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Crítica

Crítica

Solo de Marajó, direção de Alberto Silva Neto, com o Grupo Usina (ator Claudio Barros)

Crítica

Não carece, necessariamente, ter lido o romance Marajó, do paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979), para os sentidos e a imaginação se aguçarem durante o espetáculo Solo de Marajó, que estreou em 2009, no centenário de nascimento do autor, e segue no repertório do Grupo Usina, de Belém. A confluência de literatura e teatro dá vasão a encantamentos forjados no saber popular de comunidades da Ilha do Marajó, na segunda década do século XX. Assim como são flagrantes os marcadores sociais de subalternidade em corpos indígenas e negros, principalmente femininos.

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Crítica

Allegro delirium

14.5.2021  |  por Valmir Santos

Artista da imagem e iconoclasta por natureza – a ponto de jogar com a autoimagem deformada em seus escritos extracênicos –, Gerald Thomas aterrissa com suavidade na transposição de Terra em trânsito (2006) para o imperativo da internet. O caráter recorrente de obra aberta agora se estende às pupilas e aos poros de Fabiana Gugli, cuja atuação dignifica o trabalho de comediante com a devida complexidade que lhe cabe. Ela modera o intimismo do projeto com a pulsão espetacular inarredável do encenador. Apenas uma câmera captura sua presença enquanto a concepção audiovisual expande a percepção de quem a acompanha através da tela, desde a sala de sua casa convertida cenograficamente no camarim de uma diva prestes a interpretar o trecho de uma ópera. A distância entre a intenção e o ato se revelará tragicômica no curso do primeiro ao terceiro sinal.

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Crítica

As três mulheres de IntimIDADES escalam distancias e proximidades em suas gerações. Duas delas, Tânia Barbosa, de 52 anos, e Iara Colina, 42 anos, elegeram a profissão de atriz, por mais instável que seja exercê-la na sociedade brasileira, sobretudo quando se vive no interior do país, no caso, Ilhéus. Já Hilsa Rodrigues Pereira dos Santos, no candomblé Mãe Ilza Mukalê, de 87 anos, 45 deles à frente do Terreiro Matamba Tombency Neto, experimentou o teatro amador junto a um artista expoente do teatro negro, o ator e diretor Mário Gusmão (1928-1996), quando ele viveu na cidade do litoral sul baiano nos anos 1980.

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Artigo

Ditirambo pela vacina

12.3.2021  |  por Valmir Santos

Em junho de 2020, coletivo de artistas independentes associados à Cooperativa Paulista de Teatro (CPT) reuniu personalidades da arte e da cultura, a partir de suas casas e celulares, para compor o curta-metragem Viver é urgente!. Um chamado à consciência crítica sobre as desigualdades sociais e a lógica do capitalismo que torna os efeitos da pandemia ainda mais perversos entre os brasileiros, somados à imoralidade do bolsonarismo e seu culto à morte. Oito meses depois, uma segunda criação, Viver é mais que urgente!, nascida sob o mesmo espírito colaborativo, incorpora médicos infectologistas, pneumologistas e sanitaristas para reafirmar, sem vaticínio, o papel da vacina neste momento da história mundial. No primeiro videoclipe, ela sequer era mencionada e o país ultrapassava 51 mil mortos em consequência do novo coronavírus. Ontem, eram 273 mil óbitos por Covid-19, e apenas 2,3% da população havia tomado a segunda dose. Especialistas estimam um teto de 60% a 70% para começar a controlar o microrganismo SARS-CoV-2 e cortar a transmissão.

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Eu sempre gostei de tratar de coisas que eu mesmo não sei nomear, afirmou o dramaturgo e diretor Alexandre Dal Farra ao participar da 32ª edição do Encontro com Espectadores, junto ao ator e diretor Clayton Mariano. Ele se referia ao modo como investiga as relações sociais e políticas em sua obra: no calor dos acontecimentos, sem a visão panorâmica trazida pelo distanciamento temporal. Pois tal operação poética, que vê nas incertezas do presente a matéria por excelência a ser tratada no palco, constitui a peça Floresta, com direção e texto de sua autoria.

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Parece haver uma inclinação expedicionária nas etapas de produção, pesquisa e criação do espetáculo País clandestino, participante da 5ª MITsp. Seu ponto de partida foi um laboratório para diretores emergentes realizado em 2014 no Lincoln Center Theater, em Nova Iorque. Cinco desses, também dramaturgos e vindos de cinco países e dois continentes, encontraram afinidades para atuar e falar de suas diferenças Leia mais

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Reino Unido, Gana, Jamaica. No ano de 2016 o embarque de artistas em navio cargueiro retoma uma das rotas pelas quais europeus negociavam homens e mulheres negros e negras escravizados. E deles faziam o motor vivo do que chamaram “a” civilização. Selina Thompson colocou seu corpo em rumo, na mesma rota marítima que também é um cemitério dos que foram por muitos motivos descartados no caminho. Leia mais

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O que nos resta do experimento apresentado pelo Coletivo de Teatro Alfenim (PB) sobre fragmentos da obra de Machado de Assis é dizer que o romance Quincas Borba é mais atual do que a própria realidade. Apresentado durante o festival O Mundo Inteiro É um Palco, em Natal, o Ensaio sobre o humanitismo revela um Machado irônico, contestador e, sobretudo, sarcástico. Estivesse hoje entre nós, provavelmente o patrono da Academia Brasileira de Letras estaria escrevendo sobre as mesmas contradições de um país hipócrita e bonito por natureza. Leia mais

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Os 450 anos de William Shakespeare quase passaram despercebidos pela cena teatral pernambucana, no tangente a grandes apostas de montagens. Quase passou, não fossem duas versões pontuais de Rei Lear, encenadas neste ano. A primeira, com dramaturgismo e coadaptação de Luís Reis e direção de Marianne Consentino, foi uma adaptação para a estética mambembe do clássico, apresentada no início do ano. A segunda, um experimento do carioca Moacir Chaves, que estreou no Recife em novembro. Dona de uma estética de desconstrução afiadíssima, a montagem explora as ferramentas visuais e sonoras do teatro para construir um trabalho pautado no olhar característico do diretor, que utiliza a voz do ator como eixo central da interpretação. Leia mais