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Crítica

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Trabalho final de um curso de teatro: um menino forra uma caixa de papelão com papel laminado, fura a parte de cima para a entrada de uma lâmpada, escreve a palavra teatro na tosca edificação e diz ao público que cada um deve imaginar sua própria peça. Pela via da negação ou da inocência é fácil ativar a imaginação, poderia ser a moral dessa fábula infantil. Dela vale tirar a pergunta: como engendrar uma poética com potência estética tendo como plataforma de salto a acumulação simbólica no campo da cultura e da arte? Tal desafio funda a teatralidade de Stifters dinge, espetáculo-instalação engendrado por Heiner Goebbels em parceria com uma equipe de criadores com quem esse músico-diretor vem trabalhando há décadas e, portanto, com os quais vem afinando sua linguagem. Leia mais

Marcelo Lipiani

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Realidades obscenas

10.3.2015  |  por Valmir Santos

As reflexões de classe e de gênero originalmente implicadas em Senhorita Julia (1888) estão sublinhadas e problematizadas também segundo a cor da pele na livre adaptação de Christiane Jatahy para o envolvimento da moça branca, filha do patrão, com o motorista negro da família. Se no prefácio a sua peça o sueco Augusto Strindberg (1849-1912) dizia não preconizar lição de moral, a diretora tampouco cede a julgamentos ao atritar matizes escandinavos com a memória escravocrata do Brasil que cava os abismos sociais ora perpetuados. Leia mais

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O vínculo intrínseco do teatro com o presente não se manifesta apenas na escolha dos temas a serem levados ao palco. O apego dessa arte ao seu tempo transcende os embates políticos e sociais do momento e comumente faz-se evidente também na forma – se é que ainda faz sentido a dicotomia entre conteúdo e invólucro. Em sua ânsia por conectar-se à sua época – período de inimigos difusos e certezas implodidas – o teatro contemporâneo empreende imenso esforço em desapegar-se dos paradigmas do drama realista – corrente hegemônica dos últimos dois séculos. Leia mais

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O diretor Andriy Zholdak parece querer abraçar o mundo em Woyzeck, encenação do texto de Georg Büchner. Esta impressão decorre da utilização assumidamente excessiva dos recursos da teatralidade e, ao mesmo tempo, de um aparente desejo de questionar – e extrapolar – os limites do próprio teatro. Leia mais

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Na cena contemporânea não raro depara-se com procedimentos criados para sabotar a compreensão. Quando o problema não é fruto de precariedade, o objetivo é estimular o espectador – quase sempre ávido por construir sentido rapidamente – a descartar os elementos mais facilmente acessáveis de seu repertório cultural e escavar um pouco mais fundo no movimento em direção à obra. Leia mais

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Quem acompanhou a temporada do espetáculo Remote SP, apresentado nos arredores do Sesc Belenzinho há pouco mais de um ano, teve uma amostra dos inventivos dispositivos cênicos que o coletivo suíço-alemão Rimini Protokoll costuma criar para suas obras. Leia mais

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Para funcionar como narrativa a solidão não pode ser apenas um mote, precisa ser uma potência. Um homem solitário é apenas um homem, um homem solitário com uma história por contar já não mais esta só. Isso é uma regra? Não. Mas no espetáculo A luva e a pedra, do grupo Teatro em Trâmite, parece funcionar muito bem. Diretor e ator da montagem, André Francisco soube se apropriar bem da melancólica trama urdida pelo argentino Quique Fernández, em que um atleta frustrado descamba em uma série de equívocos rumo à ruína, não sem antes mergulhar os espectadores no universo personalíssimo e cômico de suas pretensões, incoerências e purezas quase ingênuas, assim como no seu incomum senso de justiça alimentado pela mortífera força de seu orgulho. Leia mais

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O desejo de Marco Nanini de se aproximar de Oscar Wilde motivou a criação de Beije minha lápide, em cartaz no Sesc Consolação até domingo. Sem vontade, contudo, de encenar uma das peças deixadas pelo escritor irlandês, Nanini buscou um texto original de Jô Bilac. Leia mais

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Passional até a medula, o irlandês Oscar Wilde (1854-1900) teria muito a transgredir em relação aos embates sujeito-desejo nas sociedades globalizadas e por vezes tão conservadoras como aquelas surgidas em parte da Europa após a Revolução Industrial no século 19. O desencantamento com o falso moralismo jamais o impediu de viver o amor até as últimas consequencias. Estivesse presente, o autor de romance único (O retrato de Dorian Gray), nove peças e muitos contos e poemas brandiria sua pena diante das reações ainda violentas, arcaicas e caretas no campo das preferências sexuais. Leia mais

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Num plano mais evidente, o monólogo Eu não dava praquilo, atualmente em cartaz no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil, é uma homenagem à atriz Myrian Muniz, lembrada por sua trajetória teatral: a formação na Escola de Arte Dramática, o contato com o cenógrafo Flávio Império, o acúmulo de experiências no Teatro de Arena, o ingresso na companhia de Dulcina de Moraes, a fundação do Teatro Escola Macunaíma, a direção do show Falso brilhante, da cantora Elis Regina. Entretanto, Muniz é trazida à tona como símbolo do sentido genuíno do ofício do ator, sintetizado numa passagem: “No teatro, você vê que pode fazer o outro. Quando você percebe o outro, se percebe também. Quando descobre o outro, se descobre também”. Talvez seja o momento em que mais sobressaia o comprometimento de Scapin não “só” com Muniz, mas com a sua profissão. Leia mais