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“Folha de São Paulo"

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Folha de S.Paulo

São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

TEATRO 
Em cartaz no Sesc Vila Mariana, “Retratos”, de Alan Bennet, reúne monólogos concebidos para série da BBC nos anos 80 

Com recursos cenográficos mínimos, Chris Couto e Clara Carvalho encenam texto do roteirista do filme “As Loucuras do Rei Jorge”

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O dito humor inglês é complexo e sofisticado como se imagina. Da língua de Shakespeare, Oscar Wilde ou Bernard Shaw, para falar de três autores que já montou, o grupo Tapa agora visita um contemporâneo, Alan Bennett (1934), de quem não há notícias em palcos brasileiros, mas sim nas telas: ele é o roteirista de “As Loucuras do Rei Jorge” (1995). 

O britânico Bennett que entra em cartaz hoje em São Paulo, no Sesc Vila Mariana, é o das seis histórias curtas da série televisiva “Talking Heads”, que levou à BBC nos anos 1980 e depois ao teatro, na forma de monólogos. O Tapa apresenta quatro deles no projeto “Retratos Falantes”, dividido em dois programas. 

“É um humor sutil, sarcástico e, ao mesmo tempo, delicado. Acho um pouco parecido com as peças do [russo Anton] Tchecov”, afirma a atriz e tradutora Clara Carvalho, 48. O primeiro programa, em cartaz até 8 de abril, traz “A Sua Grande Chance”, com Chris Couto, e “Uma Cama entre Lentilhas”, com Carvalho. 

Lesley é aspirante a atriz em “A Sua Grande Chance”. Falante, tenta a todo custo migrar da condição de figurante para a de protagonista. Crê poder encontrar o papel de sua vida indo a festas de artistas e famosos. Susan é sua antípoda em “Uma Cama entre Lentilhas”. 

Mulher de um reverendo anglicano, participa de atividades comunitárias (coral, quermesse) das quais não gosta. Alcoólatra, logo vira bode expiatório da paróquia. 

“Uma é muito reprimida e a outra, exuberante. Mas ambas são solitárias”, diz Carvalho, sobre os espetáculos dirigidos por Eduardo Tolentino. 

Fusão
São mínimos os objetos cenográficos: uma mesa, duas cadeiras. “É um teatro de câmara. O que está em cena é o texto”, diz Carvalho. Não existe blecaute entre uma peça e outra; busca-se uma fusão. Quando, passados cerca de 40 minutos, Couto deixa o palco por uma escada, Carvalho sobe por outra para a segunda peça. 

Um dos fundadores do Tapa, há 29 anos, Tolentino, 53, foi quem descobriu o autor ao assistir a uma montagem da obra na Europa. 

Também dirige “Retratos Falantes 2”, com estréia prevista para 9 de abril: virão os monólogos “Fritas no Açúcar”, com Brian Penido Ross (Graham vive relação de mútua dependência com a mãe esclerosada e é surpreendido pela visita de um ex-namorado); e “A Senhora das Cartas”, com Beatriz Segall (Irene vai às últimas conseqüências ao protestar em jornais e em público como se fosse porta-voz de um coletivo).



Peça:Retratos falantes I 
Onde: Sesc Vila Mariana – auditório (r. Pelotas, 141, tel. 0/xx/11 5080-3000) 
Quando: estréia hoje; ter. e qua., às 20h30; até 8/4 
Quanto: R$ 5 a R$ 20 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

TEATRO 

Reestréia do espetáculo biográfico do diretor comemora 50 anos do Oficina
 

Para celebrar seu jubileu, o Oficina lança DVDs com montagens de “Boca de Ouro”, “Bacantes” e as 5 peças do ciclo “Os Sertões”

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

José Celso Martinez Corrêa, 70, considera “Vento Forte Para um Papagaio Subir” seu segundo nascimento como artista, em 1958, porta de entrada para o teatro. O primeiro foi em 1937, quando dona Lina, Angelina Martinez Corrêa, deu à luz. 

A peça de fundo biográfico, que estréia hoje no Oficina, acessa as raízes que o ator, diretor e dramaturgo Zé Celso fincou no teatro brasileiro. Foi com “Vento Forte…”, levada em conjunto com “A Ponte”, de Carlos Queiroz Telles, que o grupo Oficina iniciou sua história em 1958. A peça do jovem poeta Zé Celso, que o decano abraça com as novas gerações de artistas do coletivo no Bexiga, abre as celebrações do 50º ano do Oficina, o jubileu. 

Entre memórias pessoais e públicas, relativas à cidade de Araraquara (SP), onde o autor nasceu, o texto narra aventuras de João Ignácio, o alter ego de Zé Celso, vivido por Lucas Weglinsk. Na fictícia Bandeirantes, enfrenta atrasos de toda ordem, e até tempestade, para tornar sonhos em realidade. 

Os amigos Ricardo (Guilherme Calzavara), Lucinha (Ana Guilhermina), a atriz-enfermeira Maria das Dores (Sylvia Prado) e a presença simbólica da Mãe (Vera Barreto Leite) são figuras com as quais o jovem contracena em sua utopia, em meio a um Zé Celso que ora toca ao piano, ora interage como testemunha viva e ativa da própria obra coletiva. 

Entre as atividades previstas ao longo de um 2008 de “eterno retorno”, estão uma homenagem ao “Manifesto Antropofágico”, de Oswald de Andrade, e lançamentos de DVDs das montagens das peças como “Boca de Ouro” e as cinco encenações do ciclo “Os Sertões”.



Peça: Vento forte para um papagaio subir 
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, tel. 0/xx/11/3106-2818) 
Quando: estréia hoje, às 22h; temporada sáb. e dom., às 19h; até 27/4 
Quanto: R$ 20
 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

TEATRO 

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

Em meados do século 19, o norte-americano Herman Melville (1819-91) escreveu um conto sobre um homem que preferia não… Não fazer, ir, dizer, comer ou qualquer um desses verbos razoáveis da vida. Aliás, não queria ser razoável. 

A narrativa de “Bartleby, o Escriturário” é pertinente ao vazio do homem contemporâneo, que às vezes se vê paralisado diante dos tempos ditos acelerados, na perspectiva da atriz Cácia Goulart. 

Ela protagoniza a terceira versão para teatro do texto de Melville a que São Paulo assiste nesta década, em curta temporada a partir de amanhã no Sesc Paulista. As montagens anteriores foram de Antônio Abujamra (2006) e do Núcleo Bartolomeu (2000).

Goulart, 40, diz que sua concepção para Bartleby relativiza o tom sociológico da relação do escrevente com o perplexo advogado que o contrata (Rodrigo Gaion), mas para quem se recusa a trabalhar. 

São complexas as forças na obra do também autor de “Moby Dick”. A montagem é intimista, 50 espectadores. “O conto e a peça falam ao vazio da nossa época, à angustiante falta de sentido em certos momentos da existência, sem esquecer o bom humor. Vemos o esgotamento e a necessidade de renovação das relações cotidianas”, diz Goulart. 

Dez anos atrás, ela leu a tradução feita pelo dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra, que centra o conflito nos dois personagens quando originalmente são cinco. Vadim Nikitin traduziu o texto co-dirigido por Joaquim Goulart e Daniela Carmona. 

À frente do Núcleo Caixa Preta, Cácia Goulart foi indicada ao Prêmio Shell São Paulo pela atuação em “Navalha na Carne” (2003) e integrou o elenco de “BR-3” (2006), do Teatro da Vertigem.



Peça: Bartleby 
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 0/xx/11/3179-3700) 
Quando: estréia amanhã; sex. a dom., às 20h; até 23/3 
Quanto: R$ 20 

Folha de S.Paulo

São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

TEATRO 
Produção independente tem lançamento hoje 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O diretor Amir Haddad, do grupo Tá na Rua, faz teatro há meio século e diz ainda ter dificuldade em definir o que é esta arte. Prefere relacioná-la à vida, duas metáforas alimentadas de “utopia”. 

Para a pesquisadora Iná Camargo Costa, a arte do teatro sobrevive desde tempos medievais, contracena com os meios tecnológicos como “atividade completamente artesanal”, mas resulta “socialmente irrelevante” na ordem do mundo capitalista. 

A provocação e o idílio estão entre os depoimentos colhidos no documentário “O que É Teatro?”, dirigido pelo dramaturgo Reinaldo Maia. O vídeo independente é exibido hoje, às 20h, no Galpão do Folias, sede do grupo paulistano Folias d’Arte, ao qual Maia pertence. A exibição é gratuita e seguida por um bate-papo. 

Encontro, jogo, diversão, deslocamento, representação, liturgia, vida, desvelamento de verdades: são definições suscitadas entre os depoimentos, um misto de gerações ao longo de 34 minutos. 

Falam artistas como os diretores José Renato (fundador do Arena, nos anos 50), João das Neves (ligado ao Opinião, nos 60), César Vieira (Teatro União e Olho Vivo), Roberto Lage (Ágora), Sérgio de Carvalho (Cia. do Latão), Carlos Gaúcho (Caixa de Imagens), Tiche Vianna (Barracão, de Campinas), a performer Dudude Hermann (Benvinda Cia. de Dança, de MG), a atriz Tânia Farias (Ói Nóis Aqui Traveiz, do RS) e os criadores portugueses Francisco Beja e Jorge Louraço. 

Mesmo sob o domínio de artistas ligados a grupos, Maia, 56, afirma que as respostas refletem pluralidade. “O vídeo é polifônico. Desconstrói a redução preconceituosa de que teatro de grupo significa ativismo de esquerda, experimentalismos. A questão é mais ampla.” 

Em contraponto, diz, há unidade no compromisso dos artistas de coletivos com o ofício, vinculando-o de forma estreita à existência de cada um. O vídeo entremeia imagens de espetáculos, sobretudo “Orestéia – O Canto do Bode”, o mais recente do Folias, movido por autoquestionamentos. 

Em tempo: a última cena do vídeo é a de uma vaca no pasto. “O que o camarada Brecht [dramaturgo alemão que atravessou duas guerras mundiais no século 20, morto em 1956] gostaria que existisse depois dele?”, questiona-se Maia.

Este flertou com o audiovisual nos ano 80, atuou em “A Próxima Vítima”, de João Batista de Andrade. E levou um ano e meio para fazer “O que É Teatro?”, câmera digital em punho e finalização do ator Flavio Tolezani.



O que é Teatro

Quando: lançamento hoje, às 20h 
Onde : no Galpão do Folias (r. Ana Cintra, 213, Santa Cecília, tel. 3361-2223) 
Quanto: entrada franca; DVD: R$ 20, no www.galpaodofolias.com.br 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

TEATRO 

Grupo de Eduardo Tolentino monta terceira peça do dramaturgo, reflexão sobre o poder paulista
 

Trajetória de fazendeiro e sua família que perdeu terras por causa da crise econômica de 1929 ajuda a entender Brasil de hoje

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local

“Os que plantaram… Vão começar a colher!”. São as palavras finais de “A Moratória”, murmuradas pela mulher do fazendeiro que perde as terras herdadas do pai e do avô. 

A peça de Jorge Andrade (1922-84) toca em raízes históricas da formação do Brasil entre as décadas de 20 e 30. Retrata a passagem do espaço rural para o urbano, profetiza as concentrações política e econômica do Estado paulista e constata os sentimentos de felicidade e família ditados pela noção de propriedade. O ontem roça o hoje o tempo todo, como se verá no espetáculo do grupo Tapa que entra em cartaz amanhã no Sesc Anchieta, em São Paulo. 

Os chamados “barões do café” foram sacudidos pela crise de 1929 provocada pela quebra da Bolsa de Nova York. Afundaram em dívidas. Seguiram-se a Revolução de 30 e a Revolução Constitucionalista de 32, fechando a era da monocultura e abrindo o ciclo industrial. 

Escrita em 1954, “A Moratória” desenvolve-se em dois planos, passado (1929) e presente (1932), a vida na fazenda e a casa na cidade. Muitas vezes em cenas simultâneas, a dramaturgia desenha em fragmentos a trajetória do patriarca Joaquim, o Quin, e de sua família. 

A decadência abala profundamente os valores aristocratas do fazendeiro interpretado por Zécarlos Machado. Ele tenta manter as rédeas, mas a realidade o coloca em xeque, a começar pelos filhos. Marcelo (Augusto Zacchi) vira operário e Lucília (Larissa Prado) concentra energias no pedal da máquina de costura com a qual sustenta a casa enquanto pai e mãe (Lu Carion) esperam, em vão, ganhar o processo de recuperação judicial das terras e ter as dívidas suspensas. 

“É uma peça espremida entre 1929 e 1932, que talvez tenha sido o momento mais difícil dessa cultura, desse Estado que precisou de uma industrialização, de duas ditaduras, uma civil e uma militar, da transferência da capital federal para, enfim, exercer a hegemonia sobre o Brasil”, diz o diretor Eduardo Tolentino, 43. 

Ele mexeu bastante no texto, o que raramente o Tapa faz; sua premissa é de respeito incondicional ao autor. Mas, aqui, houve cortes equivalentes a meia hora de texto, cenas foram remanejadas, sem prejuízo da sofisticada linguagem de Andrade, como a Folha conferiu na apresentação de domingo passado, no Sesc Santo André. 

Retorno
Do mesmo autor de “Vereda da Salvação” (que Antunes Filho montou duas vezes, a última no mesmo Anchieta, em 1992) e “Ossos do Barão” (adaptada para novela no SBT, em 1997), “A Moratória” é obra que somente foi produzida em 1955, dirigida por Gianni Ratto, e em 1976, por Emílio Di Biasi. 

É “quase um texto inédito”, no dizer de Tolentino, muito estudado e pouco visto. 

“As grandes matrizes do teatro brasileiro tinham que, a cada década, ganhar uma revisão, uma releitura por outros diretores. Os americanos não passam uma década sem assistir a “A Morte do Caixeiro-Viajante” [de Arthur Miller], “Um Bonde Chamado Desejo” [Tennessee Williams] e “Longa Jornada Noite Adentro” [Eugene O’Neill]. São textos fundamentais para os EUA, porque é aí que se forma uma identidade”. 

Daí seu entusiasmo quanto à visita que Os Satyros fazem neste ano ao mítico “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, que o próprio Tolentino dirigiu na década passada. Por falar em matrizes, o grupo Tapa, que completa 30 anos em 2009 e tem grandes dramaturgos estrangeiros em seu repertório, soma três Jorge Andrade (as outras são “Rastro Atrás” e “O Telescópio”), três Nelson Rodrigues, dois Oduvaldo Vianna Filho e dois Plínio Marcos, sempre textos pouco ou nunca encenados.



Peça: A Moratória 
Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 16/3 
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000) 
Quanto: R$ 5 a R$ 20
 

Folha de S.Paulo

São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

TEATRO

Trajetórias de times e da cidade se misturam na comédia musical “Nos Campos de Piratininga”, que estréia hoje
 

Graça Berman e Renata Pallottini equilibram documento e ficção na comédia musical que é dirigida por Imara Reis

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Corintianos, palmeirenses, são-paulinos e demais torcedores e moradores de São Paulo vão conferir um pouco da história dos times e da cidade na autodefinida comédia musical “Nas Terras de Piratininga”, da Cia. Letras em Cena, que estréia hoje no teatro Maria Della Costa, na Bela Vista. 

“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo, torcida brasileira!”, ouve-se a voz em off do locutor Fiori Gigliotti (1928-2006), dando partida a quase duas horas e meia de uma viagem por episódios e personagens que firmaram o futebol, da várzea aos estádios, do final do século 19 ao ano 2007. 

A dramaturgia co-assinada por Graça Berman e Renata Pallottini apoia-se em passagens documentais, como a do vapor com o qual o inglês Charles Miller, com uma bola de futebol, cruzou os mares para ancorar no porto de Santos, em 1894. 

Em paralelo, vai-se desenhando a geografia afetiva da São Paulo ao longo dos anos. Imagens num telão, por exemplo, descontraem o que é a região atual do parque Dom Pedro 2º até alcançar o que eram as margens do rio Tamanduateí com lavadeiras batendo roupa nas pedras e cantarolando. 

São incorporados trechos de crônicas, romances ou poemas de autores como Antônio de Alcântara Machado, Mário de Andrade, Juó Bananère e Oswald de Andrade, todos convertidos em personagens, ao lado do conde Francisco Matarazzo e do industrial Jorge Street. “O que conduz a narrativa é essa paixão dos paulistanos, ou daqueles que para cá vieram e envolveram-se amorosamente com o futebol e com a cidade”, diz a diretora Imara Reis. 

Quando cita o musical, diz ela, não se deseja carregar o tom espetacular. Ao contrário, a opção é por um palco nu, preenchido por atores, objetos e adereços de acordo com cada época. Algumas cenas fazem associação ao carnaval, como na alegoria a “Ô Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga. “O folião tem tudo a ver com o torcedor”, conta a diretora. 

Cada sessão deverá ser seguida de bate-papo entre jornalistas e boleiros. Hoje, estão escalados Roberto Avallone, Mário Travaglini, Muricy Ramalho, Pepe, Valdir de Moraes. Em campo, ou melhor, no palco, 13 atores defendem os dois tempos. O futebol, aliás, já havia levado a cia. a criar “Nossa Vida É uma Bola” (2002).



Peça: Nos campos de Piratininga
Quando:
estréia hoje, às 20h; seg. e ter., às 20h; até 29/4 
Onde: teatro Maria Della Costa (r. Paim, 72, tel. 3256-9115) 
Quanto: R$ 7 (para quem for vestido com a camiseta de um time) a R$ 20
 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 16 de fevereiro de 2008

TEATRO 

“Arrufos”, do Grupo XIX de Teatro, reúne narrativas vinculadas aos séculos 18, 19 e 20; grupo se apresentará na Inglaterra
 

Iluminação do espetáculo traz 50 abajures, operados por atores ou espectadores; platéia é disposta por casal, mesmo quando não o são

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

As últimas linhas de “Sem Fraude Nem Favor”, em que o psicanalista Jurandir Freire Costa decompõe os dilemas do amor, dizem muito ao coração da terceira peça do Grupo XIX de Teatro, “Arrufos”, que entra em cartaz hoje em São Paulo. 

“Durante séculos, a metáfora amorosa nos ensinou a buscar a felicidade na companhia do outro e acreditar que esse ideal era imortal. Hoje, trata-se de pensar no que significa “outro”, “companhia”, “felicidade” e “ideal imortal”.” 

Costa e, sobretudo, a pesquisadora Mary Del Priore (“História do Amor no Brasil”) são alguns dos autores que nortearam o trabalho. O amor é construção sociopolítica, vincula-se profundamente a contextos históricos, reafirmam as três narrativas sobrepostas em “Arrufos”, dramaturgia em colaboração do grupo. 

No século 18, sobre o tripé tradição-família-propriedade, estabelecem-se as forças da religião e do Estado sobre a vida pessoal. 

Mulher, marido, filha, empregada e amante despejam sentimentos e ressentimentos entre o rumor e a contenção. Um século adiante, o trem já constitui opção ao transporte a cavalo, mas no Brasil as questões ainda são arcaizantes. Em cena, um casal é separado pelas diferenças sociais de suas famílias, a pobre e a rica. E fica evidente a idealização romântica. 

No século 20 despontam moças e rapazes independentes, que pressupõem mais “consciência” e “liberdade” nas práticas e modos amorosos. 

“É a primeira vez que nos aproximamos da nossa época. 

Também nos questionamos sobre os modelos de relacionamento”, afirma Janaina Leite. Para a atriz, a linguagem do grupo desvia do realismo de situação para jogar um pouco com a farsa. 

Normas e convenções
As três épocas traduzem as normatizações do casamento entre homens e mulheres segundo as convenções de turno. Os espetáculos anteriores tiveram suas escalas arquitetônicas representadas pelos prédios históricos e espaços públicos. A rua, a janela e a porta adquiriram mais significado sobretudo após a chegada do XIX de Teatro à Vila Maria Zélia, na zona leste da cidade. A antiga vila operária permanece como geografia da intervenção, mas com dimensão intimista. 

A direção de arte de Renato Bolelli Rebouças cria como que “um grande quarto”, diz Marques. “A platéia é a parede, os olhos dessa alcova.” 

No interior de um dos armazéns da vila, foi erguida uma estrutura de arquibancada em formato quadrado. No centro, seis atores e seis móveis adquiridos em antiquários co-habitam cerca de 2,5 m2. 

“Trocamos a narrativa do espaço pela dos objetos”, diz a atriz Sara Antunes. Conforme evoluem os quadros, os personagens rompem esse espaço. Não dava para falar de amor à luz do dia. Daí as sessões noturnas. A luz usa 50 abajures, operados por atores ou espectadores, incitados a interagir e dispostos na arquibancada por casal, mesmo quando não o são, o que dá margem ao encontro. 

Em junho, o grupo viaja para a Inglaterra. Faz 13 apresentações de “Hysteria”, sua primeira peça, nos centros culturais Barbican, de Londres, e no Contact, de Manchester, enquanto alguns dos seus atores ministram workshop sobre o processo de criação.



Peça: Arrufos 
Onde: Vila Maria Zélia (r. Cachoeira, esq. c/ r. dos Prazeres, tel. 2081-4647) 
Quando: sáb., às 20h, e dom., às 19h 
Quanto: R$ 20

 

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

TEATRO 

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

O Ponkã (1983-91), um dos coletivos artísticos que ajudou a firmar as artes cênicas experimentais em São Paulo com influências orientais, é evocado no novo espetáculo do grupo de teatro de rua Buraco d’Oráculo, que completa uma década neste ano e tem sua base em São Miguel Paulista, zona leste. 

Um dos protagonistas da trajetória do Ponkã, ao lado de artistas como Luiz Roberto Galizia, Paulo Yutaka, Celina Fuji e Alice K., o ator e diretor convidado Paulo de Moraes, 51, é quem faz a ponte no espetáculo “ComiCidade”, que estréia hoje na praça do Patriarca, no centro. 

Ele afirma que o projeto com o Oráculo não transpõe a linguagem que o seu grupo acumulou em montagens como “Pássaro do Poente”, de Carlos Alberto Soffredini, dirigida por Marcio Aurélio. 

O grupo de rua o convidou para um trabalho de “limpeza gestual” dos atores. Uma das especialidades de Moraes é a preparação corporal com ênfase em técnicas japonesas. Não demorou para que ele introduzisse o Oráculo nas histórias curtas do kyogen, comédia clássica japonesa de extrato rural, em voga nos séculos 14 e 15. As farsas eram contrapostas ao rigor do drama “nô”. 

Em 1991, o Ponkã (nome inspirado na fruta derivada da mistura da laranja com a mexerica) levou o gênero à cena com “Quiogem – Loucas Palavras”. 

Moraes adaptou “à brasileira” as histórias, que giram em torno do ladrão enganado por sua vitima, da mulher que apanha do marido e se rebela, dos muambeiros que vendem gato por lebre e dos empregados que enganam seu patrão. 

“A nossa inspiração sempre foi a cultura popular, a abordagem de situações vividas por pessoas comuns, e o kyogem encaixou-se perfeitamente à proposta”, diz um dos fundadores do Buraco d’Oráculo, Adelino Alves, 31. 

Ele contracena com Edson Paulo, Lu Coelho e os atores convidados Selma Pavanelli e Johnny Jhon. 

Também participam da equipe artistas oriundos de grupos recém-nascidos na zona leste por meio de oficinas do Oráculo, como Arruacirco (Itaim Paulista) , Teatristas Periféricos (Cidade Tiradentes) e Nascidos do Buraco (São Miguel).



Peça: Comicidade
Quando: estréia hoje, às 17h; dias 15/2, 20/2, 22/2 e 29/2; e 5/3, 7/3, 12/3 e 14/3 
Onde: pça. do Patriarca 
Quanto: entrada franca 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

TEATRO 

Jornalista e morador de rua se confrontam em espetáculo da Confraria da Criação
 

“Línguas Discordantes” tem texto de Wolff Rothstein e direção de Otávio Costa Filho, que vivem personagens que se encontram pela palavra

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Para quem vive na rua, o papelão vira cobertor ou colchão, a depender dos ventos urbanos. É seu “pedaço”. Mas há quem o invada, pise e nem se dê conta. 
Foi uma cena assim que o ator Wolff Rothstein viu anos atrás, na região do Minhocão, centro paulistano. Ponto de partida para escrever “Línguas Discordantes”, que estréia hoje na praça Franklin Roosevelt. 
A peça que ele “experimenta” desde 2006 abriu um projeto de dramaturgia com a cia. Confraria da Criação sobre o tema da exclusão. Na seqüência, virão textos que visitam travestis e garotos de programas. 
“Línguas…” aproxima ao acaso um morador de rua e um jornalista. Mário (Rothstein) se põe à margem não por causa da sua situação, mas por meio da escrita e da leitura. Quem tromba com ele na calçada, num passo descuidado, é Alberto (Otávio Costa Filho, que também assina a direção), frustrado com uma reportagem que o chefe na redação derrubou. 
“O centro desses dois universos é a palavra”, diz Rothstein, 43. Entre identificações e diferenças, o diálogo transforma os personagens. E o público, esperam os artistas, carrega a reflexão do “poderia ser comigo”. Após apresentações pontuais, como na rua do Sesc Pompéia ou num refeitório para moradores de rua na Bela Vista, os atores concluíram que o espetáculo ganha mais sentido em espaço público. Por isso a primeira temporada acontece na praça Roosevelt, do outro lado da calçada em frente ao Espaço dos Satyros Um, onde existe uma espécie de arena. 
Rothstein diz que a peça de tintas realistas não se apropria dos recursos usuais do teatro de rua, caracterizado pela busca de linguagem mais direta com o espectador. “O texto é bem teatral, valoriza o tempo da palavra, os diálogos.” 
A Confraria da Criação, em que Rothstein está há dois anos, estreou em 2000, com “Deus e os Outros Eus”, de Tereza Monteiro, com direção de Inês Aranha de Carvalho.



Peça:Línguas discordantes 
Onde: pça. Franklin Roosevelt (em frente ao Espaço dos Satyros Um, tel. 3258-6345) 
Quando: sáb., às 19h; até 29/3 
Quanto: grátis (se chover até meia hora antes, não haverá apresentação)
 

contracena

contracena e notaA recepção em teatro e dança aproxima-se da crítica genética, linha de pesquisa emprestada da teoria literária para palmilhar processos criativos. É o que sinaliza jornada de pesquisadores realizada na Argentina, onde assistimos a uma obra modelar dessa fricção.

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