10.1.2021 | por Valmir Santos
“Você vê os gregos: o Pégaso, o cavalo que voa, é o símbolo da poesia. Nós deveríamos botar antes, como símbolo da poesia, a galinha ou o peru – que não voam. Ora, para o poeta, o difícil é não voar, e o esforço que ele deve fazer é esse”, declarou João Cabral de Melo Neto em 1966, mesmo ano da publicação de A educação pela pedra. Numa das passagens da alentada entrevista a seguir, a encenadora Maria Thais cita o escritor pernambucano para elucidar o caráter sertanejo que mora em si, natural de Piritiba, na região da Chapada Diamantina, sertão baiano.
Leia mais4.1.2021 | por Valmir Santos
Este Teatrojornal – Leituras de Cena completou dez anos em 20 de março de 2020, na esteira da chegada da pandemia e, com ela, tudo que se sabe. Diante do presente que dilata a qualidade ou estado do que é temporal, provisório e efêmero, assumimos o delay e criamos uma ação comemorativa da década de trabalho continuado do site. O dossiê Biocrítica vai reunir artigos acerca de nossa trajetória e de outros dez espaços empenhados na crítica de teatro na internet.
Leia mais30.12.2020 | por Valmir Santos
Artista acostumado a eviscerar a realidade por meio da ficção, nas escalas da pujança, da ousadia formal e do estranhamento, o dramaturgo e encenador Francisco Carlos construiu imagem à altura em um de seus textos mais recentes, Cosmos amazônico, definido por ele como “fotografias-verbais” e cujos preparativos para a montagem estava em curso em meio à restrição social, abrindo flancos para a transposição ao ambiente virtual/audiovisual. Caminho promissor para uma escrita de inclinação cinematográfica.
Leia mais4.11.2020 | por Valmir Santos
No momento em que o globo terrestre fixa atenção em quem vai ocupar a Casa Branca nos próximos quatro anos, a cinebiografia do dramaturgo tcheco Václav Havel (1936-2011) produz efeito luminoso similar àquele de quando se conhece a trajetória e as atitudes do florista e “chacareiro” uruguaio José Mujica: de como a ascensão de civis ao cargo máximo de uma nação pode, sim, transformar significativamente a face do poder a partir de suas presenças carregadas de passados humanistas. Uma fala do ator Viktor Dvořák no papel-título de Havel, atribuída a um dos professores do escritor, sintetiza o legado de pessoas como essas: “O mais importante da consciência é que sempre a carregamos conosco. Não podemos nos livrar dela mesmo que queiramos”.
Leia mais31.10.2020 | por Valmir Santos
Uma das primeiras experiências presenciais no país após sete meses de recolhimento da produção teatral, Protocolo Volpone, um clássico em tempos pandêmicos tem na sua proximidade física distanciada a melhor tradução para o gesto da Companhia Bendita Trupe de dotar a farsa do início do século XVII de efeitos imunizantes ante a funesta realidade da qual o trabalho emerge. A supervalorização mórbida de si, pelo agiota endinheirado do título, imprimiu tons mais tétricos à comédia ao refletir o estado de morte à brasileira nas falhas governamentais no enfrentamento ao novo coronavírus.
Leia mais22.10.2020 | por Valmir Santos
Como todo outubro em São Paulo, a Mostra Internacional de Cinema reserva interfaces com as artes cênicas em seu vasto panorama global. Pela primeira vez as exibições serão em ambiente online, uma plataforma própria, ou em espaços drive-in. Em 2009 o festival foi dos pioneiros ao levar parte do conteúdo para a internet, mas a escala atual muda paradigmas sem precedentes sob pandemia viral.
Dentre os 198 filmes desta 44ª edição, de 22 de outubro a 4 de novembro, relacionamos títulos que envolvem direta ou indiretamente aspectos do circo, da performance e do teatro. Há transposição de peça, cinebiografia, atriz assinando longa-metragem, teatrólogo se indagando sobre como agir politicamente nos dias de hoje, atores de grupo no elenco de uma obra ou outra, palhaço encantando a adolescência no sertão, enfim, experiências que guardam algum atravessamento com as artes da presença. Seja nas películas, seja no percurso de seus artistas.
Leia mais13.10.2020 | por Valmir Santos
Para além da pandemia, conjecturou a atriz e dramaturga, existe uma situação extremamente instável na maneira como os artistas sobrevivem ao longo da história do Brasil. Grace Passô falou durante a mesa virtual que abordou as “Novas teatralidades e estratégias para a existência do teatro”. Afinal, a quem as artes vivas se destinam e quem detém os meios para fazê-las, seguiu problematizando. Ato contínuo, lançou a pergunta-ensaio que pode ser considerada determinante para um balanço do que foi dito e pensado durante o Seminário CPT 2020, realizado nas manhãs dos três primeiros dias de setembro, no marco das atividades de relançamento do Centro de Pesquisa Teatral do Sesc SP. Grace indagou: “Os legados são delegados a quem?”.
Leia mais30.8.2020 | por Valmir Santos
Em uma das peças menos conhecidas de Mário Bortolotto, À queima-roupa , escrita em 1993, Cardan é um homicida que deixa a cadeia após cumprir 12 anos de pena. Em poucos dias na rua, assassina mais dois homens. À bala, em assalto a um professor. E por enforcamento, ao terceirizar uma vingança: o irmão de seu melhor amigo “roubou” a namorada deste. Em diferentes partes da história, um mendigo aborda o ex-detento para manifestar sua fome, mas não angaria a caridade alheia. Até o desfecho, quando pede um pedaço de cachorro quente que ele está comendo. Ato contínuo, o protagonista abocanha o restante do lanche e, mastigando, coloca um revólver na mão do pedinte que, atônito, aos poucos se recompõe, empunha a arma e mira a plateia. Blecaute seco. A leitura de À queima-roupa traz as digitais da desenvoltura com que Bortolotto dirige Barrela, seu primeiro Plínio Marcos em cerca de 40 anos de dramaturgia. As afinidades eletivas vão além da superfície quando se trata de sujeitos marginalizados pela sociedade ou entranhados na marginalidade.
Leia mais14.8.2020 | por Teatrojornal
Fruto da parceria da Cia. Livre e da Cia. Oito Nova Dança, sediadas em São Paulo, o espetáculo Os um e os outros (2019) abarcou a luta dos povos ameríndios em território brasileiro e suas estratégias para resistir. Trata-se de livre recriação de Os Horário e os Curiácios (1933), uma das peças didáticas de Bertolt Brecht que investiga modos de resistência da chamada “época da contrarrevolução”, instaurada com a ascensão e consolidação da nazismo na Alemanha.
Leia mais30.7.2020 | por Valmir Santos
Para usar um termo corrente no meio audiovisual, a série Cena inquieta transmite uma sensação de delay. O efeito acústico atrasado em relação à imagem é lembrado porque o poder transformador da arte que emana de vozes e corpos nos dois primeiros episódios destoa do presente de um país em decomposição. A falta de sincronia não é gerada pelos idealizadores e realizadores dos 26 documentários em exibição no canal SescTV, desde a semana passada, mas pelo fracasso de parte da sociedade civil e dos representantes políticos em colocar de pé um sistema nacional de cultura, em sentido estrito, como previsto na Constituição de 32 anos atrás, ou ao menos não desmanchar o que as gestões de Gilberto Gil estruturaram minimamente no extinto Ministério da Cultura.
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