (Dizer o que você não pensa em línguas que você não fala), criação do Teatro da Vertigem que estreia logo mais, às 20h15 daqui (15h15 aí), tendo os espaços internos e externos desse edifício como palco. Leia mais
28.3.2014 | por Beth Néspoli
No programa do espetáculo Abnegação, o espectador pode ler um trecho de Elogio à profanação, um artigo do filósofo Giorgio Agambem que critica a análise etimológica da palavra religião como termo derivado de religare e, consequentemente, com o sentido de ligação, união, elo. Para ele religião deriva de relegere, cujo campo semântico abarca eleger, escolher e, portanto, tem significado oposto: tornar sagrado é separar (o divino) da esfera do humano. Assim, enquanto o rito religioso reforça a distinção entre planos, o ato de profanação é aquele que ignora tal separação ao fazer uso particular e utilitário de um objeto de culto que, por acordo cultural de uma coletividade, estaria reservado apenas ao uso ritualizado em campo sagrado. Leia mais
12.2.2014 | por Beth Néspoli
Circula nas redes sociais uma charge criada sobre a série de animação Pink e o Cérebro, que tem como personagens dois ratos sempre às voltas com planos mirabolantes para conquistar o mundo. Na arte do chargista, o atrapalhado ajudante Pink pergunta ao seu líder, o Cérebro: “O que vamos fazer em 2014?” A resposta: “O mesmo de todos os anos, tentar emagrecer e ficar rico”. O humor, de ironia cáustica, brota do contraste entre a resposta esperada, “conquistar o mundo”, e a efetivamente dada. Se na síntese da arte gráfica a quebra de expectativa serve ao riso, no espetáculo Bola de ouro uma abordagem similar ganha o tom indignado e grave do acerto de contas. Leia mais
11.2.2014 | por Beth Néspoli
Com as próprias mãos a dupla Dico Ferreira e Katiane Negrão insufla vida às velhinhas protagonistas de Tropeço, espetáculo de animação com apresentação única nessa quarta-feira (12/2), às 20h, no Instituto Itaú Cultural da Avenida Paulista. Pequenos gestos cotidianos são matéria cênica manipulada pelos atores nessa criação de alta densidade poética e existencial, e técnica surpreendente. Fundada em Ouro Preto, em 2004, pela dupla de atores atualmente radicada em Curitiba, a Tato Criação Cênica vem desenvolvendo sua estética singular no amálgama entre linguagens do teatro de animação e a mímica corporal. Leia mais