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Folha de S.Paulo

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São Paulo, sábado, 24 de março de 2007

TEATRO
Festival recebe peças do americano Will Eno e do australiano Andrew Bovell que refletem experimentos de linguagem

“Thom Pain – Lady Gray” tem direção de Felipe Hirsch, e “Línguas Estranhas”, de Bruce Gomlevsky e Daniela Pereira de Carvalho

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local

Risco, sobretudo em dramaturgia, nunca foi propriamente uma vocação da mostra oficial. Mas a programação do 16º Festival de Curitiba dá margem. 

Entre as 11 peças, dois autores estrangeiros refletem experimentos de linguagem que vão pelo drama contemporâneo: “Thom Pain – Lady Gray”, do norte-americano Will Eno, e “Línguas Estranhas”, do australiano Andrew Bovell. 

O primeiro, de 41 anos, é conhecido do público paulista por “Temporada de Gripe” (2003), primeiro texto dele montado no Brasil, por Felipe Hirsch, da Sutil Companhia de Teatro. 

Hirsch, 41, volta à carga com “Thom Pain – Lady Gray” -última sessão hoje, às 20h30, no Teatro da Reitoria. Com fundo autobiográfico, Eno concebe dois monólogos estanques. No primeiro, um homem discorre sobre paixões e perdas. No segundo, vem à tona a versão da mulher em busca de sentido para algo que a represente após o abandono. Não deixa de ser a desconstrução de uma história de amor ou, por outra, da criação artística. “É outro espetáculo radical, extremamente pensado, sem concessões ao próprio espetáculo, assim como era em a “Temporada de Gripe”. Ele pode ser muito emocionante também, se você quiser”, diz Hirsch. 

O sofrimento de Thom Pain chega por meio de Guilherme Weber, co-fundador da Sutil. 

Lady Gray (um chá feminino), por Fernanda Farah, atriz radicada em Berlim. Do Rio, Bruce Gomlevsky (do solo “Renato Russo”) co-dirige “Línguas Estranhas” com Daniela Pereira de Carvalho -última sessão hoje, às 20h30, no Paiol. São três atos de relações desencontradas. Personagens migram de uma história para outra, invertendo expectativas de tempo e espaço. 

Roteirista do filme “Vem Dançar Comigo”, Bovell, 44, diz a que veio logo na abertura, em adaptação de José Almino. 

Duas cenas simultâneas, dois casais que traem entre si sem que saibam. Os diálogos de insegurança e atração acontecem em sincronia, soando a “música” e os “ruídos” desses homens e mulheres. Os dois atos seguintes caminham para o thriller psicológico, com pessoas desaparecidas, suspeitos. “O texto exige um exercício formal dos quatro atores [Julia Carrera, Otto Júnior, Teresa Fournier e Lucas Gouvea]. Ao todo, eles interpretam nove personagens, às vezes com registros opostos de um ato para outro”, diz Gomlevsky, 32. A montagem estreou em setembro passado. 

Outro autor internacional de peso na mostra é o norte-americano Sam Shepard, de quem o gaúcho Ramiro Silveira dirige “Mamãe Foi pro Alaska – True West”, com sessões nos dias 27 e 28, no Sesc da Esquina.



16º Festiva de Teatro de Curitiba
Quando: de 22/3 a 1/4 
Quanto: R$ 26 (na mostra paralela Fringe, de entrada franca a R$ 24) 
Mais informações: tel. 0/xx/41/4063-6290; www.festivaldeteatro.com.br

 

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São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2007

TEATRO 
Festival de teatro, cuja 16ª edição começa amanhã, apresenta musical com 14 canções para berimbau

Espetáculo de Paulo Cesar Pinheiro conta a história de Manoel Henrique Pereira, o Besouro Mangangá, herói popular das ruas da Bahia

VALMIR SANTOS 
Enviado especial ao Rio de Janeiro 

A caminho da milésima gravação em 40 anos de carreira (em 2008), o compositor carioca Paulo Cesar Pinheiro prepara um disco dedicado à capoeira. A rigor, o trabalho começou aos 16 anos, quando da primeira parceria com Baden Powell em “Lapinha”, sucesso na voz de Elis Regina em 1968.

Mas o teatro chegou antes do disco: o musical “Besouro Cordão-de-Ouro” estreou em dezembro, no Rio, e é uma das atrações da mostra oficial do 16º Festival de Curitiba, que começa amanhã e vai até 1º/4.

O roteiro e as 14 canções são de Pinheiro -cada uma delas para determinado toque do berimbau: jogo de dentro, jogo de fora, são bento, angola, cavalaria, benguela, barravento etc. “Adeus Bahia, zum-zum-zum/ Cordão-de-Ouro/ Eu vou partir porque mataram meu Besouro”, continua “Lapinha”, numa citação a Manoel Henrique Pereira (1885-1924), o capoeirista Besouro Mangangá ou Besouro Cordão-de-Ouro.

Não é a primeira vez que Pinheiro, 58, se aventura pela criação teatral, parceiro recorrente de Edu Lobo em várias canções para o palco. “O mais difícil foi a parte literária”, reconhece o autor.

Defesa dos pobres
Um fiapo de dramaturgia pontua passagens da vida do personagem evocado na obra de Noel Rosa, Jorge Amado e outros. Diz a lenda que Besouro foi valente com policiais e poderosos, em defesa dos empobrecidos, brandindo as artes da capoeira, do violão, do samba-de-roda e da chula (dança e música populares de origem portuguesa). “Era um herói da rua na Bahia, e não um herói mitificado”, diz Pinheiro.

“O espetáculo fala de um homem brasileiro, em certo sentido em extinção: aquele que se impõe enquanto indivíduo, não com individualismo, em função de uma coletividade. Besouro enfrenta a polícia desarmado para proteger os injustiçados. Luta com o corpo, a ginga, a voz”, afirma o diretor João das Neves, 73. Além do recorte biográfico, de modo algum linear, a narrativa faz incursões históricas à resistência e revolta do povo negro. No elenco, os 13 artistas que jogam, cantam e dançam são negros.

Com exibições em Curitiba no sábado e no domingo, a peça é concebida como uma roda de capoeira -ao final, literalmente aberta à participação do espectador ou capoeirista. O público ocupa almofadas e cadeiras num cenário envolto por cerca de mil caixotes.

Pinheiro convidou Neves para dirigir (é a primeira vez que trabalham juntos) porque assistia a seus shows e espetáculos no Opinião (1964-1982), o grupo que fazia teatro de protesto durante a ditadura, impulsionado pelo Centro Popular de Cultura, o CPC da UNE.

“Nossas utopias ideológicas foram, de alguma maneira, solapadas. Convicções tiveram que ser revistas dos anos 60 para cá. Não estamos no país da ditadura, mas da esperança, apesar de o Brasil carregar muitas das mazelas do passado, algumas delas agravadas”, diz Neves, 50 anos de teatro.

Em tempo: o disco de Paulo Cesar Pinheiro deve sair até o final do ano. 
 

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São Paulo, sábado, 17 de março de 2007

TEATRO 
Espetáculo de Celso Frateschi, que estréia hoje no Ágora Teatro, discute temas como exclusão social e preconceito

Para o diretor Roberto Lage, texto faz alusão ao papel das periferias brasileiras, que, antes abandonadas, agora têm grande espaço

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Quem é sombra de quem? O motorista de caminhão engolido pela cratera ou o dono da construtora? A peça “Estação Paraíso”, de Celso Frateschi -ator que recém-assumiu a presidência da Funarte-, é uma fábula sobre um carpinteiro de obras e um funcionário da administração do metrô que dá o que pensar sobre as relações na superfície e nos subterrâneos da vida contemporânea. 

Na montagem de Roberto Lage, a partir de hoje no Teatro Ágora, Dárcio de Oliveira interpreta o personagem Negro, o carpinteiro demitido que participa de um saque na cidade convulsionada por crise social. 

O ator Osvaldo Raimo é o Branco, sujeito que perambula com uma Bíblia em punho, recitando o Apocalipse, à espera do anjo do abismo. 

Eles se cruzam por acaso num túnel, à noite, numa estação de metrô que o original sugere desativada, mas Lage, que leu a primeira versão do texto em 2001, repropõe como um lugar ainda não inaugurado, tintas frescas que também encerram lá seus fantasmas. 

Jogo regrado
No cenário às vezes ofuscado pela luz branca (como a um pórtico paradisíaco de frutos proibidos) e na maior parte do tempo dominado pela luz fria, os personagens estabelecem um jogo regrado por preconceito, conhecimento, vida e morte. 

Às desconfianças e ameaças mútuas, segue-se a cumplicidade em suas misérias sociais e afetivas. Abandonados pelo “mundo lá fora”, juntam suas forças e brindam pelo metrô da manhã, o último de suas vidas. 

“De um lado, um homem que sempre foi marginalizado pela sociedade. De outro, um homem que sempre esteve a serviço da mesma. A descartabilidade no sistema capitalista é uma das questões-chave”, afirma Lage, 60. 

O diretor vê a inversão dos papéis históricos dos personagens, no curso da peça, como indício das periferias brasileiras que foram abandonadas, esquecidas, e agora ocupam espaço significativo. 



Estação Paraiso 
Onde:
Ágora Teatro (r. Rui Barbosa, 672, Bela Vista, tel. 3284-0290) 
Quando: estréia hoje, às 21h; seg., ter., sáb. e dom., às 21h. Até 17/6 
Quanto: R$ 40 

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São Paulo, sexta-feira, 16 de março de 2007

TEATRO 
Espetáculo inspirado na obra de Samuel Beckett estréia no teatro Cultura Inglesa

Atores Jairo Mattos e Paulo Gorgulho vivem Um e Dois, palhaços que trabalham nas ruas, mas encontram tempo para reflexões sobre a vida

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

É como se Didi e Estragão vagassem pelas ruas de São Paulo. Mendigos, com seus sacos inseparáveis, criam um mundo à parte para se relacionar com o lugar-comum, duplo sentido e fonte da arte dos palhaços para tocar a vida dia após dia. 

“Cata-dores”, o espetáculo que estréia hoje no teatro Cultura Inglesa de Pinheiros, é a um só tempo inspiração e homenagem a “Esperando Godot”, a obra-prima do século 20 sobre dois clowns vagabundos em contínua crise existencial. 

Samuel Beckett (1906-89) é objeto de doutorado da autora da peça, Cláudia Vasconcelos, que remete aos silêncios e às mudanças de cena a cada vez que a noite cai. “É um texto esperançoso, que fala que a saída para os problemas em geral está no outro”, diz Jairo Mattos, 44, o intérprete do personagem Um. O outro é Dois, vivido por Paulo Gorgulho. 

Vasconcellos frisa que os personagens são palhaços, mas não usam nariz vermelho, nem maquiagem ou roupa estilizada. Surgem como trabalhadores de rua a recolher ou despejar trecos. Em meio à sobrevivência, dão margem à reflexão. Um, o personagem, faz as vezes do “augusto”, figura clássica do palhaço otimista. Seu contraponto (e complemento) é Dois, o “branco”, rabugento, mal-humorado. Ambos têm a mesma idade, mas Dois se acha mais velho, resmunga, tosse. 

O catador Um, de espírito jovem, passa a história toda tentando se aproximar de Dois, como a desarmá-lo da solidão, das dores. Faz de tudo, até lhe dedica “a trova da tripa seca” para encher lingüiça. 

“Há passagens líricas e outras escatológicas, mas sempre no limite, tomando cuidado em não destruir a idéia da dramaturgia, suas pausas, sua contundência”, diz Mattos. Um terceiro artista completa a cena: um “homem-banda”, como diz o diretor, o maestro Marcello Amalfi, encarregado dos efeitos sonoros ao vivo. Ele toca bateria, pistom, guitarra etc., pontuando as ações de Um e Dois, sem estabelecer relação.



Cata- dores
Quando:
estréia hoje, às 21h30; sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 19h. 
Onde: teatro Cultura Inglesa – Pinheiros (r. Deputado Lacerda Franco, 333, tel. 3814- 0100) 

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São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

TEATRO

Aos 25 anos, grupo deixa a comédia e dá espaço a atuação realista em sua nova peça, “Pequenos Milagres”
 

Coletivo recortou quatro tramas dentre 550 relatos reais para dar corpo a peça que estréia dia 29, em MG, dirigida por Paulo de Moraes
 

VALMIR SANTOS
Enviado especial a Belo Horizonte

São 25 anos de um teatro popular protagonizado por experientes artistas nos domínios da rua, do circo ou da farsa. Mas as bodas de prata do Grupo Galpão, em 2007, chegam com a marca do drama, contraface que o prestigiado coletivo de Belo Horizonte trouxe pouco a público em sua história. 

“Pequenos Milagres”, o 16º espetáculo do grupo, é pontuado por epifanias do cotidiano de mulheres e homens de um Brasil passado e presente. São “histórias de quintal”, diz o diretor convidado Paulo de Moraes, 41, da Armazém Companhia de Teatro (RJ). Ele assina o texto final com o escritor Maurício Arruda Mendonça. 

A dramaturgia é o sumo da campanha “Conte Sua História”, lançada pelo grupo em agosto. Foram recolhidos 550 relatos, a maioria de gente comum interessada em participar da criação comemorativa. 

Doze histórias norteiam à exaustão os improvisos dos atores. Quatro delas efetivamente dão corpo ao projeto. 

Em “Cabeça de Cachorro”, um garoto cumpre um inusitado rito de passagem: vai de ônibus do interior à capital, sozinho, levando uma cabeça de cão na sacola. Sua missão é entregá-la a um tio para exame de raiva. O animal atacou o irmão mais novo.

Essa história costura mais três. “O Pracinha da FEB” traz as memórias de um soldado das Forças Expedicionárias Brasileiras que sobreviveu aos ataques na campanha da Itália (1944-55) contra o nazifascismo, durante a Segunda Guerra. A perda de um amigo no front deixa seqüelas, mas a vida lhe reserva surpresas. 

“O Vestido” expõe a trajetória de uma mulher a partir da infância, quando não gostava de usar vestido de chita e sonhava com um vestido que vira numa procissão, de tafetá com rendas. Sua fé atravessa o futuro para, enfim, colocar o corpo no lugar mais seguro do mundo: aquele vestido. A quarta história é a do “Casal Náufrago”, um homem e uma mulher que estão à beira da separação, mas que têm as esperanças reavivadas quando ele é sorteado para participar de um programa televisivo que distribui dinheiro. 

“Buscamos aqueles momentos em que a vida de uma pessoa pode dar uma guinada, ou não. É como aquela cena da bola de tênis parada sobre a rede no filme “Match Point”, do Woody Allen”, diz Moraes, 41. 

“Num momento em que o mundo valoriza celebridades, é um prazer inverter essa expectativa com a história de pessoas anônimas”, diz o ator Chico Pelúcio, 47. 

Se depender do ensaio a que a Folha assistiu dias atrás, o que se desenha para a estréia no próximo dia 29, no Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte (depois segue para outras cidades), é um trabalho que pode surpreender pelo risco a que o Galpão se lança. Como fez em “Álbum de Família” (1990), de Nelson Rodrigues, com direção de Eid Ribeiro, e em “Partido” (1999), adaptação de Cacá Brandão para “O Visconde Partido ao Meio”, com direção de Cacá Carvalho. 

A começar pelo registro da interpretação. Sem os microfones, o tom de voz, a enunciação e os gestos corroboram o drama de intimismo, com platéia próxima. “É para ver o ator nos olhos”, dá a senha Eduardo Moreira, 46, um dos fundadores do grupo. “Escolhemos limpar a atuação excessivamente teatral. É um despojamento que às vezes lembra cinema.” 

Moraes é hábil nesse tratamento, vide encenações como “Toda Nudez Será Castigada” e “Pessoas Invisíveis”. São recursos que, aqui, não anulam a presença do ator. Mesmo porque o diretor é um deles (bissexto) na Armazém. Como o Galpão é um grupo de atores, sem diretor de proa, o encontro de modos de criação instiga os dois lados, em meio a tintas de realismo, um sino de igreja e uma música de jazz.



O jornalista VALMIR SANTOS viajou a convite do Galpão Cine Horto.
 

 

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São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

TEATRO 
Grupo apresenta em SP texto sobre juventude

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

A Companhia Elevador de Teatro Panorâmico olha para o passado na peça “Ponto Zero”, marco do sétimo aniversário. É para melhor se conhecer e seguir adiante, espera o diretor artístico Marcelo Lazzaratto. 

Duas acepções guiam o novo projeto, que estréia sábado, no Viga Espaço Cênico, dentro da mostra de repertório aberta hoje no mesmo endereço. Ponto zero como o estado de latência em que o intérprete vai à ação por meio de “um gesto poético”. E ponto zero como a fase em que se desprende da juventude para ir à vida adulta -o elenco tem, em média, 28 anos. 

Para rever sonhos, atitudes e comportamentos do passado, com pés no presente, Lazzaratto e o ator Gabriel Miziara, co-autores da dramaturgia, elegem escritores que trataram da juventude quando jovens. 

O painel percorre dois “impérios culturais”, diz Lazzaratto: os EUA e a França. O material inclui livros como “O Apanhador no Campo de Centeio”, de Salinger; “On the Road”, de Jack Kerouac; e “Hell”, de Lolita Pille. E filmes como “A Chinesa”, de Jean-Luc Godard, e “Marcas do Destino”, de Peter Bogdanovich. A peça tem dois movimentos. 

No primeiro, dá-se a reflexão em torno de uma mesa, com silêncios, luz neutra. No segundo, vêm o agito, a pichação, a música eletrônica e a luz forte. O público pode acompanhar essa curva de autoconhecimento do grupo por meio de três outras montagens que se juntam a “Ponto Zero”: o solo “Loucura”, com Miziara, citações a Pessoa, Dostoiévski e Camus; o adulto “Amor de Improviso”; e o infanto-juvenil “A Ilha Desconhecida”, adaptação do conto de Saramago. 

A estréia e a mostra fazem parte do Programa Municipal de Fomento ao Teatro.



Mostra Companhia Elevador de Teatr Panorâmico
Onde:
Viga Espaço Cênico – sala principal (r. Capote Valente, 1.323, tel. 0/xx/11 3801-1843) 
Quando: de hoje a 27/5 (“Loucura”, qui., às 21h; “Amor de Improviso”, sex., às 21h; “A Ilha Desconhecida”, sáb. e dom., às 16h; e estréia de “Ponto Zero”, sáb., às 21h, e dom., às 20h). 
Quanto: R$ 15 

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São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

TEATRO
Peça de Sérgio Roveri estréia no Vivo, mostrando dois limpadores de janelas

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local

E se um limpador de janela estivesse trabalhando no instante do ataque às Torres Gêmeas? “Ia morrer antes do piloto, dos passageiros, de todo mundo”, diz um dos personagens de “Andaime”, peça que se passa nas alturas mas diz muito sobre a vida ao rés-do-chão de seus dois protagonistas, também eles a limpar os janelões de um arranha-céu paulistano. 

É a nona peça de Sérgio Roveri a ser montada desde que deu mais espaço à dramaturgia que ao jornalismo, ofício de formação, há apenas quatro anos. 

Depois de ver quatro de seus textos em cartaz no Espaço dos Satyros, na pça. Roosevelt, região central da cidade, Roveri vai parar no teatro Vivo, no Morumbi, onde “Andaime”, patrocinada, estréia amanhã sob direção de Elias Andreato. 

“Fiquei um pouco surpreso em saber que aqueles dois trabalhadores vão ocupar um teatro como o Vivo. É uma ironia do destino”, diz Roveri, 46, sobre o espaço freqüentado por público diferente daquele do circuito alternativo. 

Foi Gabriel Villela, aqui responsável por cenografia e figurinos, quem se deu conta do contraste entre ficção e realidade: os ensaios aconteceram no teatro Renaissance -e o luxuoso hotel chegou a oferecer bufê para os artistas. 

“Andaime” é uma comédia, por vezes politicamente incorreta, que dá o que pensar por meio do diálogo de dois operários sem instrução, mas “filósofos” na observação do cotidiano. José Mário (Claudio Fontana, também co-produtor do espetáculo) e Claudionor (Cássio Scapin) passam boa parte do tempo num estrado sustentado por cabos de aço. Em cena, surgem a 1,80 metro do palco. 

Enquanto conversam, não perdem a concentração na limpeza, em meio a baldes, panos, rodinhos, sons de sirenes e aviões. Fumam escondidos do chefe. E até repetem os exercícios da aula de academia que espiam num dos andares. 

As ações ocorrem em paralelo a reflexões inusitadas. Como a do robôs que poderão tirar seus empregos num futuro próximo. Ou sobre a chance de olhar os bacanas “por cima”, aqueles que têm grana, carro importado e mulher bonita, para depois capitular diante da invisibilidade. 

“Às vezes, a gente fica uma hora inteirinha limpando um andar e ninguém dá uma olhada pra gente”, diz Claudionor. 

“Eles acreditam naquilo que falam. Há verdades no absurdo aparente”, afirma Roveri, paulista cuja tônica da dramaturgia é se esquivar de heróis ou vilões para chegar ao cidadão comum.



Andaime
Onde: teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860, tel. 3188-4141) 
Quando: estréia amanhã, às 21h30; sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 18h. Até 29/4 
Quanto: R$ 50
 

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São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2007

TEATRO 
Filmagens acontecem até o final de março, com ingressos a preços populares e transmissão ao vivo pela internet

Caixa com DVDs terá 26 horas de espetáculo e extras gravados nos bastidores; peças anteriores do grupo devem ser lançadas

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

O público do Teatro Oficina está familiarizado com imagens captadas no tempo real da cena (pista, túnel, galerias) e projetadas em telões, paredes, corpos. Pelo menos dez outras câmaras reforçam “Os Sertões” neste e nos próximos quatro finais de semana.

A polifonia do principal projeto teatral da década até agora no Brasil chega às filmagens em DVD. E se espraia ainda via internet, com transmissão simultânea das sessões pelo site do grupo (www.teatroficina.com.br), parceria com o provedor UOL.

As cinco montagens assinadas por José Celso Martinez Corrêa serão gravadas com direção de Tommy Pietra (“A Terra”), Fernando Coimbra (“O Homem 1”), Marcelo Drummond (“O Homem 2”), Elaine César (“A Luta 1”) e Eryk Rocha (“A Luta 2”). Este último, filho de Glauber Rocha, define como desafiadora “a transfiguração dessa rebelião poética do teatro ao cinema”.

“Da mesma forma que o Zé puxa a literatura para o teatro, num sincretismo artístico com dança, audiovisual, coro, história, música etc., o movimento continua aqui, na filmagem da peça, agora do teatro para o cinema”, afirma Eryk, 29. “A tragédia de Canudos é também a tragédia do mundo hoje. O ciclo do Oficina é uma convocação à coletividade, à multidão, nesta época que prega o individualismo a todo custo.”

Para quem tiver fôlego de maratonista, a caixa digital resultará em cerca de 26 horas de espetáculos corridos, além de extras com bastidores.

O ciclo “Os Sertões” estreou em 2002, com “A Terra”, a primeira parte da obra cujo centenário de publicação completou-se naquele ano.

Em sua prosa, Euclydes da Cunha atravessa os terrenos da história, da literatura e da ciência para relatar a Guerra de Canudos (1896-97). Dá notícias de Antônio Conselheiro, seus seguidores (sertanejos) e perseguidores (quatro expedições do Exército). Cerca de 25 mil pessoas morreram no conflito.
No trabalho de dramaturgia, Zé Celso, 69, transpõe o clássico em roteiros que incluem diálogos em versos e composições originais. Os textos estão publicados na íntegra em brochuras para cada um dos espetáculos, com média de 80 páginas (R$ 3, na bilheteria).

“Neste verão de pânico no planeta, com as catástrofes anunciadas, este acontecimento [a filmagem] é uma boa nova que deve contribuir para o Grupo Silvio Santos compreender, enfim, que as empresas precisam de uma reciclagem absoluta na sua forma de produção e de aliar-se de vez à revolução cultural social, necessária neste momento”, escreve Zé Celso.

No mês passado, a Justiça paulista aprovou liminar pedida pelos advogados do Oficina que impede a construção de um shopping center na área em torno do teatro, que é tombado. Procurado pela Folha, o Grupo Silvio Santos não quis comentar a decisão provisória. Segundo sua assessoria, o departamento jurídico analisa o caso.

Peças anteriores
A companhia Oficina Uzyna Uzona dialoga com o suporte DVD desde 2001. “Ham-Let” (1993), “Bacantes” (1996), “Cacilda!” (1998) e “Boca de Ouro” (2000) foram remontados para registro sob direção da equipe de Tadeu Jungle.

Já editadas, as peças ainda não chegaram ao mercado. De acordo com o grupo, entre outros motivos, por impedimento nos direitos fonográficos de parte das músicas utilizadas. A intenção é distribuir o pacote até dezembro, pela Trama. 

Folha de S.Paulo

São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2007

TEATRO 
“Chácara Paraíso”, que estréia sexta, convoca profissionais na ativa ou aposentados para dar depoimentos pessoais

Diretores do espetáculo, o suíço Stefan Kaegi e a argentina Lola Arias, tentam fugir do maniqueísmo e focar nas narrativas 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Um espetáculo com jeito de instalação, ou vice-versa, quer levar para o teatro um pouco da vida de agentes das polícias Civil e Militar de São Paulo. Não há atores, mas personagens reais, homens ou mulheres que estão na ativa, pediram baixa ou já se aposentaram. Até parente entra em cena. 

“Chácara Paraíso” é o novo projeto do diretor suíço Stefan Kaegi, radicado na Alemanha e ligado ao coletivo Rimini Protokoll. Em 2005, ele passou por São Paulo e Rio com “Torero Portero”, retrato do cotidiano de porteiros de prédios. 

Agora, em co-direção com a argentina Lola Arias, a idéia é dar tratamento artístico a um tema belicoso para o Brasil acuado pela violência: como a polícia representa a si mesma? 

A montagem, que estréia depois de amanhã, é encenada em salas de escritório, na Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista. A cada 20 minutos, grupos de seis espectadores percorrem as salas.

“Nessa função, tem que ser um pouquinho de ator para fingir para as pessoas”, diz o aposentado Pedro Amorim, 42, no ensaio de “Chácara Paraíso” que a Folha acompanhou. 

Numa das salas do 14º andar, Amorim relata uma experiência-limite. Anos atrás, permaneceu numa favela como infiltrado num bando de assaltantes a banco. Certo dia, os bandidos suspeitaram de um colega dele, também infiltrado, e só não o mataram por causa da performance meliante de Amorim. Hoje, ele é dono de uma empresa de adestramento e dá seu depoimento pessoal ao lado da pastor alemão Agatha. 

Antes de chegar à sala de Amorim, os grupos de seis espectadores terão passado por encontros individuais, de cerca de cinco minutos, entre quatro paredes, com protagonistas como a investigadora Beatriz (alguns participantes ocultam a identidade completa), há dez anos na Polícia Civil e atualmente cursando psicologia. 

Beatriz, 28, é casada com um colega de ofício. Sentada atrás de uma mesa, como nas delegacias, ela mostra a tatuagem de escorpião (seu signo) atrás do pescoço, feita depois de entrar na polícia, onde acompanhou cerca de 30 mortes, incluindo a rebelião de 2002 na delegacia de Embu, quando 11 presos foram queimados ou asfixiados pela fumaça num incêndio. 

Em seu encontro com o público, Luis Carlos, 38, hoje taxista, recorda os anos 1980, quando integrava a segurança do Palácio dos Bandeirantes. 

Caráter biográfico
Misturando realidade e ficção, as narrativas curtas são ilustradas com fotos pessoais que reafirmam o caráter biográfico das narrativas. Kaegi e Arias incorporaram ainda a simulação de dois policiais que entram numa favela atrás de assaltantes. Há uma favela cenográfica semelhante à que os criadores viram na Chácara Paraíso, que abriga o centro de formação da PM em Pirituba. 

Os 14 participantes foram escolhidos entre cerca de 50 candidatos, atraídos por anúncio em jornais. “Os participantes têm um jeito tímido de falar de si mesmos. Aprenderam a receber ordens e não a responder perguntas. Mas a Lola fixou com eles um roteiro mínimo”, afirma Kaegi, 34. 

A intenção do diretor é desviar da visão maniqueísta da polícia, da exaltação ou da denúncia. Na parte final, exibe um vídeo documentário sobre a incursão que ele e Arias, 30, fizeram na Chácara Paraíso. 

Numa das passagens, o instrutor explica que o método para treinamento de tiro utiliza a sigla “V.I.D.A.”, porque um policial precisa ver, identificar, decidir e agir. Em quatro segundos. O espetáculo corta então para trechos do clipe “Eu Acredito”, produção da própria PM (também no YouTube) que expõe seus feitos com orgulho, ao som de “We Are the Champions”, do Queen. 



Chácara Paraíso
Quando:
estréia sex., 2/2, às 19h30; sex. a dom., às 19h30; até 11/2 
Onde: Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, Cerqueira Cesar; tel. 3179-3700) 
Quanto: R$ 20 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

TEATRO 

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

Um risoto pode levar cerca de 20 minutos para ficar pronto, em fogo moderado. Um assado, duas horas ao forno. Como na vida, “a comida sempre tem seu tempo”, diz uma das duas irmãs protagonistas de “Convite para Jantar”, espetáculo do grupo Barracão Cultural que estréia hoje no teatro Fábrica São Paulo. 

Um das personagens concebe a preparação do jantar como uma festa. Enquanto uma ignora o relógio, a outra vasculha “aquele lugar entre o meu ontem e o seu amanhã”. 
Filosofia e literatura alimentam a história. 

Eloisa Elena e Julia Ianina contracenam em meio ao arroz, ao frango e à cebola, enfim, cozinham em tempo real a “galinhada” servida a alguns espectadores no final. Elas co-dirigem a peça com Anie Welter. O espaço cênico sugere uma cozinha e quer reforçar aspectos sensoriais por meio de fogo, sons, cheiros e velas, entre outros elementos. 


Convite para jantar
Quando: estréia hoje, às 19h; sáb., às 19h, e dom., às 18h; até 1/4 
Onde: teatro Fábrica São Paulo – porão (r. da Consolação, 1.623, tel. 3255-5922) 
Quanto: R$ 20