São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008
TEATRO
Companhia La Mínima estréia amanhã outra peça baseada em quadrinhos
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Clown noir? Atmosfera de suspense cinematográfico? Resgate de um nariz mutilado? Não causa espanto se se está falando da Companhia La Mínima, projeto de circo dos mais sólidos no teatro brasileiro.
A dupla Domingos Montagner, 46, e Fernando Sampaio, 43, a mesma que costura em paralelo o Circo Zanni (2004), volta ao universo de Laerte, cartunista da Folha. O espetáculo “A Noite dos Palhaços Mudos” entra em cartaz amanhã no Espaço Parlapatões.
Depois da premiada montagem de “Piratas do Tietê – O Filme” (2003), chegou a vez de adaptar a história em quadrinhos homônima que Laerte publicou pela primeira vez em 1987, na “Circo”. O clima é sombrio, digno de narrativa policial: dois palhaços empenhados em resgatar um terceiro, capturado por sujeitos que se dizem “próceres da sociedade” dispostos a exterminar a “praga” (a HQ está disponível em www.laerte.com.br).
No roteiro co-adaptado com o diretor convidado Alvaro Assad (Centro Teatral e Etc e Tal, do Rio), o que está em resgate é um nariz de palhaço mutilado.
Sem palavras, ancorando o humor físico, a dupla penetra em uma sociedade secreta. A missão inclui driblar a intolerância com truques e brincadeiras, até empreender uma fuga.
Os vilões institucionais são vividos pelo ator Fabio Espósito, que já trabalhara em “Piratas do Tietê”. Diminui a ênfase na figura da dupla clássica de palhaços (o “augusto” espevitado de Sampaio versus o “branco” austero de Montagner) a favor da dramaticidade que a história pede. Mas eles são os condutores da peça, misturando real e fantasia.
Quer no palco italiano (“À La Carte”, 2001), na rua (“Luna Parke”, 2002) ou nos esquetes de acrobacia (“La Mínima Cia. de Ballet”, 1997, gênese da companhia), Montagner e Sampaio acumulam uma linguagem que não desdenha a tradição. “A gente costuma repetir a velha frase sobre a serragem na veia injetada por mestres como o Roger [Avanzi, o Picolino 2]”, diz Sampaio.
Peça: A noite dos Palhaços mudo
Quando: estréia amanhã, às 21h; qui., às 21h; até 29/5
Onde: Espaço Parlapatões (pça. Franklin Roosevelt, 158, tel. 3258-4449)
Quanto: R$ 20
29.4.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008
TEATRO
Dirigido por Cacá Rosset, grupo monta terceiro Shakespeare, “A Megera Domada”, e celebra em livro a irreverência de três décadas
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Maio de 1977. Antunes Filho arquiteta “Macunaíma” para o ano seguinte. José Celso Martinez Corrêa ziguezagueia no exílio entre Portugal e Moçambique, prestes a retornar. Em meio à ditadura militar (1964-85), o termo porão ganha outros contornos nas mãos da atriz e professora Maria Alice Vergueiro e de seus pupilos Luiz Roberto Galizia e Cacá Rosset, da Escola de Comunicações e Artes da USP.
O trio dá o que falar em “Os Mais Fortes”, espetáculo levado a um espaço improvisado do teatro Oficina, no Bexiga. É ali que o público lota sessões alternativas, inclusive à meia-noite.O boca-a-boca é movido pela irreverência com a qual a criação coletiva trata os textos curtos do sueco August Strindberg, um embate de forças (ou de cérebros) sob a ótica darwiniana da sobrevivência da espécie.
E depois veio Brecht, contundência sócio-política lida em chave cômica. E depois vieram Molière, Shakespeare e Alfred Jarry, para citar clássicos que ajudaram o Teatro do Ornitorrinco a inscrever seu nome na história do teatro no país.
O grupo desenvolveu uma linguagem que funde circo, dança, teatro, música e o ímpeto desenfreado pela iconoclastia. Os mesmos ingredientes que a crítica percebe manejados sem a consistência de antes em produções de 1998 para cá (“O Avarento”, “Scapino” e “O Marido Vai à Caça!”).
“Megera”
Agora, quase 31 anos depois, o Ornitorrinco volta à carga com um novo Shakespeare, “A Megera Domada”, que estréia dia 30/5 no teatro Sérgio Cardoso. É a terceira visita à obra do dramaturgo inglês. A projeção internacional do grupo veio justamente em “Sonho de uma Noite de Verão” (1992). As fadinhas seminuas chamaram a atenção de público e crítica nas apresentações ao ar livre no Delacorte Theatre do Central Park, em Nova York.
As três décadas serão lembradas ainda com o lançamento, em junho, de “Teatro do Ornitorrinco – Para Vosso Prazer, para Vosso Deleite e para Vossa Diversão!” (Imprensa Oficial, 336 págs., preço a definir). O livro autobiográfico terá depoimentos e imagens de quem atravessou o grupo ou segue vinculado à sua história. O texto é de Guy Corrêa, com projeto gráfico de Victor Nosek, capa de Angeli e coordenação editorial de Christiane Tricerri.
Em “Megera Domada”, é ela, Tricerri, 46, ligada ao grupo desde 1985, quem interpreta Catarina, a mulher que não aceita ser subjugada por ninguém e que tenta resistir aos galanteios do brutamontes Petrucchio (Rosset). A irmã da protagonista, Bianca (Maureen Miranda), também entra na torcida para que se casem logo, já que só assim poderá ser liberada a um pretendente, como condiciona o pai.
Lutar é verbo-motriz nessa comédia, prato cheio para a ação física que o Ornitorrinco aprecia acentuar. “Há uma passagem entre Petrucchio e Catarina toda pontuada por golpes, com voadoras e tudo”, afirma Rosset, 54, também o diretor.Segundo Tricerri, o espetáculo reforça a metalinguagem do prólogo, muitas vezes visto de soslaio. Shakespeare inverte os papéis de um funileiro bêbado e de um lorde. Paramentados no palácio, é a eles que uma trupe de atores apresenta a peça dentro da peça.
São 24 artistas no palco, músicos incluídos. Parte do elenco esteve em produções anteriores, caso de Eduardo Silva, William Amaral, Rubens Caribé, Guilherme Freitas e Anderson Faganello. Direção de arte e figurinos são de José Anchieta.
Ubu governador
Rosset considera “Ubu – Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes” (1985) a montagem mais bem-sucedida no currículo. Foi vista por cerca de 350 mil pessoas em dois anos e três meses em cartaz. Resultou uma colagem de textos da obra do francês Alfred Jarry em torno do rei que usurpa o trono em um lugar imaginário. Imprimia frenético vaivém em meio a malabares, engolidores de fogo, trapézios e banda ao vivo, para deleite do público jovem.A “patafísica”, ou “ciência das soluções imaginárias”, colou de tal modo que invadiu a realidade: Rosset encarnou pai Ubu em happening, a ponto de o Tribunal Regional Eleitoral protocolar sua candidatura sob o slogan “Horror por horror, Ubu governador”.”Hoje, o Ornitorrinco é mais um estado de espírito do que um grupo. Somos pessoas com afinidades, que reciprocamente se escolhem”, diz Rosset.
Em suas diferentes fases e faces, foi cepa de comediantes como Rosi Campos, José Rubens Chachá, Ary França, Norival Rizzo e cantores como Cida Moreira, Edson Cordeiro e Elba Ramalho. Sem contar a influência em projetos como Circo-Escola Picadeiro, Parlapatões e Acrobático Fratelli.
28.4.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008
TEATRO
Para a companhia Générik Vapeur, polícia impediu encenação; PM diz que houve “sugestão em comum acordo’
O secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, admitiu que a polícia tomou um “susto” e disse que a ferida de 2007 ainda está aberta
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
24.4.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008
TEATRO
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Atração obrigatória nas “Noites Brancas” de Paris, a companhia francesa Générik Vapeur finalmente vem a SP para duas únicas apresentações na Virada Cultural.
O espetáculo “Bivouac” é teatro de cortejo de rua com intervenção no espaço público, variação do que Belo Horizonte viu anos atrás. No chão ou num caminhão-cenário, que serve de touro de ventas fumegantes, vêm 18 atores ou músicos com corpos pintados de azul.
Eles interagem pontualmente com os espectadores, com rock, luzes e fogos de artifício. A idéia é mudar a percepção do centro da cidade. Importa a experiência de deslocamento coletivo, o “percurso emocional”. Bivaque, em português, é a área que acolhe a tropa. A duração é de 60 minutos.
Inicia em frente à Galeria Olido (av. São João), passa pela pça. da República, ruas Ipiranga e Sete de Abril, e acaba na pça. do Patriarca, diante de uma pirâmide de 102 latões coloridos. Criado em 1989, “Bivouac” alude ao Muro de Berlim. A companhia foi fundada em 1984, motivada pelas relações entre ator e máquina. “Bivouac” inclui um cão cenográfico de metal e um carro que é demolido. O projeto é parceria da Prefeitura de SP com o Consulado da França e o órgão Culture France.
Peça: Bivouac
Saída: em frente à Galeria Olido (av. São João, 473)
Quando: sáb., às 21h30; dom., às 3h30
Quanto: grátis
17.4.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008
TEATRO
Peça de Leilah Assumpção retrata homem de 40 com casamento em frangalhos
“Ilustríssimo Filho da Mãe”, que estréia no teatro Jaraguá, tem ambientação inspirada em obra do norte-americano Edward Hopper
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
13.4.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, domingo, 13 de abril de 2008
TEATRO
Quatro espetáculos estão sendo realizados nas praças Roosevelt e República, no parque Villa-Lobos e no viaduto do Chá
“Línguas Discordantes” expõe o conflito entre um morador de rua e um jornalista; obra de Henfil inspira “Top! Top! Top!”
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
10.4.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008
TEATRO
João Falcão dirige montagem que costura biografia a 40 canções, com cinco intérpretes no papel da cantora
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Entre os cerca de cem artistas que fizeram audição para o musical sobre Elizeth Cardoso (1920-90), poucos conheciam seu cancioneiro. Já nos testes, logo após o Carnaval, os criadores de “Divina Elizeth” se deram conta da responsabilidade pela frente: preencher um tanto dessa lacuna entre gerações.
Não é a pretensão do espetáculo que estréia amanhã, no teatro Frei Caneca, em SP. Em vez disso, o diretor João Falcão, 49, fala em fazer “apenas um musical brasileiro”, assim como a homenageada se dizia “apenas uma cantora brasileira”. Mas ninguém une perto de 40 canções a momentos da vida de Elizeth Cardoso impunemente.
“Tive um “intensivo” da música popular brasileira”, diz Falcão, há cinco meses envolvido com o roteiro e a concepção do musical. Surpreendeu-o o espectro de influências da obra de Elizeth, capaz de embolar o antes e o depois dela (Araci Cortes, Aracy de Almeida, Carmen Miranda, Ary Barroso etc.).
A natureza multifacetada de tal voz surge representada por cinco intérpretes: Ana Pessoa, Beatriz Faria, Carol Bezerra, Daniela Fontan e Dhu Moraes, todas experientes no canto, às vezes de modo familiar -Faria é filha de Paulinho da Viola. “A Elizeth tem várias caras.
As cinco cantoras possuem qualidades distintas. Há quem tenha mais vibrato, seja mais dramática, mais leve, mais lépida, folgazã”, diz o diretor musical, Josimar Carneiro, 41. Ele toca violão ao lado de Marcílio Lopes (bandolim), Gabriel Geszti (teclado e acordeão), Rui Alvim (sax alto e clarinete), Jorge Oscar (baixo acústico) e Oscar Bolão (bateria e percussão).
Com este, garimpou, anos atrás, partituras originais do acervo do neto de Elizeth. Entre elas, as diretrizes vocal e instrumental de “Chega de Saudade”, assinadas por Tom Jobim. O maestro fez parceria com Vinicius de Moraes no histórico “Canção do Amor de Mais” (1958), da cantora.
Nos arranjos que assina com Lopes, Carneiro pretende fundir um tanto de Zimbo Trio, na formação piano-baixo-bateria, com outro tanto do Época de Ouro, que acompanhava Jacob do Bandolim com violão de sete cordas, pandeiro e percussão.
Saudades e premonições
No roteiro, João Falcão segue a cronologia biográfica no que pode e tenta equilibrar saudades e premonições da personagem, dançando passado e futuro. Uma dupla, como que anjos da guarda, costura a narrativa pontuada pelos números. Íntimo do gênero desde os tempos de formação no Recife, nos anos 80, Falcão quer manter a experimentação, como em “As Aventuras de Zé Jack e Seu Pandeiro Solto na Buraqueira no País da Feira” (2005), celebração a Jackson do Pandeiro, e “Cambaio” (2001), letras de Edu Lobo e Chico Buarque com arranjos de Lenine.
Peça: Divina Elizeth
Onde: shopping Frei Caneca – teatro (r. Frei Caneca, 569, 6º andar, tel. 0/xx/ 11/3472-2226)
Quando: estréia amanhã, sex. e sáb., às 21h; e dom., às 19h. Até 1º/6
Quanto: R$ 80
8.4.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008
TEATRO
Cacá Carvalho reestréia “Homem com a Flor na Boca” e “A Poltrona Escura’; cias. Linhas Aéreas e Atelier de Manufactura exibem inéditas
Teatro Sérgio Cardoso recebe os dois grupos, com a recém-estreada “Como Você Me Quer” e com “Cada um a Seu Modo”, prevista para 17/4
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
5.4.2008 | por Valmir Santos
Com uma carreira impregnada pelos pensamentos político e artístico de Bertolt Brecht (1898-1956), desde os tempos em que atuava no teatro Oficina, na década de 70, Esther Góes afirma ter levado “um susto” ao mergulhar na biografia de Helene Weigel (1900-1971), a atriz e companheira do poeta e dramaturgo alemão. “Helene é uma figura que desconhecemos.
31.3.2008 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008
TEATRO
Festival termina com pré-estréias e ensaio aberto
VALMIR SANTOS
Enviado especial a Curitiba
O último final de semana do 17º Festival de Curitiba teve duas pré-estréias nacionais e uma demonstração de trabalho em construção na grade oficial. São espetáculos que entram em cartaz neste semestre no Rio: “A Ordem do Mundo”, monólogo com Drica Moraes, e “Cruel”, balé da Cia. Deborah Colker, estréiam em abril; o embrionário “Deserto”, com Luis Melo e a Cia. Brasileira de Teatro (PR), em junho.
Além disso, em seus dez anos, a mostra Fringe (franja, em inglês) desbancou de vez a designação alternativa e anacrônica “Mostra de Teatro Contemporâneo” que o Festival de Curitiba adotou no início (1992). Nem tudo o que se vê na oficial (amparada por curadoria, com cachê) supera em qualidade a mostra paralela (produções que pagam de R$ 30 a R$ 50 e são auto-sustentadas).
Um exemplo disso foi a constrangedora e pretensa comédia “Nada Que Eu Disser Será Suficiente Até Que o Sol Se Ponha”, da Cia. de Teatro de Nós (RJ), frágil em tudo, escalada pela organização no Sesc da Esquina.
Sua antítese, para ficar nos mesmos palco e gênero, foi “Três Mulheres e Aparecida”, uma esmerada atuação solo de Rita Assemany, de Salvador, com textos de Aninha Franco e direção de Nadja Turenko. Nomes que o Brasil deveria conhecer mais.
Parto
“Foi um lugar lindo para “A Ordem do Mundo” nascer”, afirmou Drica Moraes após se apresentar no teatro da Reitoria. Ela definiu as noites de sexta e sábado como “o parto da personagem”, uma mulher obcecada por reter a “epidemia da informação”. O texto é de Patrícia Melo e a direção, de Aderbal Freire-Filho.
Segundo Deborah Colker, “Cruel” recorre ao adjetivo-título para lançar “um olhar sobre o amor, a vida, a beleza, a traição, a rejeição etc”. A série de movimentos, que seria mostrada ontem, inclui um grande baile no prólogo. Objetos como mesa e espelho imprimem tons surrealistas. “Não há nada mais cruel na vida do que olhar-se no espelho”, disse ela.
Pesquisas dramatúrgicas e experimentos de linguagem cênica não estiveram restritos ao Fringe; também ganharam espaço na mostra oficial. Ainda inacabado, “Deserto” foi exibido no casarão Novelas Curitibanas na sexta. A partir da temática da fragilidade e com um enredo apenas esboçado, a Cia. Brasileira de Teatro apresentou exercícios de improvisação.
Utilizando uma língua imaginária, Melo tentou, às vistas da platéia, traçar caminhos para seu personagem -um homem que busca no sonho e no devaneio meios para escapar da realidade e dar sentido à vida.
“As pessoas têm uma curiosidade sobre a criação teatral, sobre como se chega à obra final. Queremos diminuir essa distância que separa o público da platéia. Revelar o que há de inacabado e imperfeito, quais são os nossos dilemas”, disse o ator.