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Crítica

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Das potências

14.8.2012  |  por admin

No ano em que se completa um século e meio do nascimento de Anton Tchekhov ele provavelmente desconfiaria das boas intenções das efemérides. A ironia lhe foi companheira. E mesmo quando enamorado, segundo confessa no derramamento sentimental e demasiado humano assumido nas cartas que trocou com a mulher Olga Knipper nos últimos seis anos de vida. O tom intimista daquela correspondência serve à americana Carol Rocamara em Tomo suas mãos nas minhas, uma dramaturgia centrada nos diálogos escritos entre o final do século XIX e início do XX. As linhas lidas e ouvidas hoje compõem por si um drama que dá notícias do autor genial e do sistema teatral que gravitava à sua volta. Vida e arte são entretecidas em Tchekhov e Olga, como na relação deles com Constantin Stanislavski e Nemirovitch-Dantchenko, os criadores pilares do Teatro de Arte de Moscou citados com recorrência na peça interpretada por Roberto Bontempo e Miriam Freeland. Leia mais

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Parte da equipe e das escolhas formais de Um navio no espaço ou Ana Cristina César, apresentado no festival em 2010, está presente na produção do Rio cujo título ratifica a influência do sociólogo e ensaísta polonês Zygmunt Bauman e seu livro Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos (2003). Leia mais

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Para tantos universos femininos que o teatro vasculha desde sempre, buscando traduzir, por exemplo, as páginas de uma Clarice Lispector ou de uma Hilda Hilst, fontes altaneiras, o monólogo 9 mentiras sobre a verdade arranja-se bem nas inversões de expectativas. É teatro apropriando-se sutilmente da linguagem do cinema não para narrar em projeções, mas configurar imagens que as palavras dizem ou que os poucos adereços e objetos vintage deixam entrever no palco. Leia mais

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O espetáculo Agreste malvarosa não só recupera o subtítulo que Newton Moreno guardava entre parênteses na peça original, de 2001, como traz duas atrizes no papel do casal que está no olho da narrativa. Eis os exemplos, para começar, de contraposição e dialogismo em relação à premiada montagem de Marcio Aurelio para o mesmo texto, em 2004, com atuações de Joca Andreazza e Paulo Marcello, trio da Companhia Razões Inversas. A recente concepção de Ana Teixeira e Stephane Brodt, em projeto paralelo à Companhia Amok Teatro, também sublinha a linguagem como suporte absoluto da cena, em todos os sentidos, sem ceder a tentações que chapariam o texto no registro da cultura popular, o escapismo regionalista do qual essa dramaturgia bebe, mas não se embriaga. Leia mais

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Terminou ontem, com a etapa de circulação por cidades vizinhas, a sétima edição da Mostra Cena Breve Curitiba – A Linguagem dos Grupos de Teatro. Dias antes, acompanhei as apresentações e comentei os trabalhos locais e de outros Estados no blog do encontro concebido e realizado pela CiaSenhas. Reproduzo a seguir o último e o primeiro posts, respectivamente.Em seus sete anos, a Mostra Cena Breve Curitiba – A Linguagem dos Grupos de Teatro construiu um diálogo efetivo com os criadores das artes cênicas mobilizados pela vontade de pesquisa. Leia mais

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Ivan e os cachorros

14.8.2012  |  por admin

O realismo sociológico pode abrigar formas libertárias, confirma Ivan e os cachorros. A narrativa sobre um garoto abandonado que sobrevive nas ruas de Moscou acolhido entre os 4 e os 6 anos por uma matilha, como noticiaram jornais russos no início da década de 1990, não fez a equipe de criação refém do sentimentalismo atávico quando se trata de assumir o ponto de vista de uma criança. Leia mais

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Balaio

14.8.2012  |  por admin

O espetáculo Balaio é como um filme do leste europeu: cores gris para uma dança desesperada sobre a lápide fria do carinho, do amor e do reconhecimento. Gestado no ventre do Centro de Pesquisa Teatral (CPT), em suas variantes do ator e da dramaturgia, carrega o DNA da série Prêt-à-Porter coordenada por Antunes Filho há 13 anos e atualmente na décima edição. Leia mais

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Em criança, Ety Fefer observava seu pai criando garatujas ou desenhos nas toalhas de papel que forravam as mesas em restaurantes. Aqueles traços soltos esboçavam rostos, troncos, membros disformes, seres que o imaginário da filha judia logo batizou de Los grumildos. Mais de três décadas depois, a artista peruana olha para trás e vê como sublimou seus monstros interiores – e fez espelhar os nossos – em bonecos moldados em plasticina (matéria plástica constituída principalmente por argila), movimentados por fios de nylon acoplados a engenhocas mecânicas tão rústicas e artesanais como a fisionomia e a aura singulares desses habitantes de um mundo em miniatura, uma cenografia barroca sob penumbra, neon e luzinhas coloridas. Leia mais

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O artista popular enseja um pouco daqueles versos de Vinicius de Moraes: plasma alguma coisa de triste no porto seguro da sua alegria. Na embolada ou no cordel, por exemplo, cabem dolências. No circo, a figura do palhaço costuma ser o fiel da balança. Quando não está lá, ao intérprete de rosto lavado resta não cair no maniqueísmo fácil. O ator Chico Oliveira assume esse desafio em Incelência, o espetáculo solo no qual atua sem maquiagem ou nariz-vermelho, imerso em referências da cultura e da crença populares. Margem também para o universo do picadeiro sem lona, a banca que o artista monta em praças para compartir suas histórias desde os tempos medievais da humanidade. Leia mais

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O menino conta 14 ou 15 anos. Ele se equilibra com cuidado sobre as tabuazinhas de madeira da arquibancada. Carrega a bandeja de sagu, de pipoca ou de maçã do amor. A guloseima varia conforme a noite. Luta de telequete, com Ted Boy Marino, Fantomas e outros lutadores que desfilam à tarde na carroceria do caminhão, mascarados a caráter, para anunciar pelo megafone a sessão noturna. Às vezes, o circo recebe Os Trapalhões, com Mussum, Dedé e Zacarias – Didi nunca aparece. E há, claro, as atrações fixas, o número de reprise com palhaços, os malabaristas, o globo da morte cuja moto zune em nossos ouvidos. Leia mais