3.3.2021 | por Kil Abreu
Neste momento não se pode começar um texto sobre crítica e sobre críticos senão reafirmando o estado atual das coisas. Que alcança a crítica mas vem antes e está além. Para nós que não nos sentimos capturados pelas políticas da morte (o que não nos faz melhores), a sensação é de que o humano está sendo devastado pela doença e pelo assassinato como política de Estado. Ponto crítico. É um momento da democracia em que se pode parafrasear os versos daquela canção falando sobre o aqui que ainda era construção, mas já é ruína. Os mais politizados perguntarão, com razão: “Mas quando não foi assim?”. A diferença fundamental é que no agora, como em poucos outros agoras, a ordem autoritária monta estratégias próprias. A matança, como sempre, tem endereços prioritários. Não cabe descer aqui a pormenores, não é o tema, mas cabe lembrar – não é questão de querer ou não – que este é forçosamente também o sítio da crítica. E a crítica não deve querer estar em suspenso sobre a nervatura do real, deve fazer parte dela.
Leia mais19.2.2021 | por Rosa Primo
Inicio esse texto no dia “D”, na hora “H”, como batizou o gênio da logística, ministro da saúde Eduardo Pazuello naquele 11 de janeiro. O enigma do “D”, contudo, não foi anunciado pelo ministro. À frente, o governador de São Paulo, João Doria, se antecipou e desfila hoje seus mocassins Ralph Lauren como quem encena o antigo mito grego no misterioso ultimato de Tebas: “Decifra-me ou te devoro”. O dia “D”, era o dia de Doria. As imagens da TV me atropelavam junto com as mensagens de amigos que, tomados de emoção no “H” da hora cênica, compunham o coro daqueles que desconheciam o distanciamento brechtiano. O distanciamento do teatro épico reserva uma certa frieza se comparado ao distanciamento como medida para reduzir o avanço da Covid-19. A vacina chegou! E junto com ela o imperativo da emergência: lutar pela vida ameaçada pelo vírus. Era domingo, dia 17 de janeiro, seis dias depois que Pazuello lançou o enigma.
Leia mais16.2.2021 | por Fátima Saadi
No prólogo e no epílogo de seu livro O teatro é necessário?, o ensaísta e professor Denis Guénoun (nascido em 1946) tece uma série de considerações a respeito da vida do teatro, que, cada vez mais, ultrapassa as atividades de formação e exercício das profissões estritamente relacionadas à criação de espetáculos teatrais e se espraia pelo que antes era considerado com certo desdém pelos profissionais das artes cênicas – e também pela imprensa – como marginal, menor, utilitário ou terapêutico.[1]
Leia mais26.1.2021 | por Luciana Romagnolli
O Horizonte da Cena nasceu em um salto das páginas de jornal para as páginas digitais. Estávamos, Soraya Belusi e eu, motivadas à escrita de crítica de teatro, mas já sem encontrar espaço satisfatório nos cadernos de cultura de veículos impressos. Trabalhávamos as duas no jornal O Tempo, de Belo Horizonte, e entre as cadeiras das bancadas da redação tramamos nossa migração e nossa desejada independência.
Leia mais4.1.2021 | por Valmir Santos
Este Teatrojornal – Leituras de Cena completou dez anos em 20 de março de 2020, na esteira da chegada da pandemia e, com ela, tudo que se sabe. Diante do presente que dilata a qualidade ou estado do que é temporal, provisório e efêmero, assumimos o delay e criamos uma ação comemorativa da década de trabalho continuado do site. O dossiê Biocrítica vai reunir artigos acerca de nossa trajetória e de outros dez espaços empenhados na crítica de teatro na internet.
Leia mais16.3.2014 | por admin
Sabe-se que cada forma implica um sistema de relações com o mundo, portanto, é também fundadora de sentidos. Assim, quando uma problemática como a da reelaboração artística de um passado político traumático assume formalizações muito distintas como em dois espetáculos presentes nesta Mostra Internacional de Teatro, as perspectivas do olhar apontam para abordagens éticas e efeitos distintos – sob certos aspectos, complementares. Leia mais
16.3.2014 | por admin
Até o torturador cria para si histórias que o convençam de que faz o bem. Dita quase com essas palavras em Escola, tal frase é indício da perspectiva complexa com a qual o diretor Guillermo Calderón aborda temas políticos em espetáculos como Villa+Discurso, apresentado no Brasil em 2011 e 2012, e este Escola que ora traz à MITsp. É preciso desconfiar dos discursos. Deles escapam contradições, que revelam a concorrência de forças sob a superfície de uma convicção. Leia mais
16.3.2014 | por admin
A performer espanhola Angélica Liddell habita o palco carregada de memórias e simbologias em Eu não sou bonita. O espetáculo foi criado sobre material autobiográfico, a partir do qual ela elabora uma poética da agressão. Desde uma perspectiva íntima compartilhada, a artista cria um espaço extracotidiano de expressão verbal e corporal contra a violência de gênero. Assume uma postura de enfrentamento da construção cultural do ser mulher, que limita a experiência do feminino, denunciando violências simbólicas e físicas castradoras do desejo e da liberdade. Leia mais
11.3.2014 | por admin
Há algo de espanto em um primeiro momento. Sensação logo transformada em beleza a ser admirada. O que antes poderia soar como piedade cede lugar à comunhão, ao encontro com o outro, à celebração. A imagem da mutilação não se apresenta como obstáculo, mas sim potência, desviando o olhar da perda para a multiplicação dos corpos em cena. Juntos, performers e espectadores atravessam a fronteira da deficiência e da individualidade para chegarem ao território da eficiência só possível de ser alcançada na complementaridade. Movimento compartilhado entre todas as partes. Leia mais
2.10.2013 | por Valmir Santos
O 14ª Festival de Cenas Curtas, cuja principal etapa terminou na noite de domingo e desdobra-se até o próximo fim de semana, proporcionou a quatro grupos convidados criar obras de até 15 minutos dentro do espírito do teatro de pesquisa que pauta as respectivas trajetórias, bem como os 15 anos do encontro organizado pelo centro cultural Galpão Cine Horto. São eles o Armazém Companhia de Teatro, 26 anos, do Rio; o grupo Clowns de Shakespeare, 20 anos, de Natal; a Companhia Brasileira de Teatro, 14 anos, de Curitiba; e o Grupo Espanca!, 9 anos, de Belo Horizonte, a cidade-sede do encontro. Leia mais