Com espaço de relevo na grade do Festival de Curitiba, os espetáculos internacionais selecionados desdobram-se para mirar diversas manifestações de poder. No caso do espanhol A house in Asia, a abordagem é mais direta, observando a caçada norte-americana ao terrorista Bin Laden. As situações de demonstração de força e opressão, contudo, podem adquirir formas muito mais veladas. E complicadas de serem debatidas às claras, como demonstra a criação Double rite, apresentada no Teatro Guairinha no fim de semana. Leia mais
28.3.2015 | por Kil Abreu
O VII Festac – Festival Nacional de Teatro do Acre apresentou em uma mesma sequência dois espetáculos de mamulengo que além de deliciosas horas de gargalhadas renderam exemplos de como a cena popular pode ser/é exemplar quando se pensa em formas para a teatralidade viva (o que supõe que haja um teatro morto, e há mesmo). Enraizado no mundo ordinário para saltar para além dele, o mamulengo não tem – e não quer ter – outra saída senão essa mesma, a de explorar por meio da animação de bonecos o acidente e o burlesco da vida através de uma filosofia chã, absolutamente material, em que os objetos postos à reflexão são reconhecidos imediatamente porque inspirados nos tipos humanos e nas formas da sociabilidade que conhecemos bem. Como dizia Hermilo Borba Filho no seu fundamental Fisionomia e espírito do mamulengo, “é a nossa exclusiva forma de espetáculo total, onde o boneco é o personagem integral e o público um elemento atuante”. Leia mais
26.3.2015 | por Afonso Nilson
Em segurança, mas com acesso restrito ao público, as obras do artista e pesquisador Franklin Cascaes (1908-1983) descansam em museus e institutos que mantêm a guarda do acervo. Quanto à memória deste que foi o maior pesquisador da cultura açoriana em Santa Catarina, seu nome permanece limitado a especialistas, historiadores e talvez a curiosos que se perguntem quem foi o homem que dá nome à fundação de cultura de Florianópolis. Nesse contexto, é louvável a iniciativa da Cia. Aérea de Teatro que, com recursos do prêmio Elisabete Anderle 2013, conseguiu abordar em um espetáculo teatral a extensa obra de Cascaes de maneira abrangente e concisa. Leia mais
17.3.2015 | por Maria Eugênia de Menezes
Em sua segunda edição, a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) conseguiu consolidar seu lugar. Encerrado no domingo, após dez dias de programação, o evento já tem data marcada para 2016 e foi capaz de superar várias das dificuldades do ano de estreia. Leia mais
16.3.2015 | por Daniel Schenker
No início de E se elas fossem para Moscou?, Isabel Teixeira diz que os espectadores talvez não estejam diante de uma encenação e nem de um filme, mas de ambos. “É nesse espaço entre que a gente vai se reinventar”, diz. No entanto, esse “entre” não desponta como indefinição – no sentido de um híbrido que não se afirma nem como teatro, nem como cinema –, e sim como acúmulo. Realizado pela diretora Christiane Jatahy como um díptico – diferentes plateias assistem à montagem e ao filme resultante do registro de cada apresentação –, E se elas fossem para Moscou? acumula teatro e cinema, passado e presente, atuação diante do público e da câmera, espaço da cena e da plateia. Cabe investigar cada um desses acúmulos. Leia mais
15.3.2015 | por Valmir Santos
Ao deslocar o referencial dramático dos protagonistas para a coadjuvante, os criadores de Senhorita Julia não apenas reelaboram no texto o lugar da criada, valorizando o monólogo interior sem macular as demais vozes, como estabelecem no palco um sistema global de fluxo de consciência apoiado por outros níveis narrativos de imagens, sons e espaços. A alteridade que brota dos sentimentos de Kristin coabita também o público observador das operações cênicas e cinematográficas conjugadas. Trata-se de um percurso de contrações da alma. Leia mais
15.3.2015 | por Beth Néspoli
Em se tratando de uma criação que vem de Moscou, a primeira cena do espetáculo Opus nº 7 – a transformação de uma trabalhadora em cantora lírica – pode ser lida como síntese de um período privilegiado na história da humanidade, transcorrido nos anos seguintes à revolução bolchevique de 1917, quando a utopia de uma nova sociedade pareceu possível. Bastaria o empenho de mãos humanas dispostas ao trabalho criativo para alterar a matéria do mundo. Tal pensamento, e suas implicações, parece fundar a linguagem do diretor russo Dmitry Krymov, cenógrafo e artista gráfico cuja encenação se constitui como um embate dos atores com os objetos cênicos. Sua poética privilegia imagem e música – aspecto que facilita e intensifica a experiência de interação da plateia brasileira, liberada da leitura de legendas a maior parte do tempo. A técnica de animação de objetos faz tudo parecer possível sob as luzes da ribalta. Mas não é bem assim. Para além do espaço iluminado da cena há uma zona escura e invisível, mas não inativa. Dali também tudo pode vir. Leia mais
15.3.2015 | por Daniel Schenker
Atores jogam tinta preta sobre paredes brancas e transformam os borrões em desenhos que sugerem com precisão judeus ortodoxos. Em torno de óculos, pintam crianças de mãos dadas. Opus nº 7 lembra que o teatro pode ser feito com pouco, que a limitação é a grandeza dessa arte. O encenador Dmitry Krymov se vale de sua experiência nos terrenos da cenografia e da pintura, mas não de modo exibicionista. Leia mais
15.3.2015 | por Maria Eugênia de Menezes
Sabe-se que é possível fazer teatro sem palco, sem figurino, sem cenário. Pode-se abdicar da iluminação. Até do texto aprendemos a abrir mão, quando a encenação ganhou independência do drama. Mas haverá um limite? Teatro sem atores ainda é teatro? Leia mais
11.3.2015 | por Maria Eugênia de Menezes
Geralmente, é diante daquilo que precisaria ser dito que as palavras faltam. E parece quase impossível falar do que arrebata ou abate, como se não houvesse sintaxe capaz de dar conta do idílio amoroso, da epifania, da morte, do luto. Sobre essa dificuldade de nomear o inominável se debruça Canção de muito longe, obra do holandês Ivo van Hove, que foi coproduzida pela MITsp e fez sua estreia mundial durante o festival. Leia mais