12.3.2015 | por Fábio Prikladnicki
Não seria exagero dizer que Sandra Dani valeu-se de quatro décadas como atriz para viver a palavrosa e inesquecível Winnie, de Oh, os belos dias, de Beckett, peça que estreia temporada hoje (12/3) no Teatro Renascença, em Porto Alegre. Antes, o público da capital havia tido apenas uma curta oportunidade de assistir a esta montagem paulista do diretor Rubens Rusche, em três sessões no Porto Alegre Em Cena de 2013. Leia mais
11.3.2015 | por Maria Eugênia de Menezes
Geralmente, é diante daquilo que precisaria ser dito que as palavras faltam. E parece quase impossível falar do que arrebata ou abate, como se não houvesse sintaxe capaz de dar conta do idílio amoroso, da epifania, da morte, do luto. Sobre essa dificuldade de nomear o inominável se debruça Canção de muito longe, obra do holandês Ivo van Hove, que foi coproduzida pela MITsp e fez sua estreia mundial durante o festival. Leia mais
11.3.2015 | por Beth Néspoli
Trabalho final de um curso de teatro: um menino forra uma caixa de papelão com papel laminado, fura a parte de cima para a entrada de uma lâmpada, escreve a palavra teatro na tosca edificação e diz ao público que cada um deve imaginar sua própria peça. Pela via da negação ou da inocência é fácil ativar a imaginação, poderia ser a moral dessa fábula infantil. Dela vale tirar a pergunta: como engendrar uma poética com potência estética tendo como plataforma de salto a acumulação simbólica no campo da cultura e da arte? Tal desafio funda a teatralidade de Stifters dinge, espetáculo-instalação engendrado por Heiner Goebbels em parceria com uma equipe de criadores com quem esse músico-diretor vem trabalhando há décadas e, portanto, com os quais vem afinando sua linguagem. Leia mais
10.3.2015 | por Valmir Santos
As reflexões de classe e de gênero originalmente implicadas em Senhorita Julia (1888) estão sublinhadas e problematizadas também segundo a cor da pele na livre adaptação de Christiane Jatahy para o envolvimento da moça branca, filha do patrão, com o motorista negro da família. Se no prefácio a sua peça o sueco Augusto Strindberg (1849-1912) dizia não preconizar lição de moral, a diretora tampouco cede a julgamentos ao atritar matizes escandinavos com a memória escravocrata do Brasil que cava os abismos sociais ora perpetuados. Leia mais
9.3.2015 | por Maria Eugênia de Menezes
O vínculo intrínseco do teatro com o presente não se manifesta apenas na escolha dos temas a serem levados ao palco. O apego dessa arte ao seu tempo transcende os embates políticos e sociais do momento e comumente faz-se evidente também na forma – se é que ainda faz sentido a dicotomia entre conteúdo e invólucro. Em sua ânsia por conectar-se à sua época – período de inimigos difusos e certezas implodidas – o teatro contemporâneo empreende imenso esforço em desapegar-se dos paradigmas do drama realista – corrente hegemônica dos últimos dois séculos. Leia mais
8.3.2015 | por Valmir Santos
Será sempre um erro de perspectiva explicar a vida de um poeta pelos seus versos. Ou vice-versa, pondera o crítico literário pernambucano Álvaro Lins (1912-1970). A premissa também vale para homens e mulheres que passam décadas apreciando determinada manifestação artística e fundem-se à mesma. Na travessia das 1.224 páginas de Amor ao teatro: Sábato Magaldi (Edições Sesc) divisamos a condição primeira do espectador indissociável da prática e do pensamento do crítico obcecado pela racionalidade em seu instrumental de análise. Leia mais
8.3.2015 | por Daniel Schenker
O diretor Andriy Zholdak parece querer abraçar o mundo em Woyzeck, encenação do texto de Georg Büchner. Esta impressão decorre da utilização assumidamente excessiva dos recursos da teatralidade e, ao mesmo tempo, de um aparente desejo de questionar – e extrapolar – os limites do próprio teatro. Leia mais
7.3.2015 | por Beth Néspoli
Na cena contemporânea não raro depara-se com procedimentos criados para sabotar a compreensão. Quando o problema não é fruto de precariedade, o objetivo é estimular o espectador – quase sempre ávido por construir sentido rapidamente – a descartar os elementos mais facilmente acessáveis de seu repertório cultural e escavar um pouco mais fundo no movimento em direção à obra. Leia mais
6.3.2015 | por Julia Guimarães
Quem acompanhou a temporada do espetáculo Remote SP, apresentado nos arredores do Sesc Belenzinho há pouco mais de um ano, teve uma amostra dos inventivos dispositivos cênicos que o coletivo suíço-alemão Rimini Protokoll costuma criar para suas obras. Leia mais
5.3.2015 | por Afonso Nilson
Para funcionar como narrativa a solidão não pode ser apenas um mote, precisa ser uma potência. Um homem solitário é apenas um homem, um homem solitário com uma história por contar já não mais esta só. Isso é uma regra? Não. Mas no espetáculo A luva e a pedra, do grupo Teatro em Trâmite, parece funcionar muito bem. Diretor e ator da montagem, André Francisco soube se apropriar bem da melancólica trama urdida pelo argentino Quique Fernández, em que um atleta frustrado descamba em uma série de equívocos rumo à ruína, não sem antes mergulhar os espectadores no universo personalíssimo e cômico de suas pretensões, incoerências e purezas quase ingênuas, assim como no seu incomum senso de justiça alimentado pela mortífera força de seu orgulho. Leia mais