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Solo de Marajó, direção de Alberto Silva Neto, com o Grupo Usina (ator Claudio Barros)

Crítica

Não carece, necessariamente, ter lido o romance Marajó, do paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979), para os sentidos e a imaginação se aguçarem durante o espetáculo Solo de Marajó, que estreou em 2009, no centenário de nascimento do autor, e segue no repertório do Grupo Usina, de Belém. A confluência de literatura e teatro dá vasão a encantamentos forjados no saber popular de comunidades da Ilha do Marajó, na segunda década do século XX. Assim como são flagrantes os marcadores sociais de subalternidade em corpos indígenas e negros, principalmente femininos.

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Reportagem

“É a história, senhoras e senhores jurados, de uma mulher fantasma. Uma mulher que ninguém vê, que ninguém conhece. É a história de um lento desaparecimento. Uma trágica descida ao inferno, no qual a mãe leva a filha. Esta mulher cometeu o pior: um infanticídio. Ela matou a filha, e reconhece. É insuportável para nós e ultrapassa o entendimento. Uma mãe que se autoriza a matar a própria cria, só podemos vê-la como sendo um monstro. E um monstro deve ser morto. Então, abram um código penal e a condenem. Mas, se o fizerem, senhoras e senhores, vocês terão feito um julgamento sem justiça. Vocês terão respondido apenas à questão mais fácil, e não a que sua responsabilidade de jurado o obriga a fazer. Se você não conseguir se fazer essa pergunta, ficará na praia atordoado com o horror do crime”.

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Teste

Crítica

Para Dias Gomes, não existe “nada mais fugidio, mais inconsistente, mais impalpável” que a memória. Esta permeia seu campo de invenção com perenidade, como se constata na 57ª Ocupação Itaú Cultural, que ficaria em cartaz até 15 de janeiro de 2023 – marco dos cem anos de nascimento do escritor baiano – e acaba de ser prorrogada até 31 daquele mês. A mostra examina a contribuição do dramaturgo em diversos campos artísticos, passando pelo teatro, cinema, rádio, literatura e televisão.

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Artigo

As revistas e comédias musicais de autores como Cardoso de Menezes e Luiz Peixoto, espetáculos risonhos, tiveram seu contraponto nas peças do carioca Roberto Gomes (1882-1922), um dos dramaturgos de inspiração simbolista atuantes nas primeiras décadas do século passado. A atmosfera soturna e crepuscular compõe o cenário preferencial das oito peças deixadas por ele, também crítico de música e teatro, contemporâneo de João do Rio (1881-1921) e Paulo Gonçalves (1897-1927). Seus 100 anos de morte completam-se em 31 de dezembro.

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Artigo

Panorama do teatro brasileiro completa 60 anos de sua publicação (Difel, 1962). É uma das obras centrais entre as escritas pelo crítico, professor e historiador Sábato Magaldi (1927-2016) e referência para a história do teatro no Brasil. O livro é a um só tempo síntese histórica e roteiro de trabalho. Organiza, aprofunda, desdobra os estudos que o autor já vinha desenvolvendo desde que começara a escrever no Diário Carioca, em princípio dos anos de 1950, e, depois, em mais de 20 anos de colaboração com o Jornal da Tarde, de São Paulo, a partir de 1966. A atividade jornalística seria complementada pela participação junto ao Suplemento Literário, do jornal O Estado de S. Paulo.

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Reportagem

“Eu prefiro dançar a falar. Nasci no Benin e cresci no Senegal. Essas duas identidades, das quais sou muito orgulhosa, são a base da minha técnica. Deixei meu país de origem aos 7 anos e, na escola, durante o intervalo, as meninas não falavam a mesma língua que eu. Quando dançava no meio delas, nas brincadeiras infantis, via as árvores dançarem e sugeria movimentos semelhantes. Elas me chamavam de Doff bi [‘louca’, em wolof, língua falada na África Ocidental], mas vinham procurar pela louca que dançava e tentavam me imitar”.

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Reportagem

O texto a seguir é a transcrição editada da mesa de lançamento do livro Sobre antigas formas em novos tempos: o teatro do oprimido hoje, entre “ensaio da revolução” e técnica interativa de domesticação das vítimas (Hucitec Editora, 2022), ocorrida em 24 de agosto de 2022, no Teatro da Universidade de São Paulo, o Tusp. Na ocasião, o autor Julian Boal convidou a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl, o diretor e professor de teatro Marco Antonio Rodrigues e o pesquisador nas áreas de teatro e história Douglas Estevam, integrante da coordenação nacional de cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Brigada Nacional Patativa do Assaré de Teatro, a reagirem a alguns dos capítulos da obra.

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Artigo

Após quatro anos – e uma pandemia no meio do caminho –, a cidade de Santos (SP) voltou a receber o Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas. Entre 9 e 18 de setembro aconteceram espetáculos, ações formativas, performances, lançamentos de livros e um encontro de programadores, além de outras atividades. O evento, organizado pelo Sesc São Paulo, envolveu artistas de 11 países e de diversos estados brasileiros. Ou seja, uma oportunidade e tanta para refletir sobre a necessidade da arte nesses tempos incertos.

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Crítica

Parece ter chegado o tempo em que, finalmente, negras e negros brasileiros engajados em diferentes campos e artes passam a considerar a importância das pautas dos povos originários – ou dos “negros da terra”, como indígenas foram sintomaticamente “apelidados” pelos colonizadores – nas lutas por igualdades raciais e sociais no país. A peça Améfrica: Em três atos, encenação do Coletivo Legítima Defesa sob a direção de Eugênio Lima, é exemplo dessa tendência salutar e dos desafios para o equilíbrio das cosmovisões, simbolismos e narrativas ameríndias e afro-brasileiras na empreitada.

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Crítica

A condição da margem

3.9.2022  |  por Valmir Santos

Em Órfãs de dinheiro, o teatro está para o conto assim como este, para a literatura. O enxugamento intrínseco da narrativa breve, em que menos é mais, corresponde à tática de linguagem na concepção, texto e atuação de Inês Peixoto. Três histórias compõem o monólogo sobre mulheres subjugadas por estruturas patriarcais na família ou na sociedade sob condicionantes como honra, sexo, pobreza e xenofobia.

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