BiocríticaSatisfeita, Yolanda? conta...
15.1.2021 | por Ivana Moura e Pollyanna Diniz
Foto de capa: Divulgação
Queridos editores do Teatrojornal,
Foi com um livro de ética nas mãos que esbarramos pela primeira vez. Ivana e Valmir. André Comte-Sponville forneceu a chave de uma amizade, depois multiplicada por outros corpos. Pequeno tratado das grandes virtudes, uma análise das virtudes, de nossos valores. Esse curto farol nos iluminou. Da polidez, passando pela temperança, coragem, justiça, generosidade, compaixão, até chegar ao amor, tudo era possível de ser aprendido, como preparar um bolo ou exercitar uma crítica.
O clima do Festival de Curitiba, em 1993, era de descobertas. Valmir escrevia para O Diário, de Mogi das Cruzes; Ivana para o Diario de Pernambuco. Ainda havia resquícios da onda de separatismo do Sul, que contagiava os pequenos grupos de jornalistas, formados pelos da grande imprensa e… Os outros. Éramos os outros, pelo menos por um tempo. Depois Valmir foi trabalhar na Folha de S.Paulo, mas a roda girou e a supremacia já não era a mesma. Beth Néspoli, do Estado de S. Paulo, aportou no FTC em 1998. Com sua inteligência argumentativa, imprimia outras coreografias nas rodas de conversas, renovadas a cada temporada.
Em dezembro de 2018, Renata Carvalho [do espetáculo ‘O evangelho segundo Jesus, rainha do céu’] sofreu outro golpe vindo de Pernambuco. Foi convidada a participar do Janeiro de Grandes Espetáculos, edição 2019, depois desconvidada, sob a alegação de ‘questões que extrapolam os critérios artísticos’. O Satisfeita, Yolanda? tomou partido – o da atriz, do espetáculo, contra a censura. Muitas montagens abandonaram a programação em solidariedade à atriz Renata Carvalho. Foi um momento vigoroso e nós acompanhamos, atualizando cada movimento. Um registro histórico pulsante sobre o episódio. Foi uma boa resposta à debandada. Porque foi censura sim. E quem for pesquisar sobre episódios de censura à arte no Brasil, certamente vai se deparar com esse dossiê do Satisfeita, Yolanda? e vai encontrar ali todo material, o caso contado, os depoimentos reunidos das redes sociais, as repercussões. Memória é resistência
Anos mais tarde, no mesmo festival, Maria Eugênia, do Estadão, e Pollyanna, do Diario de Pernambuco, também entraram nesse círculo. Todos apresentados, amizade-ponte Recife-São Paulo estabelecida a partir do jornalismo cultural-teatro-crítica. Sim, o jornalismo e o teatro possibilitaram a articulação de teias de afeto erguidas ao longo do tempo, muitas edições de festivais pelo país afora, encontros nas calçadas dos teatros, jantares com vinho e risadas fáceis. Outros tempos.
Talvez soe repetitivo escrever isso, mas uma carta é feito ampola lançada ao futuro, pode ser lida daqui a cinco, dez ou sabe-se lá quantos mais anos, então é importante dizer que nosso espírito hoje, dezembro de 2020, é de ansiedade, medo e distanciamento físico compulsório por conta de um vírus que já nos tirou tanta coisa que é até difícil fazer um inventário. Perdemos amigos e colegas, do jornalismo, do teatro, do convívio. Vimos muitos dos nossos passando por enormes dificuldades. Enfrentando questões emocionais decorrentes disso tudo. Assistimos ao fechamento dos teatros, às companhias que precisaram deixar as suas sedes, aos espaços alternativos minguarem.
Mas reconhecemos também, uns nos outros, o quanto somos fortes – vocês bem sabem que não afirmamos isso na intenção de romantizar precariedade ou sofrimento. É uma questão de resiliência, de enfrentar o que está posto. De uma hora para outra, literalmente da noite para o dia, não sem muita batida de cabeça, milhares de artistas de teatro se reinventaram, aprenderam a lidar com o suporte do vídeo, a mediação da tela, ocuparam a internet, as instituições culturais lançaram editais, os grupos se organizaram, conseguiram estrear espetáculos, manter temporadas em cartaz, participaram de projetos de debates, discussões pós-espetáculos. Nós, jornalistas, pesquisadores, críticos, que já estávamos na internet, nos desdobramos para acompanhar essa cena digital, para divulgar o que estava acontecendo, para pensar sobre todo esse movimento, para deixar registrado como memória do teatro esse tempo pandêmico.
Quando bateu forte o cansaço do isolamento, da rotina, das dores do cotidiano, da falta de noção e da crueldade de quem ocupa a cadeira de poder, chegou um convite. Escrever para celebrar os dez anos do Teatrojornal, repensando a própria trajetória do Satisfeita, Yolanda?, que também comemora uma década em janeiro de 2021. Foi o exercício que precisávamos neste restinho de ano tão duro. Convocar lembranças do que nos dá esperança. Pensar sobre os motivos que nos levaram a criar um espaço virtual dedicado às artes cênicas, o que conseguimos acompanhar, o que deixamos escapar, os nossos acertos, os erros, como mudamos, como mudou o teatro, qual a nossa identidade como veículo, quais caminhos pretendemos ainda percorrer. Mas, principalmente, celebrar as nossas histórias. Poder escrever sobre teatro é um exercício de liberdade. Ter acesso aos espetáculos que temos, ao trabalho de tantos artistas, ao pensamento de diretores, dramaturgos, atores, cenógrafos, iluminadores, figurinistas. É o que nos revigora.
– Satisfeita, Yolanda?
Se tivesse acontecido nestes tempos de teatro digital, o episódio que deu origem ao jargão “Satisfeita, Yolanda?” poderia facilmente ter virado meme. Contamos na página ‘Quem somos’ do blog, para aqueles que não conhecem a expressão ou não sabem de onde ela surgiu, de uma peça icônica da década de 1990, inspirada em texto bíblico e encenada num hospital desativado em São Paulo.
Nos primeiros dias de 2016, Matheus Nachtergaele reafirmou a história, durante uma entrevista num hotel no bairro do Pina. O ator estava no Recife para abrir o festival Janeiro de Grandes Espetáculos com Conscerto do desejo. Lembrou as senhoras apavoradas com a proximidade física, o vigor e a crueza de O livro de Jó, do Teatro da Vertigem. Provavelmente, queriam só se divertir no teatro no sábado à noite. Rimos juntos. Temos o registro dessa conversa em vídeo, uma das pérolas do nosso acervo.
A ideia de lançar um blog de artes cênicas surgiu nos últimos meses de 2010. Ivana chegou à redação do Diario de Pernambuco com o projeto na cabeça. Queria uma iniciativa independente, livre das amarras da quantidade de caracteres, da escassez do papel, da linha editorial do jornal. O instinto de sobrevivência pode nos salvar de perigos, de ameaças de extinção. O Satisfeita, Yolanda? nasceu desse desejo de reexistir num mundo em que a arte e o pensamento crítico estavam na mira do aniquilamento. Dito dessa forma pode parecer performático demais. Mas entendemos que viver é performar. E que coincidência irônica: o caderno a que estávamos vinculadas no jornal mais antigo da América Latina chamava-se justamente Viver.
Bem, Pollyanna topou sem pestanejar. Éramos editora e repórter, respectivamente. Iniciávamos uma amizade para além da redação e das plateias dos teatros. Logo nos tornamos sócias, parceiras, agora tendo três paixões em comum: o jornalismo, o teatro e o ‘Yolanda’, que ganhou esse nome numa situação das mais características do tempo em que trabalhamos juntas no jornal. Uma reunião de pauta. Calafrios só de lembrar como eram acalorados os debates, as defesas das ideias e as discussões sobre condições de trabalho num caderno de cultura no Nordeste do país. Ao término de um embate aguerrido qualquer, Ivana soltou a deixa para quem tinha iniciado o imbróglio:
– Satisfeita, Yolanda?
A reação de Pollyanna foi imediata:
– Eita! Temos o nome do nosso blog!
A reunião terminou leve, entre sorrisos e planos para o futuro próximo. A excitação dos começos.
Desde que a ideia começou a ser maturada, nossa intenção foi estabelecer um contato mais próximo com os artistas. Teríamos/temos, com o blog, a possibilidade de ajudar a escrever a narrativa do teatro pernambucano (e brasileiro), de estarmos inseridas nesse contexto com um papel que é fundamental, o de acompanhar, registrar e pensar criticamente a cena. É importante dizer que, desde sempre, nos sentimos parte da classe teatral. Escolhemos um lado: o dos artistas. Seja no momento de ouvir um gestor público, de fazer a avaliação de um festival, de conversar com os criadores de um espetáculo.
Temos, por exemplo, alguns pequenos orgulhos durante essa trajetória. Em 2013, depois de passados oito meses da primeira gestão de Geraldo Júlio na Prefeitura do Recife, a então secretária de Cultura, Leda Alves, deu a primeira entrevista para um veículo de comunicação. Conversou por quase duas horas conosco. Foi uma entrevista fundamental para entender o momento que estávamos vivendo, as fragilidades expostas, as perspectivas difíceis que viriam pela frente, as promessas.
No ano seguinte à entrevista com Leda Alves, em 2014, a prefeitura cancelou a 17ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional. A decisão foi anunciada pela assessoria de imprensa da Prefeitura do Recife no mesmo momento em que conversávamos, depois de muita insistência por uma entrevista, com Carlos Carvalho, gerente-geral do Centro de Formação e Pesquisa Apolo-Hermilo, à época gestor responsável pela realização do festival. Fazemos as perguntas que julgamos importantes:
– A sociedade civil foi consultada para essa decisão, a classe artística?
– Acho que não.
Quando Francisco Carlos, dramaturgo e diretor amazonense que nos deixou tão repentinamente nesses primeiros dias de dezembro, escreveu uma carta pública cobrando soluções ao não pagamento de um cachê do Festival Recife do Teatro Nacional de 2011, seis meses depois da apresentação, nós a publicamos e cobramos explicações da Prefeitura do Recife.
Neste ano de caos, 2020, ano pandêmico, escrevemos sobre o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e a lista enorme de burocracias exigidas dos artistas no momento da inscrição.
Numa cidade de tradição revolucionária, de uma cultura que pulsa em cada comunidade e se expande em todas as direções, tratar sobre gestão cultural sempre foi um dos pilares da linha editorial do Satisfeita, Yolanda?. Enquanto alguns outros espaços pelo país afora, nossos parceiros, inclusive, se voltaram especificamente à crítica, nós, o Satisfeita, Yolanda? e o Teatrojornal, nunca abandonamos o jornalismo. O jornalismo e o teatro são as nossas formas de acessar o real, de reagir ao mundo; a nossa lente para compreender o que vivemos passa obrigatoriamente por esses dois campos, as nossas escolhas primeiras.
Sobre bandeiras e liberdade
Estamos orgulhosamente atreladas ao teatro pernambucano, à identidade cultural nordestina, em toda sua riqueza. São vários os teatros brasileiros dentro do Brasil. No entanto, ainda é muito difícil, neste país continental, dar vazão aos diversos teatros que produzimos. Os modos de produção são desiguais e a capilaridade é uma questão, que foi parcialmente desestabilizada ou ao menos problematizada com o teatro digital. A escrita na internet ajuda a diminuir distâncias e desconhecimentos. Entendemos o quanto temos limitações neste cenário – já que são vários e plurais ‘os teatros pernambucanos’. O quanto frustramos expectativas quando não conseguimos dar conta dessa multiplicidade. Mas enxergamos a potência que é falar a partir do teatro pernambucano e de como essa janela pode ser significativa.
Quando, por exemplo, traçamos perfis ou fazemos longas entrevistas, uma das nossas especialidades, como uma publicação recente, sobre José Manoel Sobrinho. Conversas com Antônio Cadengue, Stella Maris Saldanha, Maria Paula Costa Rêgo, Hilda Torres, Pedro Vilela, Lina Rosa Vieira, José Pimentel, Galiana Brasil, Henrique Celibi. Mas também figuras de outras partes como Eugênio Barba, Walderez de Barros, Marieta Severo, Paulo José, Aderbal Freire-Filho, Domingos Montagner… Ao longo desses dez anos, acompanhamos as trajetórias de alguns dos principais grupos do Recife – Magiluth, Angu, Fiandeiros, O Poste Soluções Luminosas, Totem.
Um dos desafios da atividade cotidiana é realizar a tarefa curatorial, tanto no jornalismo cultural quanto na crítica. A quantidade de informações sempre foi gigantesca e, neste último ano, tomou proporções que desafiam a saúde mental. Logo que começamos o blog, ouvíamos de alguns: “Mas vocês têm sobre o que escrever todos os dias?”. Pois é! Se pudéssemos nos dedicar exclusivamente ao Satisfeita, Yolanda? teríamos certamente não só uma, mas várias pautas diariamente. Nesse caminho, vamos entendendo prioridades, possibilidades e respeitando os nossos próprios momentos de vida.
Vocês bem sabem, com a experiência no Teatrojornal, que não é fácil manter um veículo de comunicação de maneira independente. Completar uma década é uma proeza! Então, sem financiamento, é praticamente impossível que não existam hiatos. Ausências em questões que gostaríamos de ter abordado, críticas que queríamos ter feito, entrevistas com pessoas fundamentais, mas que não cabiam nos demais compromissos da vida pragmática.
A nossa tentativa é que, de alguma maneira, mesmo que não falemos especificamente da criação de todos ou de certa trupe, que os artistas se vejam representados. Que seja válido ouvir o que um colega tem a dizer. Discutir a peça daquele grupo. Reverberar questões que enxergamos como importantes.
Se linha editorial pode soar burocrático, quando o que buscamos é liberdade, preferimos chamar de rede de afetos. Afetos no sentido de afetar e de ser afetado. Por fatos, atitudes, pessoas, elementos da natureza, seres invisíveis. Por coisas que (ainda) não sabemos nomear ou descrever. Isso cria laços entre corpos, instantâneos, provisórios, sempre mutáveis.
Quando entramos na faculdade de jornalismo, Ivana nos anos 1980 e Pollyanna nos anos 2000, ainda se vendia a falácia da imparcialidade. Meu Deus, quanta baboseira a gente engolia! Aos poucos, com a vivência e os baques da vida, entendemos como funciona o jogo: das tentativas de impor narrativas, de confundir o meio de campo, de querer dourar a pílula da opressão. E fomos tomando posição. Nosso farol é a liberdade, de criar, de expressar, de estar no palco, na rua. A arte que nos interessa atrai nossos corpos para uma fricção intelectual, imagética, emocional, corporal.
Ao longo dessa caminhada de dez anos, o Satisfeita, Yolanda? se irmana às lutas que, no nosso entendimento, são justas. Já faz tempo que sabemos que “Tudo que é sólido desmancha no ar”, como intitulou o estadunidense Marshall Berman na sua obra mais conhecida, uma história crítica da modernidade. Ou até antes, já que esse título faz alusão a uma frase do Manifesto Comunista (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels: “Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas”. Nesses nossos tempos não cabem mais ilusões românticas. Seguimos o processo de desconstrução dos valores do colonialismo, do patriarcado, do neoliberalismo. “É preciso estar atento e forte”, como avisa a canção.
Nossa voz busca se juntar a outras insurgentes, que não aceitam o poder estabelecido injusto, as desigualdades de direitos e oportunidades. Um episódio nos é especialmente marcante. Em 2018, a atriz trans Renata Carvalho foi alvo de censura na 28ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns. Seu espetáculo O evangelho segundo Jesus, rainha do céu, escrito pela britânica Jo Clifford, traduzido e dirigido por Natalia Malo, foi convidado pela curadoria do FIG e depois desconvidado. Um grupo de artistas/ agentes culturais de Garanhuns e do Recife articularam a ida do espetáculo fora da programação oficial. Tentáculos do Estado, a nada boa-fé das igrejas e o conservadorismo da sociedade civil se encarregaram de transformar duas sessões da peça numa ida ao inferno e num ato descomunal de resistência. Renata Carvalho comentou depois que a violência sofrida foi imensurável.
Em dezembro de 2018, Renata Carvalho sofreu outro golpe vindo de Pernambuco. Foi convidada a participar do Janeiro de Grandes Espetáculos, edição 2019, depois desconvidada, sob a alegação de “questões que extrapolam os critérios artísticos”. O Satisfeita, Yolanda? tomou partido – o da atriz, do espetáculo, contra a censura. Muitas montagens abandonaram a programação em solidariedade à atriz Renata Carvalho. Foi um momento vigoroso e nós acompanhamos, atualizando cada movimento. Um registro histórico pulsante sobre o episódio. Foi uma boa resposta à debandada. Porque foi censura sim. E quem for pesquisar sobre episódios de censura à arte no Brasil, certamente vai se deparar com esse dossiê do Satisfeita, Yolanda? e vai encontrar ali todo material, o caso contado, os depoimentos reunidos das redes sociais, as repercussões. Memória é resistência.
Pulos vertiginosos no desconhecido
Na crítica escrita, antes da palavra existe o vazio e o silêncio. Muitas vezes, a perplexidade. Não raras vezes, não sabemos nem por onde começar! Risos de nervoso. A experiência do mergulho no desconhecido a partir da arte é incrível, mas o sentimento inicial ao nos depararmos com a tela em branco esperando ideias concatenadas é difícil até de ser descrito. Quanto mais vamos ao teatro – e essa é uma das coisas que mais fazemos na vida –, mais temos certeza de que cada obra pode inaugurar uma nova linguagem. E nós temos que nos aproximar, entender os fonemas, tentar minimamente construir frases, até que seja possível instaurar um diálogo. Nesse processo, conosco, a elaboração geralmente acontece com o exercício da escrita. Uma palavra que puxa a outra, uma ideia que leva à outra.
Os estudos, mestrado, doutorado, muitos cursos, nos trazem bagagem teórica, mas também acendem a lei da relatividade, o terreno das incertezas, o campo do imponderável. Estamos em constante processo de aprendizagem E admitir isso é importante ao lidar com a crítica. Não existem mais espaços para os críticos de autoridade, os donos da verdade. É sempre um caminho a desbravar, tendo responsabilidade e respeito pela arte e pelo trabalho do outro. Mas é também um enfrentamento corajoso. Uma crítica está sempre impregnada de tudo que somos, sentimos, acreditamos, vimos, lemos. Escrever a partir de um trabalho pode ser uma possibilidade de fazer com que o efêmero e a experiência do palco, da rua, da tela, reverberem no tempo, ajudando a contar e a construir histórias e memórias coletivamente.
Ao longo desses dez anos, nos reconhecemos em muitos parceiros. Mais uma vez, as relações e o afeto ajudaram a elaborar pontes fundamentais na troca de experiências, de conhecimento, na intenção de ampliar perspectivas sobre a arte. Algumas vivências foram muito significativas. Uma delas aconteceu em 2013, no Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte. Foi uma das primeiras vezes em que atuamos juntos: Satisfeita, Yolanda?, Teatrojornal, Horizonte da Cena (PE) e Questão de Crítica (RJ), não só escrevendo, mas participando de debates, exercitando a oralidade na crítica.
Naqueles dias, a partir de uma inquietação de Valmir, surgiu a semente da DocumentaCena – Plataforma de Crítica. Três anos depois, nos reunimos presencialmente: quatro veículos dedicados às artes da cena, 13 críticos de lugares diversos. Estudamos, discutimos, pensamos na crítica que estávamos fazendo, nos nossos projetos próprios e comuns. Assim como no palco, estar em bando na crítica nos fortalece. Faz com que possamos enxergar a importância dos nossos trabalhos, entendendo que ajudamos a elaborar um panorama de um país que é continental. Que, portanto, é uma das nossas missões – e pensamos nisso ao compartilhar tanta exposição neste texto – fomentar o exercício de cada crítica em todos os cantos do Brasil.
Ainda há muitas questões por discutir. Algumas delas debatemos sempre que temos oportunidade, como a necessidade de financiamento para o trabalho da crítica na internet, os caminhos que podemos explorar na crítica tendo como base a oralidade, as novas tecnologias e de quais maneiras nos aproximamos de outros modelos de comunicação. Como podemos colaborar mais com a elaboração de uma cartografia do teatro brasileiro? Como fazer para que conheçamos e façamos conhecer outros teatros? São inquietações que persistem. Mas, olhando para trás, nós, Yolandas, e vocês, Teatrojornal, temos muito do que nos orgulhar.
Estamos aqui, falando de crítica, de teatro, do jornalismo. O Satisfeita, Yolanda? é o nosso xodó. Um projeto que é casa, que é liberdade, que é reinvenção, que é amor. Que possamos nos visitar muitas vezes na próxima década, trilhando caminhos juntos, renovando afetos, nos querendo bem, acompanhando os nossos trabalhos, mergulhando na essência da vida e da arte.
Com amor,
“Yolandas”
.:. Leia mais sobre o dossiê Biocrítica e blog Satisfeita, Yolanda?
Ivana Moura é jornalista, crítica e pesquisadora de teatro. Doutoranda em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com mestrado em teoria da literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialização em jornalismo e crítica cultural (UFPE) e graduação pela Universidade Católica de Pernambuco. Idealizadora e editora do blog Satisfeita, Yolanda?, especializado em críticas e notícias de artes cênicas desde 2011.
Pollyanna Diniz (Petrolina, 1984) é jornalista, crítica e pesquisadora de teatro. Mestre em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), graduada em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em administração pela Universidade de Pernambuco (UPE). Idealizadora e editora do blog Satisfeita, Yolanda?, especializado em críticas e notícias de Artes Cênicas desde 2011.