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Crítica

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Crítica Militante

Coração em barricada

21.6.2016  |  por Kil Abreu

Em Belém

O Grupo Cuíra fechou recentemente o seu espaço, colado à zona do meretrício, na Riachuelo com a Primeiro de Março, em Belém do Pará. Havia nove anos seus artistas e técnicos reformaram e ocuparam, abrindo ao público, um antigo estacionamento de bingo – incrível inversão ao sentido da época, saudada naquele momento como uma vitória quase inacreditável do teatro sobre a máquina do capital. Leia mais

Crítica Militante

Sopros do fonemol

17.6.2016  |  por Valmir Santos

Um procedimento criativo de que lançou mão há 25 anos retorna feito bumerangue à cena de Antunes Filho. Substituir da boca dos atores o idioma corrente do espectador brasileiro por uma fala ininteligível, sob a alcunha de fonemol, foi o risco que ele assumiu em Nova velha estória, em 1991, relativizando o sistema de representação e o maniqueísmo no conto de fadas de Chapeuzinho Vermelho. Seria imprudente colar à obra sexagenária desse artista o gesto de repetir-se em Blanche Leia mais

Crítica Militante

Vive-se atualmente no Brasil um daqueles momentos históricos em que se torna plenamente possível compreender a força das narrativas socialmente compartilhadas para interferir na imaginação pública. Uma vez criadas, e bem difundidas, podem mudar os rumos da sociedade. Por outro lado, o momento também é propício para pensar como são moldadas tais construções simbólicas. Oferecer ao espectador a possibilidade de um exercício lúdico de aguçamento do espírito crítico sobre esses relatos é um dos principais atributos dos solos do ator Celso Frateschi, O grande inquisidor, e da atriz Denise Weinberg, O testamento de Maria. Leia mais

Crítica Militante

Em Paris

E a deusa Afrodite desce dos saltos da imortalidade à procura de amor.  Busca um amor de natureza bastante particular. O que a move é a atração pelo desprezível, pela sujeira, pela indiferença. Em Phèdre(s), mais recente incursão teatral do encenador polonês Krzyszstof Warlikowski, a deusa opta por encarnar-se mulher, (des)humanizando-se na pele de Fedra. Leia mais

Crítica Militante

Resultado da adaptação do conto homônimo do escritor francês Emmanuel Carrère, O bigode – montagem que ganhou segunda temporada agora, no Teatro Maison de France, depois do período em que permaneceu no Teatro Glauce Rocha, ambos localizados no Centro do Rio de Janeiro – contrasta o procedimento da narração, que sugere pleno domínio da história relatada, com o tema da quebra das certezas, imperante no percurso do protagonista dessa obra, transportada para o cinema pelo autor em 2005. Leia mais

Crítica Militante

Pode-se caminhar através de um festival como através de uma paisagem. (…) O fantasma do curador-uber, corajosamente criando sua própria obra a partir de obras de arte de outras pessoas não deve ser temido no campo performativo, de forma nenhuma. Pelo contrário, existe sim uma falta de coragem para conferir significado – e não é por modéstia, mas por medo da tarefa

Florian Malzacher

No campo da linguagem o trema se configura como um diacrítico, sinal gráfico utilizado em uma letra para alterar sua realização fonética ou demarcar a independência de uma vogal em relação a vogal anterior. Como verbo, tremer, está associado à ideia de agitar, deslocar, provocar ou sentir tremores. Nas duas acepções, uma palavra associada à alteração. Não por acaso, o lema do pernambucano Trema! Festival de Teatro, criado em 2012, tem como frase de sustentação: “Muda a língua, muda o texto, muda a cena”. Leia mais

Crítica Militante

Ela pegou o bonde certo, mas pensou estar errada. Desejo é um subdistrito em New Orleans, Luisiana, no caminho para se chegar à Avenida Champs Elysée, onde vivem Stella e Stanley Kowalski. O bairro chama-se assim em homenagem a Desirée Clary, ex-noiva de Napoleão Bonaparte. Desirée era francesa, como o nome de Blanche Dubois (Bosque Branco) e de sua propriedade perdida em razão de dívidas, Belle Rêve (Belo Sonho). O bonde e a avenida são mencionados uma única vez no texto de Um bonde chamado desejo, de Tennessee Williams. A propriedade, 18 vezes. Leia mais

Crítica Militante

A história da recepção crítica da obra de Qorpo-Santo tem sido a história de sua assimilação a um aparato teórico-poético estranho e anacrônico a ela. Desde sua redescoberta, cem anos após a publicação das peças, o autor gaúcho tem sido lido à luz de correntes europeias modernas, como o teatro do absurdo e o surrealismo, em uma estratégia discursiva que o aliena de seu país e de sua época. A reflexão é oportuna porque, neste 2016, são celebrados os 150 anos da dramaturgia de Qorpo-Santo (suas 17 peças, uma delas inconclusa, foram todas escritas entre janeiro e junho de 1866) e os 50 anos da primeira encenação de sua obra, com a histórica montagem do diretor Antônio Carlos de Sena, em 1966, para três textos (As relações naturais, Eu sou vida; eu não sou morte e Mateus e Mateusa) no Clube de Cultura, histórico reduto de esquerda localizado no bairro Bom Fim, em Porto Alegre[1]. Leia mais

Crítica

Dotados de energia esfuziante, os atores enchem a sala preta do Espaço dos Satyros Um com roupas e cabelos coloridos. Nos rostos, próteses e (muita) maquiagem. Apesar de estarem ali para representar personagens extraídas de situações reais, nada os aproxima de uma encenação naturalista. Ao contrário, a atmosfera de Pessoas sublimes é etérea, nebulosa, lusco-fusco. Aos poucos, o espectador  Leia mais

Crítica

A realidade é o pilar estrutural de Pessoas sublimes, segundo espetáculo da Trilogia das Pessoas realizado pela Cia. de Teatro Os Satyros. Como em Pessoas perfeitas – primeira montagem, que venceu o Shell de melhor texto e o APCA de melhor espetáculo de 2014 –, a peça escrita pelos fundadores Rodolfo García Vázquez, diretor, e Ivam Cabral, ator chave do grupo, é fruto de Leia mais