Menu

Crítica

O teatro afeta 3% da população. A afirmação do diretor francês Mohamed El Kathib, em uma entrevista ao jornal Libèration, dá conta de sua visão sobre os limites das artes cênicas. Se o teatro afeta 3% da população – e estamos olhando aqui para o contexto europeu – qual o sentido pragmático de se falar de um teatro político hoje? Distante do seu passado de arte de massas, o teatro teria hoje outros propósitos. Um deles, parece crer Khatib, é promover o encontro entre pessoas que dificilmente teriam outras chances de se encontrar. Em Estádio (Stadium), espetáculo que abriu a 8ª MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, esse é certamente um motor.

Leia mais

Reportagem

Circuito alternativo que nasceu em torno das atividades da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a FarOFFa sempre se colocou por entre as frestas. Seja pelo seu caráter de festival paralelo, seja por experimentar formatos diversos ou mesmo pelo singelo jogo de palavras no nome – essa mistura do tempero brasileiro com o off, a ideia de alternativo.

Leia mais

Crítica

Em um sistema-mundo disciplinador dos corpos e em um país que, por mais neurótico que se mostre quanto a isto, tem grande parte de sua memória e conhecimento calcados em manifestações culturais afro-indígenas de forte expressividade física, a montagem de obras teatrais que prescindem da verbalização para explorar outras potentes formas de contar estórias poderiam ser mais frequentes. Essa é uma das conclusões possíveis após assistir à peça Cárcere ou Porque as mulheres viram búfalos, encenação da dramaturgia de Dione Carlos pela Companhia de Teatro Heliópolis, sob a direção de Miguel Rocha, em cartaz na Casa Mariajosé de Carvalho, sede do grupo em São Paulo.

Leia mais

Crítica

Quando a dona de casa Romana fica sabendo da prisão de seu companheiro em Eles não usam black-tie (1958), ela não tem dúvidas. Tira o avental e ruma para a delegacia a fim de libertar Otávio, uma das lideranças na greve dos trabalhadores de uma fábrica carioca nos anos 1950. “Eu sô mulher dele, num sô? Eu vou lá! Meu marido preso, quem é que cuida disso aqui? Eu vou já!”, afirma a moradora de uma favela no morro. Em seguida, a namorada de seu caçula, Terezinha, irrompe dizendo que a molecada da rua pisou e sujou toda a roupa estendida. “Se eu pego um desses moleques eu torço o pescoço. Terezinha, meu anjo, vem cá! Tu dá um jeito na roupa pra mim, dá uma enxaguada. Depois, tu põe o feijão no fogo mais o arroz, tá bom? Eu vou até a polícia”. E vai para uma unidade do Departamento de Ordem Política e Social, o Dops, órgão do Estado que praticava repressão e tortura a movimentos sociais e militantes políticos. “Vamo depressa se não ele entra na pancada! Cuida do feijão, Terezinha, fogo baixo!”, continua. Num exercício de imaginação, Romana seria mais uma Maria entre Maria Das Dores e Maria Dos Prazeres, as irmãs gêmeas de CÁRCERE ou Porque as mulheres viram búfalos, espetáculo mais recente da Companhia de Teatro Heliópolis, a CTH.

Leia mais

Artigo

Coimbra – Era 1989 e eu chegava à cidade de João Pessoa para concluir o ensino médio, vinda de Patos, no sertão da Paraíba. Aprendia a falar, a ouvir, mesmo sabendo desses sentidos que não se ensinam, em espaços de troca e nos processos do teatro, nas aulas do curso de formação de atores (e atrizes) da Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego, coordenado por Roberto Cartaxo e com a presença, silenciosa sempre, de Luiz Carlos Cândido.

Leia mais

Reportagem

Paris – “Isso não é uma fábula. A ilha do ouro realmente existe? Onde ela está? Desta vez está em águas japonesas. Sim, ela existe. Não é a primeira vez. Já existiu (e existirá novamente) mais de uma vez na longa crônica de nossos Astros e Desastres. Sempre que o mundo está perto da autodestruição, muitos defensores da esperança, nada loucos, lutam para encontrar a arca ou o navio. Vamos à Ilha, parece um exílio, é um refúgio e um recomeço.”

Assim escreve a poeta e dramaturga franco-argelina Hélène Cixous no texto Rápido, uma ilha!, como parte do programa de L’île d’or, Kanemu-Jima (A ilha do ouro, Kanemu-Jima), mais recente criação coletiva do Théâtre du Soleil, de Paris.

Leia mais

Resenha

Prólogo

“Não vão nos matar agora”, diz Jota Mombaça, “apesar de que já nos matam”.

“A gente combinamos de não morrer”, fala Dorvi, rapaz da quebrada, personagem de Conceição Evaristo em Olhos d’água (Pallas, 2014), sobre o pacto feito com os companheiros. “Morremos nós, apesar de que a gente combinamos de não morrer”.

“Não vão nos matar agora porque ainda estamos aqui”, reafirma Mombaça.

Leia mais

Artigo

Lenise por Elenize

29.4.2022  |  por Elenize Dezgeniski

O texto a seguir foi apresentado durante a mesa ‘Viva! 30 anos por Lenise Pinheiro’, que aconteceu em 29 de março de 2022, na Alfaiataria Espaço de Artes, extensiva à exposição de mesmo nome dentro da programação do circuito Interlocuções do Festival de Curitiba.

*

Quero começar dizendo que é uma honra fazer parte desta mesa em celebração ao trabalho da fotógrafa de palco Lenise Pinheiro, que por sua vez celebra os 30 anos do Festival de Curitiba. Cumprimento os meus colegas Daniel Sorrentino e Maringas Maciel, companheiros do mesmo ofício nesta terra das Araucárias. E também o produtor cultural Celso Curi, mediador do encontro. Bem como agradeço à atriz Giovana Soar e à equipe do Interlocuções pelo convite.

Leia mais

Crítica

O mundo como palco ou moinho, posto que a vida é sonho. Shakespeare, Cartola e Calderón de La Barca são divisados em Derrota, espetáculo com artistas de Porto Alegre visto no Festival de Curitiba. No texto em prosa de Dimítris Dimitriádis (Grécia, 1944), sono e vigília perfazem a voz investida em se fazer escutar, eixo da linguagem na transposição ao monólogo teatral. A atuação de Liane Venturella, sob tradução e direção de Camila Bauer, veicula a palavra como organismo extensivo ao olhar, para além dos sentidos da escuta.

Leia mais

Crítica

Razão ilhada

25.3.2022  |  por Valmir Santos

Feito pássaros que manobram durante o voo, controlando suas asas, Donizeti Mazonas e Edgar Castro equilibram-se numa área de pouco mais de metro de diâmetro, a metro e meio do tablado. O palquinho suspenso, um monolito circular metálico concebido pelo cenógrafo Eliseu Weide e como que expandido pela iluminação de Wagner Antonio, vira epicentro espaçotemporal do espetáculo Com os bolsos cheios de pão.

Leia mais