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Reportagem

Curitiba reduz custos e mantém ala estrangeira

25.3.2015  |  por Maria Eugênia de Menezes

Foto de capa: Mads Møller Andersen

O maior evento teatral do Brasil começa hoje e segue até o dia 5 de abril. Em sua 24ª edição, o Festival de Curitiba continua a manter a proposta e os números superlativos que o caracterizam desde sua criação. Serão 29 espetáculos, entre eles sete estreias nacionais. E a mostra oficial permanece como uma vitrine do que se passa nos palcos do País – especialmente no eixo Rio-São Paulo.

Diante de tanta constância, uma diferença que se acentua nas edições recentes é o reforço da grade internacional. Tradicionalmente restrita a único título, a representação terá quatro produções este ano. É um pouco menor do que em 2014, quando foram cinco obras. Mas com a explosão da cotação do dólar, a manutenção da iniciativa soa como indicativo de que a mudança veio para ficar.

De outros países, será possível assistir a criações como A house in Asia – que passou por São Paulo no último fim de semana; Numax fagor plus, obra do artista catalão Roger Bernat que prescinde dos atores e cria uma nova perspectiva para o público, e Double rite, duas versões da companhia dinamarquesa Granhoj Dans – uma feminina e outra masculina – para A sagração da primavera, de Igor Stravinski.

Além das mudanças em relação à moeda estrangeira, o Festival também sofreu corte de recursos. Seu orçamento previsto de R$ 6 milhões havia sido de R$ 8 milhões, em 2013, e R$ 6,5 milhões, em 2014. “É um momento em que captar está mais difícil”, comenta o diretor da mostra, Leandro Knopfholz.

Se há menos dinheiro, a programação necessariamente encolheu: as 29 peças da mostra oficial eram 35 no ano anterior. Uma das alternativas, porém, para se evitar ainda mais cortes foi uma mudança no modelo de produção do evento.

Segundo Knopfholz, o calendário de montagem dos espetáculos foi alterado para reduzir os custos. Também passaram a ser privilegiadas as salas convencionais de teatro – que exigem menos adaptações e gastos do que os espaços alternativos.

Outro passo atrás que se deu em relação às edições anteriores diz respeito às coproduções. A iniciativa, que foi testada em Curitiba em 2013, é um dos meios usado por grandes festivais mundo afora para garantir novo fôlego às suas programações. Recentemente a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo – MITsp valeu-se do expediente e apresentou a estreia mundial de Canção de muito longe, do belga Ivo Van Hove. “Coproduzir é uma maneira de definir rumos próprios e fugir das limitações do que o mercado oferece naquele momento. É uma ideia que pretendemos retomar no futuro”, observa Celso Curi, que assina a curadoria com Tânia Brandão e Lúcia Camargo.

Com uma seleção que engloba muito do que fez sucesso em 2014 no Rio e em São Paulo, a grade não traz muitas surpresas para quem segue o cenário de perto. Entre os destaques, Beije minha lápide, com Marco Nanini; Gotas d’água sobre pedras escaldantes, direção de Rafael Gomes; e Nômades, direção de Marcio Abreu, com Andréa Beltrão, Malu Galli e Mariana Lima (3 e 4/4).

Parte do elenco de 'Post scriptum', estreia de Samir YazbekFernando Stankuns

Parte do elenco de ‘Post scriptum’, estreia de Yazbek

Inevitavelmente, as atenções se voltam, ano a ano, para as criações inéditas, que farão sua estreia na capital paranaense. Nessa ala, que reúne sete títulos, pode-se esperar boas surpresas de OE, trabalho solo do ator Eduardo Okamoto sob a direção de Marcio Aurélio; de Ensaio para um adeus inesperado, novo texto do dramaturgo Sergio Roveri; assim como de Abnegação II – O começo do fim. Trata-se da segunda parte da trilogia Abnegação, projeto da companhia paulistana Tablado de Arruar que retrata um partido político que, para conseguir projetar-se nacionalmente, abraça práticas que era por ele mesmo condenadas.

Destaques:

A house in Asia
Espetáculo espanhol de Alex Serrano e Pau Palácios (25 e 26/3)

Post scriptum
Estreia da peça da cia. Arnesto nos Convidou (SP), com texto de Samir Yazbek. (26 e 27/3)

Double rite
Obra de dança-teatro da cia. dinamarquesa Granhoj Dans, a partir de A sagração da primavera (28 e 29/3)

OE
Solo de Eduardo Okamoto, com direção de Marcio Aurélio (30 e 31/3)

Nômades
Com Andréa Beltrão, Malu Galli e Mariana Lima (3 e 4/4)

.:. Publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, Caderno 2, p. C3, em 25/3/2015.

.:. Mais informações no site do Festival de Teatro de Curitiba, aqui.

Crítica teatral, formada em jornalismo pela USP, com especialização em crítica literária e literatura comparada pela mesma universidade. É colaboradora de O Estado de S.Paulo, jornal onde trabalhou como repórter e editora, entre 2010 e 2016. Escreveu para Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010. Foi curadora de programas, como o Circuito Cultural Paulista, e jurada dos prêmios Bravo! de Cultura, APCA e Governador do Estado. Autora da pesquisa “Breve Mapa do Teatro Brasileiro” e de capítulos de livros, como Jogo de corpo.

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