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“Folha de São Paulo"

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Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 03 de janeiro de 2008

TEATRO 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O pensamento crítico ou mesmo o registro histórico da atual produção de teatro encontram lugar nas edições das revistas “Folhetim”, iniciativa do grupo Teatro do Pequeno Gesto, do Rio, e “Subtexto”, do Galpão Cine Horto, de Belo Horizonte. 

Na “Folhetim” número 26, a pesquisadora Alessandra Vannucci traça um perfil de Gianni Ratto (1916-2005). Destacam-se ainda na nova edição o ensaio do francês Alain Ollivier sobre o teatro numa sociedade regida pelo liberalismo e pelo culto ao sucesso e a entrevista com José Renato, fundador do Teatro de Arena em SP, nos anos 1950. 

O quarto número da “Subtexto” traz um levantamento dos grupos em atividade na maioria dos Estados, com dados preliminares, fornecidos pelos próprios artistas.



Folhetim
Edição: Teatro do Pequeno Gesto 
Quanto: de R$ 15 a R$ 18; 115 págs.; 
www.pequenogesto.com.br


Subyexto
Edição: Galpão Cine Horto 
Quanto: distribuição gratuita; 94 págs.; 
www.galpaocinehorto.com.br

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 03 de janeiro de 2008

TEATRO 

Editora Martins Fontes lança obra que reúne 20 peças do autor carioca do século 19 que inovou o gênero no teatro do país
 

Pesquisadora Vilma Arêas reavalia conteúdo social e rigor na linguagem do comediógrafo que tem peças lançadas em três volumes

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

 

Às vezes lida de maneira superficial, a obra de Martins Pena (1815-1848) encerra mais complexidades do que se imagina. Quem acha que “O Noviço” é sua melhor comédia pode se surpreender com o poder de síntese do ato único de “O Namorador ou A Noite de S. João”, sua dialética amorosa e o jogo dos diferentes estratos sociais. 

Exímio criador de textos curtos, Pena tem sua obra cômica reavaliada, na forma e no conteúdo, em breve e conciso ensaio com o qual a professora Vilma Arêas, titular de literatura brasileira na Unicamp, introduz o leitor às 20 peças que preenchem os três volumes de “Martins Pena – Comédias”, lançamento recente da editora Martins Fontes, pela coleção “Dramaturgos do Brasil”. 

São compreendidos os períodos de 1833-1844 (com oito peças, entre elas a seminal “O Juiz de Paz da Roça”, “Os Dois ou O Inglês Maquinista” e “O Judas em Sábado de Aleluia”; de 1844-45 (com cinco textos, incluídos “O Noviço” e “O Namorador”); e 1845-47, com sete comédias, como “Quem Casa, Quer Casa”, “As desgraças de Uma Criança” e “O Usurário” (a remissão a “O Avarento” é debitada à influência confessa e certeira de Molière num tempo em que a estrutura para artes cênicas no país era limitada, evidentemente, mas já demonstrava potencialidades com Pena, o ator João Caetano, o circo popular e cia). 

Para Arêas, o autor “reelaborou formalmente a comédia farsesca, pois transferiu a responsabilidade da ação cômica dos criados tradicionais para outros tipos de situações, fugindo ao mesmo tempo da comédia centrada no amor”. 

Figuração do escravismo
A inovação mais importante, porém, foi introduzir na organização simétrica da comédia a assimetria básica da figura do escravo. “O lugar desse personagem cria uma situação teatral nova, longe da tradição que o associava ao simples palhaço. 

Sua presença no palco funciona como uma espécie de elemento retardador em meio às cores e vertigens do jogo cômico”, afirma a pesquisadora. 

Em vez dos “lugares-comuns” de que “escrevia mal e desleixadamente”, de que “era indiferente a questões sociais e interessado somente em fazer rir com suas farsas, supostamente ingênuas”, a análise de Arêas expõe um comediógrafo que era homem de teatro por excelência (e de ópera por extensão, um tenor que também compunha árias). 

Filho de juiz, órfão de pai, com um ano, e de mãe, aos dez anos, Pena deu conta de figuração do escravismo na sociedade brasileira. Ele aproximou formações retórica e histórica, avalia Arêas. “Com isso, não deixa de ser curioso que raramente Martins Pena tenha sido representado por atores brasileiros em sua época, e sim por portugueses, o que não deixa de criar uma situação “um pouco estranha”, conforme observa Décio de Almeida Prado.”



Martins Pena – Comédias
Editora: Martins Fontes 
Organizadora: Vilma Arêas 
Quanto: R$ 120, em média (caixa com três volumes) 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2008

TEATRO

Sesi e British Council lançam núcleo em SP que, a partir de hoje, recebe textos de teatro para análise e futura montagem
 

Núcleo de Dramaturgia forma primeira turma neste ano; inspiração vem do Royal Court Theatre, do qual Noel Greig foi orientador

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

 
Escritores aprendem muito falando com (e ouvindo) outros escritores. É essa percepção elementar, mas pouco praticada, que o dramaturgo inglês Noel Greig gosta de reforçar logo no primeiro dia de papo com autores iniciantes em projetos de formação de que participa dentro e fora de seu país.

“Se alguém quer escrever para teatro, precisa se envolver com esse fazer, não importa se como ator, diretor, faxineiro, pintor de cenário ou como ouvinte durante os ensaios. Teatro é uma forma de arte colaborativa”, disse Greig à Folha, em outubro, reproduzindo conteúdo de uma das aulas do work-shop que ministrou em São Paulo para duas turmas de autores “novos” e “emergentes”.

Greig deu o pontapé na parceria do Sesi (Serviço Social da Indústria) com o British Council (organização que promove a cultura britânica pelo mundo) para a criação do Núcleo de Dramaturgia, canal de estímulo continuado à escrita teatral. A inspiração vem do The Royal Court Theatre, o tradicional centro londrino de fomento ao autor contemporâneo.

A partir de hoje (e por prazo indeterminado), o núcleo recebe textos de maiores de 16 anos que jamais foram publicados ou encenados. As peças, ou esboços, serão avaliadas por uma equipe coordenada pela professora de literatura Munira Mutran (USP) e devolvidas em até três meses.

Os interessados devem preencher a ficha de inscrição no sitewww.sesisp.org.br/centrocultural. Na página estão as instruções e o endereço para o qual devem ser enviado um ato de uma peça com no mínimo 15 e no máximo 20 laudas (21 mil a 28 mil caracteres). Quem demonstrar potencial de desenvolvimento fará parte da primeira turma do núcleo, a ser estabelecida ainda neste ano.

Autores jovens
Com 40 anos de carreira e mais de 60 peças escritas, Greig, 63, foi um dos orientadores do Royal Court. Ele se diz acostumado a formar gente na faixa de até 25 anos, como um grupo de ascendência asiática com o qual trabalha atualmente, no leste de Londres, numa adaptação de “Romeu e Julieta”, de Shakespeare.

“A vantagem de um espaço fomentador é que os autores têm chance de conhecer todo o processo de produção”, diz Greig. A iniciativa recém-criada em São Paulo prevê montagem dos melhores textos a partir de 2009. O Sesi capitaneou as duas edições da Mostra de Dramaturgia Contemporânea (2002 e 2003), que reaqueceram a área em nível nacional.

Greig diz que gostou da convivência de quatro dias com 24 moças ou rapazes que participaram do workshop. “Eles foram criativos, abertos a novas idéias e demonstram desejo de aprender, o que facilitou bastante o meu trabalho”, afirma.

Nem todos eram do meio teatral. Havia advogados, jornalistas. “Gosto de trabalhar com pessoas de outros campos. É bom trabalhar tanto com gente mais jovem como lidar com quem já traz bagagem de vida.”

Orientador de dramaturgos inovadores, como o britânico Martin Crimp, montado há pouco em Curitiba e São Paulo, Greig concilia o conteúdo da estrutura clássica da escrita para teatro, desde Aristóteles, com o princípio da ruptura e do experimento.

“Sarah Kane e Samuel Beckett conheciam bem os cânones da dramaturgia. O clássico e o contemporâneo não estão separados”, diz. 
 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

TEATRO 

Musical carnavalesco de sucesso no Rio e em SP é destaque entre lançamentos deste final de ano no suporte digital
 

“Romeu e Julieta”, “Notícias Populares”, “A Casa” e “Conversas Folianescas” completam a série de DVDs à venda nas lojas

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

 
O suporte digital permite ao espectador das artes cênicas complementar a memória que ele constrói quando assiste ao espetáculo, ao vivo. Fenômenos da história recente do teatro brasileiro, como “Romeu e Julieta” (1992), montagem de Gabriel Villela para o Grupo Galpão, e o musical carioca “Sassaricando – E o Rio Inventou a Marchinha” (2007), integram lançamentos em DVD neste final de ano.

A novidade é que agora já não se trata de gravar somente a peça, em si desafio e tanto, mas de olhá-la sob a perspectiva de um documentário, como faz Paulo José com o Grupo Galpão (leia abaixo). Ou então nem mesmo ater-se à cena, mas ao processo histórico do teatro contemporâneo, como faz o grupo paulista Folias d’Arte com a série de cinco entrevistas com criadores e pensadores.

Outro aspecto inovador é a aposta das gravadoras na viabilidade dos projetos de teatro em DVD. Depois da Trama, com “Terça Insana” (2004), a Warner Music chega com “Notícias Populares”, espetáculo da Companhia de Comédias Os Melhores do Mundo, de Brasília; e a Biscoito Fino capturou mais que depressa o fenômeno “Sassaricando”, que teve sua primeira tiragem esgotada.

É uma edição bem-cuidada, oscilando imagens em close dos seis atores-cantores Eduardo Dussek, Soraya Ravenle, Pedro Paulo Malta, Alfredo Del-Penho, Ivana Domenico e Juliana Diniz num passeio por mais de cem marchinhas que marcaram o inconsciente coletivo não só do carioca, mas do brasileiro, como destaca a historiadora e idealizadora do espetáculo, Rosa Maria Araújo, co-autora junto do jornalista e crítico Sérgio Cabral.

Quem dirige o espetáculo é Cláudio Botelho, para quem o projeto tem um quê de teatro de revista em sua viagem pelo túnel do tempo no espírito da irreverência e da crônica social, comportamental e política que atravessou épocas.

Há 12 anos na estrada, a companhia Os Melhores do Mundo teve a chance registrar “Notícias Populares” (1997) em DVD, após apresentá-lo em várias capitais. “A gravação ficou bem equilibrada, inclusive a captação de áudio, e dá uma boa idéia do que é o espetáculo. Claro, nunca é possível retratar exatamente como é ao vivo, mas o projeto em DVD tem seu gosto especial”, diz Adriano Siri, 39, que contracena com Ricardo Pipo, Adriana Nunes, Victor Leal, Jovane Nunes e Welder Rodrigues.

Formado há quatro anos, o grupo paulistano Redimunho ousa levar seu primeiro espetáculo ao suporte digital, “A Casa” (2006), em DVD duplo. O diretor e autor Rudifran Pompeu, 40, calcula ter investido cerca de R$ 10 mil para gravar o espetáculo apresentado em espaço não-convencional, um casarão construído no início do século 20, na Bela Vista.

Com dramaturgia inspirada no universo de Guimarães Rosa, as cenas se passam nos cômodos e no quintal da habitação, na rua Major Diogo, onde atualmente funciona a Escola Paulista de Restauro.

A série “Conversas Folianescas”, do Folias D’Arte, prevê entrevistas com personalidades teatrais. O primeiro pacote inclui os diretores José Renato (fundador do Arena) e Roberto Lage (Ágora), entre outras.
 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 22 de dezembro de 2007

TEATRO 
“Cypriano e Chan-ta-lan ou Folias e Sensações de 1973” é apresentado amanhã 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Há 19 anos, os artistas do teatro Oficina fazem da data de 23 de dezembro rito para a vida em contraponto à morte do ator, diretor e autor Luis Antônio Martinez Corrêa, irmão de José Celso. Ele foi assassinato a facadas no apartamento do Rio, em 1987.

Tinha 37 anos e acabara de encenar a segunda parte da premiada trilogia “Theatro Musical Brazileiro”. 

É exatamente um roteiro de musical pouco conhecido de Corrêa que ganha leitura “encenada e festejada” às 14h30 de amanhã, na pista do Oficina. 

“Cypriano e Chan-ta-lan ou Folias e Sensações de 1973” é uma parceria de Corrêa com Analu Prestes. Trata-se de um “poema mágico trágico farsesco musical”, afirma Zé Celso, 70, que viu o irmão encenar a obra antes de ser censurada. 

No enredo, o príncipe Cypriano, “menino vampiro” herdeiro do trono da Golconda, busca seu amor, a camponesa Chan-ta-lan, que está desaparecida. É uma viagem apaixonada, à maneira do conto de fadas, com direito a passagens por florestas no país das maravilhas de Alice e pelos jardins suspensos da Babilônia. 

Na trilha, interpretações de José Miguel Wisnik para Vivaldi ou de Celso Sim para um poema de Maiakóvski. Marcelo Drummond e Pascoal da Conceição co-dirigem a leitura. 

Canudos
Na quarta-feira passada, Zé Celso entregou ao ministro Gilberto Gil (Cultura), em Brasília, o pedido de outorga de paisagem cultural às cidades de Quixeramobim (CE), berço de Antônio Conselheiro, e Canudos (BA), local da guerra no final do século 19.

Euclydes da Cunha retratou o conflito em “Os Sertões”, obra que a companhia Oficina Uzyna Uzona levou à cena, em cinco partes. 

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) acolheu o processo que deve reforçar a preservação dos territórios.



Cypriano e Chan-ta-Lan ou folias e sensações de 1973
Quando:
amanhã, às 14h30 
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, tel. 3106-2818) 
Quanto: R$ 5 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

TEATRO

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Um frio corredor de concreto aparente, o espaço Mezanino do Centro Cultural Fiesp torna-se acolhedor na encenação de “Caminhos”, projeto mais recente do Núcleo Experimental do Sesi. 

Convidados da vez, a diretora Cristiane Paoli-Quito e o dramaturgo Rubens Rewald parecem conceber o espetáculo como uma instalação. Se Lygia Clark incita com objetos manuseáveis, por exemplo, a dupla, vinda de parcerias na cia. Nova Dança 4, toca e mobiliza o público por meio da palavra. 

Não por meio dos diálogos correntes no teatro, mas em verso solto, torto e quebrado, à imagem da beleza de jovens ainda não inoculados por vícios na representação. 

No autodeclarado “drama de formação”, moças e rapazes deitam o verbo em sussurros, sibilos, tartamudeios. É um espetáculo que chama à escuta, ao mistério do outro e de si. 

Dramaturgo por vezes hermético (vide “Umbigo”), Rewald soa surpreendentemente suave nesse exercício colaborativo, e não menos rigoroso na ossatura. 

Não há história, nem personagens. Não há um fio, mas muitos. O espectador é co-autor em obra aberta. Ocupando almofadas no chão, ele relaxa e se deixa levar pelos caprichos orais de um curioso jogo que se impõe por sensações. 

O roteiro parte do depoimento dos atores, fala de questões íntimas, familiares. Lança dúvidas de percursos existenciais e políticos, a contrastar com o império das certezas em ser “feliz” e “sarado”. 

Com frases curtas e movediças, “Caminhos” chega a usar letras de MPB como porta-voz. Não precisava. Tem a sua própria musicalidade firme. As interferências de luz são mínimas; o espaço cenográfico, discreto. Resta a presença do ator, veículo de sentidos. 

A esfera da delicadeza é dominada com muita habilidade por Paoli-Quito, como se viu em “Aldeotas”. Sua pedagogia para um ator-criador é transitar o vazio, desarmar convenções. E redirige a percepção do espectador, instado a sondar outras camadas em tudo que vê, ouve, respira. 

Arte (também) do dizer, o teatro encontra aqui o rumor da língua e do silêncio. Parafraseando o bordão jurídico, e tudo mais foi dito e perguntado, pois a montagem segue com quem ela conversou.



Peça: Caminhos
Onde: Mezanino do Centro Cultural Fiesp (av. Paulista, 1.313, tel. 3146-7405) 
Quando: qui. a sáb., às 20h30; dom., às 19h30; até 23/12 
Quanto: entrada franca (retirar ingressos com antecedência) 
Avaliação: bom 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

TEATRO 

Vocalista do Cordel do Fogo Encantado estréia performance em que questiona a condição de vendedor de poesia
 

Músico carrega para a cena uma caixa-carrinho a partir da qual aciona alavancas e pedais para disparar luzes e sons durante suas falas

 
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Poeta e vocalista do Cordel do Fogo Encantado, João Paes de Lira, o Lirinha, contava 12 anos quando recebeu o primeiro cachê na vida. Ele não lembra o valor, mas “era pouco”. 

Foi num concurso de cantoria de viola no teatro Guararapes, em Recife. No intervalo, recitou poetas populares no centro do palco, atrás de um microfone, sob luzes e olhares. 

“Estranhei receber aquele dinheiro por algo que até então fazia de graça, e com muita alegria”, diz Lirinha, 31. 

Um tanto daquela passagem, e a trajetória artística cumprida dali em diante, com o híbrido de poesia, teatro e música, está na performance que ele protagoniza, “Mercadorias e Futuro”. A estréia acontece em duas apresentações, hoje e amanhã, no Sesc Pompéia. 

Lirinha retoma o espírito do teatro que deu origem à banda no espetáculo “Cordel do Fogo Encantado”, que criou com amigos na Arcoverde natal, no sertão de Pernambuco, aos 16. 

“Com o espetáculo, exponho um dos meus maiores questionamentos como artista, que é a venda da poesia; a função que o capitalismo me impôs para viver de poesia”, conta o autor.

Ele surge em cena como Lirovsky, vendedor de livros que monta banca em qualquer canto da fictícia Interlândia. 

Como o mascate que atrai sua clientela para a roda anunciando atravessar o aro de bicicleta adornado com facas, o personagem apela a uma caixa-carrinho de som e luz. Lirovsky carrega consigo essa parafernália eletrônica a um só tempo rudimentar e sofisticada. Por meio de alavancas e pedais, dispara os recursos com os quais interage com as falas. “Vender é descobrir nas coisas outras propriedades”, afirma. 

A corruptela do apelido Lirinha com o nome do personagem, Lirovsky, dá a medida da extensão biográfica do projeto. 

Passa pela memória pessoal, como no episódio da doença que o abateu aos 9 anos, parcialmente descrito em off pela mãe, Lizete, que perambulou com o menino raquítico por vários médicos, até levá-lo a um curandeiro, atendendo ao clamor da vizinhança. Fé à vista. 

“Lirinha estudou profundamente o tema da profecia para ter o domínio que o Lirovsky pede. Fez um processo parecido com construção de personagem, não foi apenas criação de texto”, afirma a atriz Leandra Leal, 25, que co-dirige a performance do poeta.
 
A narrativa pretende conciliar os profetas com a consciência da loucura. Roça realidade e ficção ao percorrer o legado de três deles: os visionários João Pedra Maior, Teresa Purpurina e Benedito Heráclito. “Eles têm a dimensão do sagrado, mas sem perder o devaneio. É como se a profecia fosse devolvida ao seu lugar de origem, que é a poesia”, diz Lirinha. 

Quase paralelo à performance, ele deu à luz o também romance “Mercadorias e Futuro”, que deve publicar em 2008, ano em que gravará o quarto álbum do Cordel.



Mercadorias e futuro
Quando: hoje e amanhã, às 21h 
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700) 
Quanto: de R$ 4 a R$ 16 

Folha de S.Paulo

São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

TEATRO

Temporada teatral chega ao fim, mas algumas produções apresentadas na cidade ainda poderão ser vistas em janeiro
 

Entre as montagens que saem de cartaz há um pouco de tudo, de comédia a paralelos literários entre escritores brasileiros

VALMIR SANTOS
Da Reportagem local 

Hoje é o último dia da temporada de teatro na maioria dos espaços de São Paulo, cidade que tem abrigado um grande e variado número de produções. 

Algumas das montagens deverão retornar em janeiro, caso de “Pálido Colosso”, da Companhia do Feijão. Outras, fecham as cortinas de vez ou buscam nova agenda, como é o caso de “Amada, Mais Conhecida Como Mulher e Também Chamada de Maria”, da Companhia Artehúmus de Teatro, que possivelmente voltará ao cartaz em março. 

Das que hoje se despedem da cidade há um pouco de tudo, de comédia a paralelos literários entre escritores brasileiros, caso de “A Última Quimera”, de Ana Miranda, que trata de dois poetas, Augusto dos Anjos e Olavo Bilac. 

“A Dama e Os Vagabundos”, uma bem-humorada incursão ao mundo do relacionamento homem-mulher, também tem hoje a sua última apresentação paulistana. “Pálido Colosso” e “Amada, Mais Conhecida Como Mulher e Também Chamada de Maria” têm em comum uma abordagem histórica, e de tom politizado, do país. 

Depois de olhar a realidade por meio do passado ficcional registrado por escritores como Mário de Andrade (mote para peças como “O Ó da Viagem” e “Nonada”), a Companhia do Feijão recorreu agora a depoimentos de seus próprios integrantes. “Os observadores do tempo não são mais os escritores, às vezes melhores que historiadores, mas nós mesmos, os vivos”, diz Zernesto Pessoa, 45, que assina dramaturgia e direção com Pedro Pires. Os fatos políticos são costurados com as memórias pessoais da infância, adolescência e vida adulta. 

As cenas nasceram de improvisações a partir de acontecimentos vivenciados ou não, como a censura à imprensa e a luta pelas Diretas-Já. O resultado é um cabaré “degenerado” com quadros que recortam episódios após a instalação da ditadura militar no Brasil, em 1964. 

Por vezes cômico, ácido e poético, o painel procura expor a “alienação” que seria perpetuada em brincadeiras infantis ou no futebol, passando por intervenções nem sempre felizes de artistas e pela conhecida fauna política brasileira -nunca ameaçada de extinção. “Uma das questões é que o Brasil dá a sensação de um permanente estado de coito interrompido”, diz Pessoa. 

O “parto” do país está no cerne de “Amada, Mais Conhecida Como Mulher e Também Chamada Maria”. O diretor Evil Rebouças, que finalizou a dramaturgia em colaboração com os atores da Companhia Artehúmus, concentra-se na relação colonizador-colonizado.



Amada, Mais conhecida como mulher e também chamada de Maria
Quando:
hoje, às 21h 
Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3383-3400) 
Quanto: R$ 15


Pálido Colosso
Quando:
hoje, às 21h 
Onde: teatro da Companhia do Feijão (r. Teodoro Baima, 68, tel. 3259-9086) 
Quanto: R$ 10

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

TEATRO 

Encontro em Porto Alegre foi marcado por cancelamento do convênio de R$ 50 mil com braço das artes cênicas do MinC
 

Em documento de balanço, grupos alegaram demora da disponibilização dos recursos firmados e dificuldade de comunicação

VALMIR SANTOS
Em Porto Alegre 

Grupos de teatro do movimento Redemoinho criticam a gestão de Celso Frateschi na presidência da Funarte, o braço das artes cênicas do Ministério da Cultura. O 4º Encontro Nacional do Redemoinho, ocorrido durante três dias da semana passada, em Porto Alegre, foi marcado pelo cancelamento do convênio de R$ 50 mil assinado com o órgão federal que apoiou edições anteriores.

Em documento de balanço divulgado na noite de quarta-feira, os grupos alegaram “demora da disponibilização dos recursos firmados”, sinalizados a quatro dias da abertura, e “dificuldade de comunicação” com a Funarte.

No encontro, por exemplo, o ator e um dos fundadores do grupo Galpão (MG), Chico Pelúcio, afirmou que a relação “está ruim” e que era preciso mostrar que “estamos insatisfeitos com o tratamento que a Funarte deu ao Redemoinho”.

O também ator Frateschi, nome ligado à aprovação da pioneira Lei de Fomento paulistana (2002), se disse decepcionado e reclamou de “leviandade”. Segundo ele, a responsabilidade pelo atraso do repasse é do próprio movimento, por razões de documentação, e mesmo assim haveria “tempo hábil para ser realizado”.

O Redemoinho diz que a negociação vinha desde julho e a verba não poderia ser usada porque liberada de fato quando a reunião “já estava em andamento”.

Com representantes de 37 grupos de 11 Estados, o encontro decidiu que a principal ação política em 2008 será a mobilização pela aprovação do projeto de lei que institui um Fomento em nível federal. No dia 27 de março, em que se comemora o Dia do Teatro, os artistas lerão aos seus espectadores um manifesto sobre o programa. O documento também será encaminhado ao presidente Lula e a deputados e senadores.

O evento divulgou ainda carta aberta à prefeitura de Porto Alegre cobrando providências quanto à ordem de despejo sofrida pela Terreira, sede da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, onde aconteceu o encontro -o grupo completa 30 anos em 2008.
A próxima edição do Redemoinho ocorrerá em dezembro de 2008, em Salvador.

O movimento de coletivos surgiu em 2004 como rede brasileira de espaços de criação, compartilhamento e pesquisa teatral. E vem se afirmando pela proposição de políticas públicas para a área. 

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

TEATRO

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O drama norueguês contemporâneo ganha vez em palcos brasileiros. Do país de Henrik Ibsen (1828-1906), os textos mais encenados em São Paulo nesta década são de Jon Fosse, por Denise Weinberg (“Nome”) e Fernanda D’Umbra (“Roxo”).

Agora, o encontro é com o dramaturgo Arne Lygre, em “Homem sem Rumo”, pelas mãos de Roberto Alvim.

Também artista plástico, Lygre, 39, estreou profissionalmente com “Mother and Me and Men” (“A Mãe, Eu e os Homens”), em 1998.

“Man Without Purpose”, o título em inglês do texto cuja montagem está em cartaz no Sesc Avenida Paulista, é o penúltimo dos cinco que somam a sua curta obra para teatro, mas o primeiro a ser encenado no Brasil.

“Tenho andado interessado em experimentar formas e estruturas de peça em minha escrita. Tentar descobrir um novo caminho para contar uma história é das minhas principais inspirações na literatura”, diz Lygre.

Em 2004, ele lançou uma coletânea de contos, “In Time”, pela qual foi premiado em seu país. Na semana passada, participou em São Paulo de um encontro na Mostra Sesc de Artes em que falou de dramaturgia dentro de segmento que incluiu leituras de outros autores da Noruega, como Fosse, Nïels Fredrik Dahl e Tryti Vennerod.

“É interessante desenvolver uma história sob diferentes ângulos. A perspectiva de tempo é algo sobre o qual venho trabalhando bastante. A linguagem também tem muita importância nas peças, o ritmo do texto. A respeito disso, não me ocupo do realismo. Acho que é mais interessante quando os personagens, o contexto e o sentimento surgem um pouco como arquétipos, não necessariamente ligados a tempo ou lugar”, afirma Lygre.

“Homem sem Rumo” é baseada na crença de que só o dinheiro garante a felicidade.

Em suas peças, Lygre cria personagens que passam por deslocamentos interiores, irrompem em pequenos monólogos na terceira pessoa, dirigindo-se diretamente ao espectador. Reflexo da contaminação do teatro pelo romance na assinatura do autor?

“Não sei exatamente como as minhas peças e os romances influenciam um ao outro. Por um longo tempo, só fui dramaturgo. Depois, desejei escrever romances e contos também, como se fosse um desafio para mostrar a minha capacidade de usar a linguagem de outra forma.”

Para Lygre, às vezes é bom que um texto seja lido nas páginas de um livro e não interpretado no palco por outro artista.