18.9.2022 | por Mariana Queen Nwabasili
Parece ter chegado o tempo em que, finalmente, negras e negros brasileiros engajados em diferentes campos e artes passam a considerar a importância das pautas dos povos originários – ou dos “negros da terra”, como indígenas foram sintomaticamente “apelidados” pelos colonizadores – nas lutas por igualdades raciais e sociais no país. A peça Améfrica: Em três atos, encenação do Coletivo Legítima Defesa sob a direção de Eugênio Lima, é exemplo dessa tendência salutar e dos desafios para o equilíbrio das cosmovisões, simbolismos e narrativas ameríndias e afro-brasileiras na empreitada.
Leia mais3.9.2022 | por Valmir Santos
Em Órfãs de dinheiro, o teatro está para o conto assim como este, para a literatura. O enxugamento intrínseco da narrativa breve, em que menos é mais, corresponde à tática de linguagem na concepção, texto e atuação de Inês Peixoto. Três histórias compõem o monólogo sobre mulheres subjugadas por estruturas patriarcais na família ou na sociedade sob condicionantes como honra, sexo, pobreza e xenofobia.
Leia mais13.8.2022 | por Fernando Marques
Uma peça de 1860 teve como tema o episódio da Independência brasileira e, mais importante, prefigurou as exigências contemporâneas de igualdade racial. O texto pioneiro relaciona a emancipação política à conquista dessa igualdade, deixando entender que, sem que se cumpram aquelas exigências, toda ideia de justiça torna-se vazia.
Leia mais4.8.2022 | por Valmir Santos
Contar a História do Brasil a partir do genocídio do povo preto é o que promete e realiza o ator, dramaturgo e diretor Clayton Nascimento em Macacos, da Cia. do Sal (SP).
Da metade da encenação em diante o ator-narrador resume mais de cinco séculos de extermínio e estigmatização de povos indígenas e negros escravizados, lançando mão de extraordinária capacidade intelectual e vocação para estabelecer dialogismo . “A gente não domina nossa história.”
Leia mais15.6.2022 | por Mariana Queen Nwabasili
Há quem diga que toda crítica é uma autobiografia, tamanha a exposição das percepções e referências de quem escreve. E eu devia ter por volta de 8 anos de idade quando meu pai, que é imigrante nigeriano, costumava reunir os filhos para comer na mesa da cozinha sopas tradicionais de seu país, enquanto contava histórias que ele mesmo tinha escutado ou vivido quando criança em África. Ao final da refeição e do conto, percebíamos ter adquirido mais alguns aprendizados para a vida.
Leia mais12.6.2022 | por Valmir Santos
Em 2021, Um jardim para educar as bestas foi registrado em vídeo na praça Tempo Espaço, território que na verdade é uma exposição permanente ao ar livre, instalada no Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, em Campinas (SP). Dali dá para contemplar nasceres e pores do sol, interagir com bússolas, lunetas ou teodolitos, instrumentos para medir ângulos horizontas e verticais. O ator Eduardo Okamoto e o pianista, compositor e arranjador Marcelo Onofri apresentaram-se à luz do dia no mirante de 360º de horizontes, sob a vastidão do céu azul, algumas nuvens brancas e raios solares. Uma performance sem público, propriamente dito, pois aqueles eram dias de isolamento social.
Leia mais8.6.2022 | por Amabilis de Jesus
Todos, todas e todes vieram em seguida. Leonarda já estava lá. E é verdade que era bruta, uma força bruta. Ácida. Puro escárnio, e palavras cortantes. Palavras-ponta-afiada. Lançava-as. Tratava-se de um treinamento constante. Tratava-se de uma metodologia. Tratava-se de resiliência. Ou nada disso Chegou lapidada. Entendemos depois. Chegou pronta. Emancipada. Cedo. Antes que as teorias todas nos fossem familiares.
Leia mais6.6.2022 | por Maria Eugênia de Menezes
O teatro afeta 3% da população. A afirmação do diretor francês Mohamed El Kathib, em uma entrevista ao jornal Libèration, dá conta de sua visão sobre os limites das artes cênicas. Se o teatro afeta 3% da população – e estamos olhando aqui para o contexto europeu – qual o sentido pragmático de se falar de um teatro político hoje? Distante do seu passado de arte de massas, o teatro teria hoje outros propósitos. Um deles, parece crer Khatib, é promover o encontro entre pessoas que dificilmente teriam outras chances de se encontrar. Em Estádio (Stadium), espetáculo que abriu a 8ª MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, esse é certamente um motor.
Leia maisCircuito alternativo que nasceu em torno das atividades da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a FarOFFa sempre se colocou por entre as frestas. Seja pelo seu caráter de festival paralelo, seja por experimentar formatos diversos ou mesmo pelo singelo jogo de palavras no nome – essa mistura do tempero brasileiro com o off, a ideia de alternativo.
Leia mais4.6.2022 | por Mariana Queen Nwabasili
Em um sistema-mundo disciplinador dos corpos e em um país que, por mais neurótico que se mostre quanto a isto, tem grande parte de sua memória e conhecimento calcados em manifestações culturais afro-indígenas de forte expressividade física, a montagem de obras teatrais que prescindem da verbalização para explorar outras potentes formas de contar estórias poderiam ser mais frequentes. Essa é uma das conclusões possíveis após assistir à peça Cárcere ou Porque as mulheres viram búfalos, encenação da dramaturgia de Dione Carlos pela Companhia de Teatro Heliópolis, sob a direção de Miguel Rocha, em cartaz na Casa Mariajosé de Carvalho, sede do grupo em São Paulo.
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