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“Folha de São Paulo"

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Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2007

TEATRO 
Coletânea reúne textos publicados em jornais cariocas entre 1944 e 1994, com destaque para ensaios teóricos da crítica de teatro  

VALMIR SANTOS
Da Reportagem local 

Noite dessas, Barbara Heliodora reuniu-se no Rio com artistas como Fernanda Montenegro, Tonia Carrero, Ítalo Rossi e Sérgio Britto. A conversa girou em torno do lançamento da coletânea de textos da crítica de teatro, um painel da segunda metade do século 20. 

“O livro cobre a época em que esses monstros sagrados de hoje estavam começando a carreira”, diz a carioca Heliodora, 84. Um dos destaques de “Barbara Heliodora – Escritos de Teatro”, que sai pela editora Perspectiva, é agrupar em sua primeira parte ensaios teóricos da autora, entre 1944-1971, face menos conhecida pelas novas gerações. Organizadora do volume, a pesquisadora Claudia Braga estabelece como ponto de partida o primeiro artigo que Heliodora publica na imprensa, um estudo sobre o escritor inglês Geoffrey Chaucer em “O Jornal”, 23/4/ 1944. 

Seguem-se como que os anos de formação da crítica, que na análise de autores fundamentais, como na triangulação Sófocles-Eurípides-Eugene O’Neill, para falar da evolução da tragédia, quer na percepção de que o então incipiente moderno teatro brasileiro só alçaria vôos se atores e autores assumissem o lugar de onde falam, ou seja, o Brasil. “A maneira brasileira de interpretar ainda não foi encontrada, mas só será encontrada quando houver meios de treinar atores, e, sem dúvida, será com o trabalho com textos nacionais, em que são retratados brasileiros de todos os tipos, que eventualmente os atores poderão encontrar a melhor maneira de vivê-los”, escreve em 1959, entusiasmada na recepção de textos de Ariano Suassuna e Gianfrancesco Guarnieri. Em 2007, o panorama é outro. “Uma das mudanças mais importantes é que hoje, a grande maioria dos espetáculos é de autor brasileiro. Antigamente, a maioria era importada”, diz à Folha. 

A “pancada da ditadura”, diz, teria diluído uma produção ativa. “Prejudicou por dois lados: quem já estava escrevendo e tinha um certo corpo de obra, abandonou o teatro, porque viram que não podiam fazer nada; e impediu que novos vivessem de palco para dizer coisas mais significativas.” 

Após a abertura política, Heliodora tomou gosto pelo besteirol e muita gente não entendeu o motivo. “Foi uma maneira muito fácil e acessível de chamar o público de volta para o teatro. O besteirol vem de uma grande tradição no teatro brasileiro que é a da comédia de costumes, um esteio um pouco mais caricato.” 

Como não poderia deixar de ser, as críticas representam o maior filão na coletânea, que avança até 1994. Ao atrair desafetos pelo estilo incisivo, Heliodora diz que prefere não entrar em bate-boca. “Se alguém fica furioso, é melhor deixar se acalmar. Enfrento o trabalho com toda a equanimidade.” 

O diretor Enrique Diaz, da carioca Cia. dos Atores, discorda. Identifica na crítica de “O Globo” (desde 1990) “desrespeito, estreiteza de pensamento e leviandade”, como declarou em julho a “O Estado de S. Paulo”. “É problema dele, minha carreira não ilustra essa leviandade. Ele tem liberdade para achar isso, mas a ofensa não leva a nada”, diz Heliodora. 



Barbara Heliodora – Escritos sobre o Teatro
Organizadora: Claudia Braga 
Editora: Perspectiva (952 págs.) 
Quanto: R$ 90 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

TEATRO 

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

M ais importante projeto do ano teatral em São Paulo, a temporada de “Os Efêmeros”, pela cia. francesa Théâtre du Soleil, com ingressos esgotados, estimula público e artistas a repensar seus papéis nessa arte. 

O espetáculo integral dura oito horas e compreende não só a cena, mas sua órbita. Assim que chega, o espectador caminha até uma das duas platéias, leste ou oeste. Escolhe um lugar, retira o adesivo com o número do respectivo assento e o cola no ingresso. Livre-arbítrio. Antes do início, pode-se ir ao bar comprar pratos feitos pelos próprios integrantes do Soleil. No intervalo, a demanda é maior e convém paciência. 

Os artistas que servem a comida não estão preocupados em ser garçons de fast-food. Muita gente vai bufar, mas eis a chance para resgatar a percepção dos tempos do outro e de si. O ato de comer agrega. A ambientação inclui mesas retangulares de madeira e bancos longos, em conformação que coloca o comensal de frente para o outro. Toalhas, velas, aroma dos pratos, fundo musical, tudo envolve a todos. O camarim é aberto. 

Em sua cosmogonia peculiar, o Soleil reafirma ideais socializantes, mesmo ao tecer universos particulares. Após montagens apoiadas em narrativas épicas de conflitos vividos por outros povos, a cia. volta-se para seu corpo e memória. Expõe fragmentos pessoais dos intérpretes numa dramaturgia de embarque e desembarque por épocas e lugares. 

Às vezes, parece que o trem sai dos trilhos pelo descomedimento, ausência de uma cabeça exterior que represe tantas emoções e comoções. Mas é sensação também passageira. Na subversão ao relógio, “Os Efêmeros” concilia emoção e consciência de mundo. Há uma sincera beleza em lidar com esses estados interiores, até como documento histórico da humanidade em seus dramas, tragédias e comédias. O teatro é consagrado em sua menor grandeza, como na minúcia dos objetos nas plataformas que deslizam sobre rodinhas ou no brio dos artistas que as empurram, protagonistas na coreografia e no olhar tanto quanto os colegas que atuam em cima dos tablados. 

Sob a perspectiva do teatro paulistano atual, o Soleil também diz muito. O modo de produzir é tão radical quanto o do grupo Oficina, por exemplo. A escala monumental lembra a perseverança do Vertigem. O naturalismo de cena em “Os Efêmeros” deixa entrever ainda a que ponto chegaria o “Prêt-à-Porter” do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) se o projeto fosse redimensionado com mais fé e risco. Por isso, mas não só, a primeira turnê da companhia pela América do Sul em 43 anos é, desde já, memorável. 



Os efêmeros
Quando: hoje e amanhã (versão integral), às 15h; segunda (1ª parte), às 19h30; terça (2ª parte), às 19h30 
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, tel. 3871-7720) 
Quanto: R$ 10 a R$ 70 (ingressos esgotados) 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007

TEATRO

Com 50 anos de carreira, atriz protagoniza adaptação inédita do autor francês
 

“Eu Estava em Minha Casa e Esperava Que a Chuva Chegasse” conta a história de cinco mulheres à procura de um parente perdido
 

VALMIR SANTOS

Da Reportagem Local

Quando olha para a cena teatral da cidade de São Paulo e se depara com a tônica de grupos, Miriam Mehler se sente à vontade. Há quase 50 anos, em fevereiro de 1958, ela estreava no Teatro de Arena com “Eles Não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), ator e dramaturgo daquele coletivo. A intérprete passou ainda pelo TBC e Oficina. A partir de hoje, com pré-estréia para convidados, Mehler, 72, ancora o novo espetáculo de uma companhia formada há sete anos, a Elevador de Teatro Panorâmico, dirigida por Marcelo Lazzaratto. 

Trata-se da peça “Eu Estava em Minha Casa e Esperava Que a Chuva Chegasse”, de Jean-Luc Lagarce (1956-85), inédita no Brasil. Ela é a mais velha das cinco mulheres de uma família, abaladas com a volta do neto/ filho/irmão desaparecido. 

Em verdade, ele não “reaparece”. Na peça, a figura masculina, apesar de epicentro da narrativa, é deslocada para as margens. “O autor vai fundo na alma feminina”, diz Mehler. 

Para a atriz, em Lagarce importa mais o não dito. “Aquilo que um personagem pensa, o subtexto de uma fala”, afirma Mehler. Uma das inspirações do texto é a peça “As Três Irmãs”, de Anton Tchecov. 

A ausência do rapaz, por anos, faz com que as cinco personagens se agarrem à imaginação. Cada uma, a seu modo, divaga, pensa, cria mundos e possibilidades de existência que tomam por reais. 

Quando acham que já firmaram suas redes de segurança para a angústia da espera, eis que o homem, redivivo, chega, cai no chão e não se sabe se está vivo ou morto. Permanece o tempo todo no quarto, e é a partir daí que deslancha a história com o sujeito oculto. 

Para essas mulheres, conforme Lazzaratto, a realidade passa a ser uma coisa pequena diante do universo de possibilidades que elas criam na cabeça. O diretor teatral destaca a linguagem contemporânea de Lagarce. “A forma pela qual o autor tece seu texto é muito precisa”, conclui.



Eu estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse
Quando:
pré-estréia hoje, às 21h30, para convidados; temporada a partir de amanhã; sex. e sáb., às 21h30; dom., às 18h. Até 18/11 
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 0/xx/11/3179-3700) 
Quanto: R$ 20

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007

TEATRO

Artista começou como amador em 1947, integrou o período áureo do TBC e dialogou com jovens nomes a partir do fim dos anos 80
 

Ator de técnica apurada no uso de pausa, ritmo e dicção, Paulo Autran era dono de uma das mais bem preparadas vozes do país
 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local

 
“Bom no drama e bom na comédia” -assim prenunciou o crítico Décio de Almeida Prado em 1953 sobre Paulo Autran. Seis anos antes, o ator iniciara a carreira no teatro amador, dirigido por Madalena Nicol em “Esquina Perigosa”, do britânico J.B. Priestley, em que contracenou com a irmã do bibliófilo José Mindlin, Esther.

Mas a vontade de representar remonta mesmo à infância, quando Paulo brincava de teatro em casa com primos. Criavam cenas para os adultos adivinharem do que se tratavam.

“Minha primeira entrada em cena, o primeiro papel que fiz na vida, foi de demônio. Tinha uns oito anos, botei um chinelo vermelho da minha tia, um calção vermelho de pano, e minha tia fez uns chifrinhos de papel pintado de preto; me desenharam um bigode na cara e eu representei um demônio”, afirma, no livro de entrevistas “Um Homem no Palco” (1998), do ator e crítico Alberto Guzik.

Filho de delegado e de uma dona-de-casa autodidata que tocava piano, Paulo Paquet Autran nasceu em 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro. Aos seis anos, a família se mudou para São Paulo. Como muitos artistas de sua geração, formou-se em direito. Chegou a trabalhar num escritório de advocacia, mas pouco tempo depois abandonou a profissão.

A fase amadora também foi curta, de 1947 a 1949. Logo se profissionalizou, dando início a uma trajetória que se confundiu com a evolução do moderno teatro brasileiro.

No fim de 1949, passou a integrar o Grupo de Teatro Experimental (GTE), de Abílio Pereira de Almeida. Na fase áurea do TBC, atuou em produções importantes, como “Seis Personagens à Procura de um Autor”, de Pirandello, com direção do italiano Adolfo Celi. Ao lado do próprio e de Tônia Carrero, criou em 1956 a Companhia Tônia-Celi-Autran, que estreou com “Otelo”, de Shakespeare, e durou cinco anos.

Além de Tônia, contracenou com outras grandes atrizes como Cacilda Becker (“Antígone”, 1952), Bibi Ferreira (“My Fair Lady”, 1962), Maria Della Costa (“Depois da Queda”, 1964), Cleyde Yáconis (“Édipo Rei”, 1967) e Eva Wilma (“Pato com Laranja”, 1979).

Com Fernanda Montenegro, fez parceria só na TV, veículo que ele desprezava. Mas as pequenas incursões possibilitaram ao menos a antológica seqüência cômica de “Guerra dos Sexos” (1983), em que Autran e Montenegro atiram tortas no rosto um do outro.

Nova geração
Entre os diretores com quem atuou, estão Flávio Rangel (“Liberdade, Liberdade”, 1965), Ademar Guerra (“O Burguês Fidalgo”, 1968), Silnei Siqueira (“Morte e Vida Severina”, 1969), Fauzi Arap (“Macbeth”, 1970), Antunes Filho (“Em Família”, 1972), Celso Nunes (“Equus”, 1975) e José Possi Neto (“Feliz Páscoa”, 1985).

A partir do final dos anos 80, passou a dialogar com a geração mais recente de encenadores, alguns inclusive de perfil experimental ou vinculados a grupos, como Eduardo Tolentino de Araújo, do Tapa (“Solnes, o Construtor”, 1988), Paulo de Moraes, da Armazém Companhia de Teatro (“A Tempestade”, 1994), Ulysses Cruz (“Rei Lear”, 1996) e Felipe Hirsch, da Sutil Companhia de Teatro (“O Avarento”, 2006).

Mas é no solo “Quadrante” que o público se aproximou mais de Paulo Autran em carne e osso, sem propriamente a mediação de um personagem.

Desde 1988, ele entremeou as temporadas das peças que produziu com viagens pelo Brasil para apresentar seu “show”, como preferia definir “Quadrante”, ao qual o dramaturgo Plínio Marcos certa vez assistiu e o aconselhou a incorporá-lo ao repertório.
Ao consagrar poetas, cronistas e romancistas diletos em “Quadrante”, Autran expôs a condição de devoto da palavra. Homem de técnica apurada no uso de pausa, ritmo e dicção, ele era dono de uma das mais bem preparadas vozes do país. Por isso a coleção de registros em disco, prosa e verso, desde a década de 1950, em recitações para Pessoa, Drummond, Bandeira. Segundo Autran, o ator não tem direito ao próprio corpo e nem ao próprio rosto, mas sua voz é inconfundível.

Autran era um artista da palavra. Todo espetáculo em que atuou ou dirigiu principiava pela leitura de mesa. Era em volta dela, na sala de seu apartamento, que submetia autores contemporâneos ao teste. Na escuta, orientava enunciações e torcia pelo colorido de diálogos ou solilóquios.

“No dia em que, na minha casa, estudando uma cena do Creonte de Anouilh, descobri que o ator é “dono das palavras” e pode fazer com elas o que quiser, descobri ao mesmo tempo o valor da pausa, ou de sua supressão, que o sentido de uma palavra é o que o personagem quiser lhe atribuir naquele momento. Então, comecei a perceber a verdadeira função do ator, do intérprete, enfim, o que é ser ator”, escreveu na fotobiografia “Paulo Autran – Sem Comentários”, publicada em 2005. 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007

TEATRO 
“Fala Baixo, Senão Eu Grito”, encenada em 1969, reestréia em SP “atualizada” 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem local 

Marília Pêra, Myriam Muniz, Suely Franco e outras atrizes já foram Mariazinha um dia, a funcionária pública “solteirona” e sexualmente reprimida de “Fala Baixo, Senão Eu Grito”. Quase 40 anos depois de seu nascimento, em 1969, a personagem da autora paulista Leilah Assumpção reinventa fantasmas para os tempos que correm, agora na pele de Ana Beatriz Nogueira. 

A atriz co-produz a montagem do Rio que estréia hoje no teatro Sérgio Cardoso. Mariazinha contracena com Eriberto Leão, o Homem, ou melhor, o ladrão que invade o quarto da protagonista e bagunça a realidade de quem se pensava “segura” na retidão do trabalho e da moral classe média. 

A figura masculina incita a mulher à emancipação. É um marginal que aprendeu na escola da vida da qual Mariazinha fugiu. Para romper o invólucro frágil do mundo que ela cria para si, o diretor convidado Paulo de Moraes (da Armazém Cia. de Teatro) apoia-se num dos símbolos do isolamento urbano: a TV. Há 20 aparelhos no cenário de Carla Berri. 

“Ele [Moraes] diz que foca o trabalho na solidão da mulher que vive na cidade grande, mas vai mais à frente: toca profundamente à solidão da alma humana”, diz Assumpção, 64, que conferiu a temporada carioca. A autora aponta pontos de contato entre as duas montagens. “Não é uma obra datada. A Mariazinha é menos engraçada, menos alienada em 2007, mas tão solitária quanto antes. 

É desesperador”, diz. 

Assumpção, a mesma de “Intimidade Indecente”, faz parte da geração de autores que surgiu no final dos anos 60, de Consuelo de Castro, Antônio Bivar, José Vicente (1945-2007) e outros. Atualmente, escreve “Ilustríssimo Filho da Mãe”, sobre um executivo de 40 anos em crise. 



Fala baixo, senão eu grito

Quando: estréia hoje, às 21h30; sex. e sáb., às 21h30; dom., às 18h; até 28/10 
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 3288-0136) 
Quanto: R$ 20

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

TEATRO

Co-fundador dos Satyros, Ivam Cabral, se diz preocupado em não perder o “espírito amador” nas 80 horas de festa
 

Das 16h de hoje à meia-noite de domingo, espaços da praça Roosevelt e outros pontos da cidade recebem a maratona cultural

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Com 80 horas de atividades, o teatro vira pretexto para a programação das “Satyrianas – Uma Saudação à Primavera”. O evento que a Companhia de Teatro Os Satyros organiza de hoje a domingo, a partir da praça Franklin Roosevelt, na região central de São Paulo, toma proporções de que nem o grupo desconfiava.

Às 16h de hoje é dada a largada para cerca de 200 atrações de teatro, dança, música, literatura e artes visuais. Começa com o show ao ar livre, na praça, do grupo Ilú Oba de Min. Avança até a festa de encerramento, a partir de meia-noite de domingo, no teatro N.Ex.T. (r. Rego Freitas, 454, tel. 3106-9636).

“Neste ano, houve um inchaço que a gente precisa repensar”, diz o ator Ivam Cabral, 42, em avaliação na véspera da abertura. “Relutamos em profissionalizar o encontro justamente para manter o caráter amador”, diz o co-fundador dos Satyros, grupo criado há 18 anos e que, desde 2002, capitaneia o agito de cultura e de diversão na praça Roosevelt.

Público e artistas têm chance de se cruzar de hora em hora, praticamente, entre manhãs, tardes, noites e madrugadas. Todas as apresentações têm acesso livre, mas os organizadores esperam que o espectador colabore, definindo ele mesmo o valor de seu ingresso.

No ano passado, cerca de 12 mil pessoas acompanharam a programação. E a estimativa para este ano? “Só Deus sabe”, afirma Cabral.

O espírito amador que ele evoca é refletido, por exemplo, no mutirão espontâneo da maioria dos artistas. O orçamento geral é de cerca de R$ 25 mil, vindos da Secretaria Municipal da Cultura (em 2006, foram R$ 15 mil).

Segundo Cabral, boa parte dos recursos banca equipamentos e infra-estrutura que, nesta oitava edição, inclui a montagem de uma lona de circo (quadrada) na praça, com capacidade para 200 pessoas. É nesse espaço que acontece o projeto DramaMix.
Parceria dos grupos Satyros e Dramáticas em Cena, o DramaMix reúne 78 dramaturgos, respectivos diretores e cerca de 200 atores para fazer a leitura encenada de textos em intervalos de uma hora.

Entre as personalidades dessa mistura literal, estão os encenadores Gerald Thomas e Gabriel Villela, o ator Marco Ricca, a escritora Veronica Stigger e a apresentadora Adriane Galisteu.

Alguns espetáculos em cartaz em outros endereços da cidade também integram as “Satyrianas”, sob cachê “simbólico”. Caso de “Orestéia – O Canto do Bode”, que o Folias d’Arte apresenta em seu galpão, em Santa Cecília, e “A Casa do Gaspar ou Kaspar Hauser, o Órfão da Europa”, na sede do Ventoforte no Itaim Bibi.

Os Satyros incluem ainda na geografia do evento os seus espaços no Jardim Pantanal, na zona leste, e teatro da Vila, na Vila Madalena, zona oeste

 

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

TEATRO 

Juliana Carneiro da Cunha faz 7 papéis em “Os Efêmeros”, que estréia na sexta-feira em SP; ingressos estão esgotados
 

Intérprete fala de sua trajetória européia, que se inicia com a dança e culmina no trabalho com a diretora Ariane Mnouchkine

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Juliana Carneiro da Cunha coleciona poucos e memoráveis momentos na história do teatro e do cinema brasileiros -pôde ser vista pelo público nacional em trabalhos como como a peça “As Lágrimas Amargas de Petra von Kant” (1982), de Rainer Werner Fassbinder, em que contracenava com Fernanda Montenegro, ou o filme “Lavoura Arcaica” (2001), de Luiz Fernando Carvalho, ao lado de Raul Cortez. 

Chegou a hora de conhecer a Juliana Carneiro da Cunha que interpreta em francês há 17 anos no Théâtre du Soleil. A companhia está no Brasil pela primeira vez e é das mais admiradas no cenário internacional, dirigida por Ariane Mnouchkine há 43 anos.
 
O espetáculo “Os Efêmeros” (Les Éphémères), de 2006, passou pelo festival Porto Alegre em Cena e estréia em São Paulo depois de amanhã, na futura unidade do Sesc Belenzinho, com ingressos esgotados -está em negociação uma data extra, provavelmente no dia 24. 

“Sempre pensei que, quando o Théâtre du Soleil fosse ao Brasil, causaria um impacto produtivo. É um teatro único, que está de pé há mais de 43 anos e que mantém suas leis, suas regras de base claras”, diz Cunha, 58 anos. “Porque costuma acontecer dessas utopias e ideais durarem quatro, cinco anos, não mais.” Ela conversou com a Folha em julho, no final de uma das sessões no Festival de Avignon, no sul da França. 

Do Sumaré à Bélgica
Nascida no Rio e criada em São Paulo, Juliana Carneiro da Cunha cumpriu uma odisséia genuína pelo mundo das artes cênicas. Aprendeu os primeiros passos de dança aos 7 anos, em aulas com a professora húngara Maria Duschenes, sua vizinha no bairro paulistano Sumaré. 

Dez anos depois, partiu para estudos na Europa, emancipada aos 17 anos para viver na Alemanha e na Bélgica, onde integrou a primeira turma da escola de Maurice Béjart, o Mudra, ao lado da francesa Maguy Marin. 

Participou de coreografias e montagens teatrais do circuito independente europeu, mas voltou ao seu país em 1978, quando ficou grávida de Mateus. Em seguida, nasceu Joana. Eles são franco-brasileiros e hoje se dedicam, respectivamente, à literatura e ao cinema. 

“Eu saí como bailarina e, quando voltei, me chamavam para trabalhar mais como bailarina. Na época, tinha aquela questão: você prefere ser bailarina ou atriz. Respondia: “Eu sou intérprete, bailarina, atriz, cantora, muda, fico de cabeça para baixo, o que for necessário para o personagem'”. 

E foi quando Celso Nunes a chamou para fazer “As Lágrimas Amargas de Petra von Kant”, lembra. 

A intérprete voltou para a Europa em 1988, agora para dançar na companhia de Maguy Marin. Em paralelo, tentou realizar o sonho de entrar no Théâtre du Soleil, que conhecera em 1976, quando assistiu a “L’Age d’Or”, na Cartoucherie de Vincennes, sede do grupo. 

“Cheguei lá com amigos, tinha fila, serviram sopa, sanduíche, enfim, lembro-me completamente. E foi uma peça maravilhosa. Ficou essa vontade de um dia participar dessa trupe”, relembra. O que ocorreu 14 anos depois, em 1990, depois de estágio e teste. 

Em “Os Efêmeros”, Cunha interpreta sete personagens em nove histórias feitas da memória e do presente. É a que mais aparece, por assim dizer, mas no Soleil não existe a figura da primeira-atriz, do primeiro-ator. Além de Cunha, em meio a cerca de 30 intérpretes, despontam talentos como a francesa Dephine Cottu e a iraniana Shaghayegh Beheshti, para ficar nas mulheres. 

“O que você faria se soubesse que a Terra acabaria amanhã ou em uma semana? A gente improvisou em cima disso. Escolhíamos personagens vindos das lembranças da avó, da família. Situações transformadas, claro, mas pinçadas das profundezas pessoais”, diz Cunha.



Os efêmeros
Quando: de 12 a 23/10, em sessões parciais e integrais 
Onde: futura unidade Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, tel. 0/xx/11/3871-7720) 
Quanto: R$ 10 a R$ 40 (ingressos esgotados). Programação paralela no site 
www.sescsp.org.br/ephemeres 

Folha de S.Paulo

São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

TEATRO 
“O Grande Criador”, de hoje a quarta, faz piada até com origem de Adão e Eva 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem local 

Se Deus criou o homem a sua semelhança, então isso deve dar um trabalho danado. Pelo menos na perspectiva cômica da companhia teatral portuguesa Chapitô, que apresenta “O Grande Criador”, de hoje a quarta, no palco principal do Sérgio Cardoso, na Bela Vista. 

A criação coletiva, que estreou em Lisboa há dois anos, pretende conceber um retrato “humanizado” de Deus, confrontando-O com os problemas da evolução. 

Afinal, Ele criou Adão e Eva ou simplesmente trombou com o casal paradisíaco? Será que a falta de espaço na Arca de Noé foi o verdadeiro motivo para a extinção dos dinossauros? 

Partindo de motes assim, os atores Jorge Cruz, José Carlos Garcia e Rui Rebelo desdobram-se em tipos e situações, independente de crenças -o budismo e as razões da ciência também entram na dança. “O Grande Criador” é a terceira parte da “trilogia de reciclagem”, projeto que, desde 2002, montou “Dom Quixote” e “Talvez Camões”, sempre com direção de John Mowat. 

Nascido em 1996, o grupo identifica-se com a linguagem do teatro do gesto, aquele que articula outros elementos de cena no mesmo plano do texto, como a expressão corporal, a música, os recursos visuais. 

O Chapitô tem sede na capital portuguesa. Além de produzir espetáculos, constitui um centro de formação artística. 

A sua turnê integra a série Cena Estrangeira, da Secretaria Estadual da Cultura, que inclui o Sérgio Cardoso no roteiro de espetáculos em parceria com o Núcleo Internacional dos Festivais de Artes Cênicas do Brasil. 

Na seqüência, “O Grande Criador” vai ao Riocenacontemporânea. 



O Grande Criador
Quando: hoje, amanhã e qua., às 21h 
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 3288-0136)
Quanto: R$ 10

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

TEATRO 
Versão de livro de ensaísta francês sobre incesto é dirigida por Inês Aranha e protagonizada por Bia Toledo 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O ensaísta e romancista francês Georges Bataille angariou o epíteto de “pensador da transgressão”. A adaptação de “Minha Mãe” para o palco faz jus a isso, como se verá na montagem que estréia hoje em São Paulo. São cenas de enfrentamento do tabu do incesto para questionar noções de amor e violência, loucura e desejo no território do erotismo. 

Há cinco anos o escritor Elzemann Neves alimenta o projeto de adaptar e traduzir a obra, que chega ao palco por meio da Cia. Nua, com interpretação solo de Bia Toledo e direção de Inês Aranha. 

“Minha Mãe” (1966) é a primeira parte de uma trilogia inacabada do autor. No livro, a história é narrada pelo filho, que constrói a personalidade de Hélène, a mãe, a partir de sua imatura concepção de vida. A adaptação de Neves tem como desafio dar voz a Hélène, transformando-a no centro da ação. 

Na livre adaptação, Hélène dirige-se a Pierre, personagem que é como se fosse encarnado pela platéia. A ação se passa em 1906. Ela tem 32 anos, o marido acaba de morrer e o monólogo constitui sua tentativa de desnudar-se por inteiro ao filho. 

Ela dará notícias da vida libertina ao lado do marido, o homem que nunca a tocou depois de violentá-la aos 13 anos, mas que vive um casamento feito de orgias com terceiros. 

“A Hélène é muito envolvente, apesar de não ser simpática. É muito imperativa e cruel. Ela sofre um pouco pelas decisões, mas são dúvidas até certo ponto passageiras. Sua maneira de amar é bastante perturbada”, afirma a atriz Bia Toledo, 32. 

Em seu primeiro monólogo na carreira, metade da vida como atriz, Toledo multiplica-se entre as diversas máscaras de Hélène, além da dar “corpo” a Pierre a Réa, a prostituta com a qual a mãe introduz o filho no reino da libertinagem em que ela é rainha absoluta. 

Dirigindo-se ao público, a personagem explica: “Para ele, sou um quebra-cabeças de partes surpreendentes: doçura triste, melancolia fascinante, felicidade lasciva. A melancolia ele relacionava à maldade de seu pai. A alegria às minhas saídas depois do almoço, que podiam durar um dia inteiro”. 

As mudanças de tempo e espaço são pontuadas por meio da partitura física da atriz, conforme a encenação de Inês Aranha, especializada na preparação corporal de elencos. 



Minha Mãe
Onde: teatro Crowne Plaza (r. Frei Caneca, 1.360, tel. 3289-0985) 
Quando: estréia hoje, às 21h; sáb., às 21h, e dom., às 20h. Até 25/11 
Quanto: R$ 30 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2007

TEATRO 

Oitavo Riocenacontemporânea recebe atrações do Brasil, Itália, França e Inglaterra
 

São 70 produções nacionais e estrangeiras; Oficina e Teatro da Vertigem estão entre os grupos paulistas que participam do festival
 

VALMIR SANTOS

Da Reportagem Local

Um dos principais irrigadores das artes cênicas cariocas nos últimos dez anos, o festival Riocenacotemporânea olha para trás para fazer seu “inventário”, o eixo eleito. A oitava edição, que começa hoje, leva o Oficina Uzyna Uzona, do diretor José Celso Martinez Corrêa, ao mesmo cenário onde apresentou “As Bacantes” em 1996: a zona portuária, no Centro Cultural Ação da Cidade. Desta vez, é encenado “Os Sertões”, cuja primeira peça abre o festival hoje à noite. 

Os dez dias de evento mexem ainda com outras memórias em cerca de 70 atrações nacionais e estrangeiras. Não são só espetáculos acabados. Há aqueles em processo, performances, instalações, leituras etc. 

A participação de grupos paulistas inclui também o Teatro da Vertigem, do encenador Antônio Araújo, que remonta “BR 3” em trecho da baía de Guanabara, repetindo a aventura sobre o rio Tietê, no ano passado; e a companhia Livre, de Cibele Forjaz, que leva “Vemvai – O Caminho dos Mortos”. 

Do Rio, acontecem as estréias de “Velatura – Estação Terminal”, com a companhia Ensaio Aberto; “Por uma Vida um Pouco Menos Ordinária”, de Gilberto Gawronski; e “Sutura”, por Felipe Vidal. 

Entre os 14 projetos internacionais, está a montagem de “Hey Girl!”, da italiana Societas Raffaello Sanzio, dirigida por Romeo Castellucci. Graças à tecnologia, uma menina se multiplica como um prisma transparente e mostra várias as facetas ao mesmo tempo. 

Do Reino Unido, vem o ator Tim Crouch, do Public Parts Theatre. Da França, o coreógrafo Josef Nadj. Da Espanha, a companhia La Carnicería Teatro, de Rodrigo García. Da Argentina, o grupo El Periférico de Objetos. De Portugal, uma mostra de espetáculos locais.



8º Riocenacontemporânea
Onde: palcos e espaços alternativos do Rio; tel. 0/ xx/21/2246-0176 e site
www.riocenacontemporanea.com.br
Quando: de hoje a 14/10 
Quanto: grátis e de R$ 10 a R$ 20