22.3.2021 | por Valmir Santos
Em certo momento de Ô, bença!, a narradora, uma artesã, detalha como dá forma a uma boneca a partir do barro. Começa pelo pé e avança por tronco, braços, mãos, ombros e, afinal, a cabeça, “pra ajudá o corpo a pensá”. As imagens pensam permanentemente nessa autodeclarada micropeça concebida, roteirizada e atuada por Bya Braga, que partilha a direção com Alexandre Brum Correa.
Leia mais13.3.2021 | por Valmir Santos
Estamos vivas é uma criação solo do coletivo Atuadoras que subverte a violência sistêmica à mulher. Toma daquelas armas para pôr fim aos privilégios do patriarcado, como parte da sociedade vem cobrando conscientemente seus direitos. Na peça, a narradora é assassina serial de estupradores, feminicidas e abusadores de esposas, namoradas, filhas e outras tantas cidadãs. Opera com tirocínio de quem matou por vingança e reagiu movida, deliberadamente, pelas sujeições que sofreu desde a infância, dentro de casa, assim como viu acontecer com outras pessoas da família, na vizinhança e no espaço público em geral.
Leia mais12.3.2021 | por Valmir Santos
Em junho de 2020, coletivo de artistas independentes associados à Cooperativa Paulista de Teatro (CPT) reuniu personalidades da arte e da cultura, a partir de suas casas e celulares, para compor o curta-metragem Viver é urgente!. Um chamado à consciência crítica sobre as desigualdades sociais e a lógica do capitalismo que torna os efeitos da pandemia ainda mais perversos entre os brasileiros, somados à imoralidade do bolsonarismo e seu culto à morte. Oito meses depois, uma segunda criação, Viver é mais que urgente!, nascida sob o mesmo espírito colaborativo, incorpora médicos infectologistas, pneumologistas e sanitaristas para reafirmar, sem vaticínio, o papel da vacina neste momento da história mundial. No primeiro videoclipe, ela sequer era mencionada e o país ultrapassava 51 mil mortos em consequência do novo coronavírus. Ontem, eram 273 mil óbitos por Covid-19, e apenas 2,3% da população havia tomado a segunda dose. Especialistas estimam um teto de 60% a 70% para começar a controlar o microrganismo SARS-CoV-2 e cortar a transmissão.
Leia mais3.3.2021 | por Kil Abreu
Neste momento não se pode começar um texto sobre crítica e sobre críticos senão reafirmando o estado atual das coisas. Que alcança a crítica mas vem antes e está além. Para nós que não nos sentimos capturados pelas políticas da morte (o que não nos faz melhores), a sensação é de que o humano está sendo devastado pela doença e pelo assassinato como política de Estado. Ponto crítico. É um momento da democracia em que se pode parafrasear os versos daquela canção falando sobre o aqui que ainda era construção, mas já é ruína. Os mais politizados perguntarão, com razão: “Mas quando não foi assim?”. A diferença fundamental é que no agora, como em poucos outros agoras, a ordem autoritária monta estratégias próprias. A matança, como sempre, tem endereços prioritários. Não cabe descer aqui a pormenores, não é o tema, mas cabe lembrar – não é questão de querer ou não – que este é forçosamente também o sítio da crítica. E a crítica não deve querer estar em suspenso sobre a nervatura do real, deve fazer parte dela.
Leia mais26.2.2021 | por Maria Eugênia de Menezes
O trajeto percorrido pelo site Teatrojornal durante sua primeira década está exemplarmente exposto em seu próprio nome. Valmir Santos, Beth Néspoli e eu, que compartilhamos a edição da plataforma, fomos seduzidos inicialmente pelo teatro. Depois, passamos ao universo do jornal, com suas técnicas e regras. Para mais adiante, encerrados nossos ciclos dentro das redações, habitarmos um lugar de síntese, onde pretendíamos que os dois universos se comunicassem.
Leia mais19.2.2021 | por Rosa Primo
Inicio esse texto no dia “D”, na hora “H”, como batizou o gênio da logística, ministro da saúde Eduardo Pazuello naquele 11 de janeiro. O enigma do “D”, contudo, não foi anunciado pelo ministro. À frente, o governador de São Paulo, João Doria, se antecipou e desfila hoje seus mocassins Ralph Lauren como quem encena o antigo mito grego no misterioso ultimato de Tebas: “Decifra-me ou te devoro”. O dia “D”, era o dia de Doria. As imagens da TV me atropelavam junto com as mensagens de amigos que, tomados de emoção no “H” da hora cênica, compunham o coro daqueles que desconheciam o distanciamento brechtiano. O distanciamento do teatro épico reserva uma certa frieza se comparado ao distanciamento como medida para reduzir o avanço da Covid-19. A vacina chegou! E junto com ela o imperativo da emergência: lutar pela vida ameaçada pelo vírus. Era domingo, dia 17 de janeiro, seis dias depois que Pazuello lançou o enigma.
Leia mais17.2.2021 | por Valmir Santos
A rigor, desde a quinta série a poeta e ensaísta Leda Maria Martins aprendeu como a força bruta também se impõe por meio de ações, gestos, imagens, silenciamentos e outras formas pensantes. Alguns de seus professores foram “desaparecendo” da sala de aula à medida que expressavam consciência crítica sob o tacão da ditadura civil-militar. Como contraponto a essa e a outras opressões, combatidas vida adentro, a estudante de escola pública nascida no Rio de Janeiro e crescida em Belo Horizonte teve sua formação humanística forjada nas culturas do samba carioca e do reinado/congado mineiro, fontes primárias benzidas pela mãe, Alzira Germana Martins, coroada Rainha de Nossa Senhora das Mercês por iniciativa dos membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá.
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