17.5.2016 | por Ferdinando Martins
Ela pegou o bonde certo, mas pensou estar errada. Desejo é um subdistrito em New Orleans, Luisiana, no caminho para se chegar à Avenida Champs Elysée, onde vivem Stella e Stanley Kowalski. O bairro chama-se assim em homenagem a Desirée Clary, ex-noiva de Napoleão Bonaparte. Desirée era francesa, como o nome de Blanche Dubois (Bosque Branco) e de sua propriedade perdida em razão de dívidas, Belle Rêve (Belo Sonho). O bonde e a avenida são mencionados uma única vez no texto de Um bonde chamado desejo, de Tennessee Williams. A propriedade, 18 vezes. Leia mais
17.5.2016 | por Kil Abreu
Parte I – Esboço histórico
A contemplação da perda de uma força civilizatória não deixa de ser civilizatória a seu modo. Durante muito tempo tendemos a ver a inorganicidade, e a hipótese de sua superação, como um destino particular do Brasil. Agora ela e o naufrágio da hipótese superadora aparecem como o destino da maior parte da humanidade contemporânea, não sendo, nesse sentido, uma experiência secundária.[1]
Um fenômeno interessante e recorrente na história da crítica teatral no Brasil é a ideia de um esperado ou renovado surgimento do “verdadeiro” teatro brasileiro[2]. De José de Alencar a Décio de Almeida Prado, passando pelo projeto iniciado por Alcântara Machado nos anos 20 e 30, a crítica esteve sempre a atestar, de acordo com a visão em voga em cada época, o nascimento de um caminho novo e promissor Leia mais
10.5.2016 | por Fábio Prikladnicki
A história da recepção crítica da obra de Qorpo-Santo tem sido a história de sua assimilação a um aparato teórico-poético estranho e anacrônico a ela. Desde sua redescoberta, cem anos após a publicação das peças, o autor gaúcho tem sido lido à luz de correntes europeias modernas, como o teatro do absurdo e o surrealismo, em uma estratégia discursiva que o aliena de seu país e de sua época. A reflexão é oportuna porque, neste 2016, são celebrados os 150 anos da dramaturgia de Qorpo-Santo (suas 17 peças, uma delas inconclusa, foram todas escritas entre janeiro e junho de 1866) e os 50 anos da primeira encenação de sua obra, com a histórica montagem do diretor Antônio Carlos de Sena, em 1966, para três textos (As relações naturais, Eu sou vida; eu não sou morte e Mateus e Mateusa) no Clube de Cultura, histórico reduto de esquerda localizado no bairro Bom Fim, em Porto Alegre[1]. Leia mais
10.5.2016 | por Dirce Waltrick do Amarante
Entre as muitas atividades do catarinense, radicado no Paraná, Manoel Carlos Karam (1947-2007), estão as de autor e de diretor teatral. Como dramaturgo, escreveu mais de vinte peças ao longo dos anos 1970. É sobre essa atividade que pretendo me deter neste breve ensaio, debruçando-me mais especificamente sobre a peça Duas criaturas gritando no palco, uma vez que ela contém muitos elementos que ressurgem em outros textos dramatúrgicos do escritor. Leia mais
A lista de escritores e artistas cubanos reconhecidos internacionalmente por seus trabalhos é grande e contempla desde escritores como José Lezama Lima, Guillermo Cabrera Infante e Severo Sarduy a perfomers ousadas como Ana Mendieta e Tania Bruguera. Com a retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, imagina-se que outros artistas de grande importância, mas que foram de certa forma obscurecidos pelo regime castrista, virão à tona.
Esse, parece-me, será o caso do romancista, dramaturgo e poeta Virgilio Piñera (1912 -1979), um dos escritores mais originais de Cuba Leia mais
28.4.2016 | por Ferdinando Martins
Dotados de energia esfuziante, os atores enchem a sala preta do Espaço dos Satyros Um com roupas e cabelos coloridos. Nos rostos, próteses e (muita) maquiagem. Apesar de estarem ali para representar personagens extraídas de situações reais, nada os aproxima de uma encenação naturalista. Ao contrário, a atmosfera de Pessoas sublimes é etérea, nebulosa, lusco-fusco. Aos poucos, o espectador Leia mais
28.4.2016 | por Gabriela Mellão
A realidade é o pilar estrutural de Pessoas sublimes, segundo espetáculo da Trilogia das Pessoas realizado pela Cia. de Teatro Os Satyros. Como em Pessoas perfeitas – primeira montagem, que venceu o Shell de melhor texto e o APCA de melhor espetáculo de 2014 –, a peça escrita pelos fundadores Rodolfo García Vázquez, diretor, e Ivam Cabral, ator chave do grupo, é fruto de Leia mais
28.4.2016 | por Valmir Santos
Em suas pedras angulares para uma filosofia da fotografia, o tcheco Vilém Flusser (1920-1991), que viveu mais de três décadas no Brasil, compreende imagem como superfície sobre a qual circula o olhar. O espetáculo Pessoas sublimes, da Companhia de Teatro Os Satyros, faz da mediação imagética o seu “chão de circularidade”, abertura flusseriana para o eterno retorno. Leia mais
16.4.2016 | por Afonso Nilson
Em tempos onde o fascismo se disfarça mais uma vez de legalidade arbitrária, lembrar Brecht e a força política de sua poesia é, no mínimo, oportuno. O espetáculo Récita – tudo aquilo que chama a atenção, atrai e prende olhar, com atuação e direção de Bárbara Biscaro, transita entre o recital (como o próprio nome pressupõe) e a bufonaria. Canções de Kurt Weill (1900-1950) e Bertolt Brecht (1898-1956) recebem um tratamento revestido de comicidade burlesca, jogos vocais e interpretação clownesca. Leia mais
14.4.2016 | por Fernando Marques
As relações entre o dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616) e o pensador francês Michel de Montaigne (1533-1592), autor dos Ensaios, evidenciam-se em passagem breve, mas significativa, da comédia A tempestade, uma das últimas obras de Shakespeare, datada de 1611.[i] Os dois escritores prefiguram uma consciência política moderna, com os valores éticos a ela associados. Leia mais